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Vaidade infantil

A pequena Gabriela começou a se interessar por maquiagem quando tinha três anos. Ao observar a mãe se maquiar, ela começou a passar batom para imitá-la. Depois veio o blush, a sombra e a vaidade da garota não parou de crescer. Aos seis anos, ela não só se interessa por maquiagem como também por esmaltes, roupas, sapatos, bolsas e acessórios.

"A Gabi gosta bastante de fazer escova e chapinha. Se deixar, quer fazer sempre", conta a mãe, Cícera Figueiredo Carvalho. Para completar, a garota não dispensa uma ida ao shopping. "Sempre que vamos, ela diz que precisa de uma bolsa nova e também adora opinar nas minhas roupas. Parece gente grande."

Assim como muitas meninas de sua geração, Gabi se cuida desde cedo. No entanto, apesar de enxergar a vaidade como uma coisa positiva, a mãe afirma que impõe limites para que a preocupação com a aparência não se torne exagero. "Acho bacana. Afinal, a sociedade e a mídia de certa forma incentivam as crianças a serem vaidosas desde pequenas", acredita Cícera, ressaltando que procura sempre explicar que o exagero nunca é bom. "Eu sempre mostro que ela é criança e não pode fazer tudo o que um adulto faz. A Gabi é bem esperta e entende."

Brincando de ser adulto

O cuidado de Cícera com a vaidade de Gabi é fundamental para que a garota cresça com os pés no chão. É no que acredita Myriam Bove Fernandes, psicóloga e coordenadora do Instituto Gestalt de São Paulo. "Existe um excesso de badalação em torno da aparência, e isso tem consequências na formação de uma criança." Ela afirma que as gerações anteriores tinham mais liberdade de brincar e de "ser criança", mas atualmente, com o confinamento em casa e o aumento da exposição à televisão e ao computador, o culto à aparência é cada vez mais estimulado. "Os pais não ficam em casa, e as crianças precisam de modelos, de pessoas em quem se espelhar. Com isso, elas podem buscar o espelho nesses locais."

Imitar os adultos é natural e saudável, segundo a psicóloga. Portanto, a vaidade não é uma coisa ruim - desde que tenha limites. "Seguir um modelo é muito importante para a constituição de uma identidade de gênero, mas as crianças precisam de tempo para serem apenas crianças." Myriam diz que os pequenos que já chegam à adolescência envolvidos demais pelo culto à beleza podem ter sérios danos comportamentais. "Os pais precisam preparar os filhos para o convívio em sociedade, e a vaidade é apenas parte disso, não o mais importante. Um adolescente que só é valorizado pela sua aparência é injustiçado, e vice-versa. Os extremos são nocivos, e para evitá-los é preciso ter limites e manter os pés no chão."

Para a professora Grace Lagnado, psicóloga responsável pelo curso "A Psique da Criança" da Casa do Saber, muitas vezes os pais projetam seus próprios ideais nos filhos, o que pode ocasionar em excesso de vaidade. Ela também aponta o consumismo da sociedade como um dos responsáveis: "Freud já havia dito que sempre se é filho da época em que se vive, e a nossa atualidade é marcada pelo predomínio da imagem, de forma que a perfeição passa a representar toda a felicidade do ser humano". Grace diz que o sinal de alerta dos pais pode começar a piscar quando a vaidade deixa de ser uma brincadeira e se torna uma necessidade. "Se o que é característico da adolescência [como a vaidade] for antecipado na infância, isso pode gerar desequilíbrios e fragilidades narcisistas."

Vaidade com limites

Ana Célia Campos, mãe de Isabella, cinco anos, garante que a filha até começou a se maquiar por sua influência, mas que hoje a menina é mais vaidosa que ela. "Eu só me maquio para trabalhar. Acho que nesse ponto ela se espelha mais nas amigas do que em mim."

A mãe conta que Isabella teve seu primeiro contato com cosméticos aos três anos, ao pegar um batom e pintou os dois braços. Hoje, ela também gosta de passar perfume, usar cremes para o cabelo e fazer as unhas. "Ela vai ao salão e escolhe sozinha as cores de esmalte. Se deixar, ela passa vermelho, mas eu não deixo. Só tons de rosa e lilás."

Apesar de permitir a vaidade da menina, Ana Célia diz que se preocupa com os excessos. "Eu deixo esporadicamente, quando vamos a uma festa, por exemplo. Mas acho que não devo incentivá-la, pois ela é muito pequena", afirma. A mãe chegou a fazer um pequeno camarim no último aniversário da filha, onde fez toda a produção dela e de suas amigas.

"A Isabella sabe que existe um limite. Uma vez, uma amiguinha dela apareceu em casa com o olho muito pintado de azul, e ela mesma disse que a garota estava feia, parecendo um palhaço." Iramaia de Freitas, mãe de Letícia, sete anos, começou a se preocupar mais com a vaidade da filha depois que a garota teve uma alergia no olho.

"Sempre deixei que ela passasse as minhas maquiagens, mas agora estou controlando mais." Ela conta que a garota se espelha muito nela no quesito visual, mas não permite que Letícia extrapole o bom-senso. "Tem menina que se maquia e se veste muito como adulto, tanto que eu nem sei dizer se é a mãe ou a criança que gosta desse tipo de visual. A vaidade é bacana quando não existe exagero."

Dicas de quem entende do assunto

A Dra. Maria Paula Del Nero, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, não recomenda o uso de maquiagem em crianças com menos de dez anos. No entanto, ela afirma que é possível fazer uso seguro de produtos de beleza na
meninada. "Existem cosméticos direcionados para o público infantil, como os produtos minerais, que não possuem conservantes e corantes", explica.

Ela também recomenda que a criança sempre remova os produtos da pele com água ou de maquilante, já que a maquiagem pode obstruir os poros e facilitar o surgimento de alergias ou acne. No caso dos esmaltes, a dica é optar por produtos antialérgicos. "O que não podemos deixar de incentivar é o uso de hidratante e protetor solar por baixo da maquiagem, para cuidar e proteger a pele desde cedo", completa a especialista.