Os medos de ser mãe
A gravidez, para algumas mulheres, é marcada por um estado de tensão e neuroses constantes. Mas longe de ser considerado um sintoma de "faniquito", sentir medo durante os nove meses de gestação pode estar ligado a contextos emocionais e até culturais. É o que afirma o Dr. Geraldo Mota de Carvalho, coordenador do curso de obstetrícia do Centro Universitário São Camilo e um dos organizadores do livro Ser Gestante: refletindo o cuidado da gestação ao nascimento.
"Os medos na gravidez ocorrem devido à expectativa das grandes mudanças que acontecem. Elas envolvem diversos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. A mulher passa por uma revolução hormonal e por profundas alterações em sua estrutura corporal. Passa a se ver e a ser vista de uma maneira diferente, em um novo papel social: o de mãe. Esta reorganização de identidade pode assustar e causar alterações de comportamento", diz o especialista. As causas para essas alterações são explicadas pela psiquiatria, segundo a qual o medo está intimamente ligado aos momentos de ansiedade, que ficam ainda mais aflorados durante a gravidez.
De acordo com o Dr. Carvalho, a medicina costuma dividir essas pequenas fobias em três fases básicas, que são classificadas de acordo com o período de gestação. "No início da gravidez, os principais medos das mulheres são: saber se engravidou mesmo, se há possibilidades de abortos espontâneos, de má formação do feto e se a alimentação está correta", diz ele. As temáticas começam a mudar depois de quatro meses e meio, quando o principal temor é saber se a criança está se mexendo ou não.
"Quando vai chegando o parto, porém, tudo se reverte para esse momento e só então a mulher pensa na dor do parto normal ou na preocupação de ter uma cesariana", explica. Entretanto, por mais que os temores possam ser enquadrados em determinadas fases, vários fatores podem influir para quebrar a tranquilidade das futuras mamães. Segundo os especialistas, esse é um momento em que a mulher passa a somatizar muito os fatos que a rodeiam. No caso de instabilidade financeira, conjugal, problemas com a família e com os outros filhos, além de uma gravidez não planejada, toda a tensão pode desaguar numa enxurrada de medos.
"Até mesmo experiências de gravidez de outras pessoas que não tiveram êxito na família podem influenciar. Já vi casos de grávidas que estavam em um ótimo estado, mas que as mães acompanhantes as colocavam em pânico com coisas tolas, baseadas no histórico de gestações complicadas na família." Por isso, é imprescindível que a gestante esteja rodeada por pessoas tranquilas e que lhe transmitam serenidade. O pai da criança também tem um papel fundamental no acompanhamento da gestação.
A grávida deve se sentir querida, amada e com a gestação desejada para que tenha um desenvolvimento mais calmo. Da mesma forma, mulheres muito novas, em idades mais avançadas ou com um histórico de abortos precisam de um acompanhamento psicológico mais atencioso. "Sempre converse com seu médico sobre suas tensões, acerca daquilo que está lhe preocupando. E se achar que os medos estão roubando mais horas de seu sono do que o merecido não hesite em procurar ajuda especializada. O momento da gravidez é para ser curtido, e não para virar uma fonte de neuroses", diz o médico.