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Mães modernas

Olhe ao seu redor. Lá estão elas: circulando de tailleur alinhado e salto alto. De tênis e tatuagens. Com o corpo definido pela academia. Encarando plateias de duas mil pessoas em palestras. Namorando. Administrando o próprio negócio. E tendo filhos. As mães modernas da primeira década do século 21 em nada lembram o estereótipo da rainha do lar, da mulher santa e devotada que padece no paraíso. Atualmente, 51% das mulheres brasileiras são mães e elas estão cada vez mais independentes, multifacetadas e ocupadas.

Influenciadas pelas lutas feministas do século passado - que colocaram as mulheres no centro de questões políticas e socioculturais e deram espaço para suas conquistas -, as mães modernas têm em seu DNA a vontade de vencer por mérito próprio. Correm contra o tempo para assumir tantas atividades e são, muitas vezes, as principais provedoras do lar. Em dez anos, o número de mulheres na condição de chefe de família subiu de 25,9% para 34,9%, segundo o IBGE.

No mercado de trabalho, cada vez mais elas assumem cargos de chefia. Pesquisa da agência de empregos Catho mostra que quase 60% das mulheres que comandam são mães. "Até por conta da vivência familiar, as mulheres têm características importantes na gestão de pessoas. Para ser líder, além de ótimo profissional, você tem de ser bom com gente", explica Carolina Stilhano, gerente de comunicação da Catho.

Mais que sustentar os filhos, ascender profissionalmente é uma forma de realização pessoal. Segundo pesquisa do Ibope Mídia, 90% das mulheres disseram que o trabalho é fundamental para se sentirem completas. E quando o assunto é maternidade, elas também são responsáveis por redefinir os paradigmas e conceitos do que significa ser mãe. Foi-se o tempo em que a maternidade era uma obrigação, ou que emancipação significava renegar os filhos e se dedicar somente ao trabalho.

As mulheres desse século querem a felicidade e as angústias de ambos. E podem. Hoje, é uma questão de escolha, de prioridade e de atitude optar por engravidar ou adotar em qualquer época da vida. As mães retratadas a seguir, traduzem, cada uma com sua história, o que é a maternidade no século 21.

Luciana Sabongi, 43 anos, professora e bailarina de dança do ventre. Mãe de Yasmim, 21 anos, Yane, 15 anos, Maya, 13 anos e Eva, de um ano

Rotina, ainda que Maluca 

Luciana Sabongi, 43 anos, é mãe de cinco filhos (um deles falecido). Há um ano e meio teve a caçula, Eva. Lulu, como prefere ser chamada, faz parte de uma estatística que indica mais uma mudança no perfil das mães modernas: mulheres que engravidam depois dos 40 anos. Segundo o IBGE, o número de partos de mulheres que engravidam depois dos 40 anos dobrou entre 1999 e 2007, principalmente por conta do aprimoramento da técnica de reprodução assistida e da preocupação com a profissão.

O trabalho, aliás, é a razão pela qual Luciana passa um bom tempo fora de casa, já que viaja o Brasil e o mundo se apresentando. Lulu conta que já se sentiu muito culpada por ficar tanto tempo fora, e que essa culpa acabou gerando um problema: a dificuldade em estabelecer limites. E essa não é uma constatação só dela: o Ibope aponta que 87% das mães veem a falta de limites como um problema nos filhos.

Mesmo tendo horários de trabalho pouco convencionais, Lulu consegue fazer com que a casa e os filhos tenham uma rotina. "Mostro a eles que todos têm de fazer sua parte. Eu a minha, eles as deles", explica. Lucila Scavone, socióloga e livre-docente da Unesp, concorda.

"Os filhos veem o exemplo. Se elas enxergam nos pais pessoas felizes, a tendência é que entendam que a rotina, mesmo maluca, é algo bom. Educação se dá muito por meio de exemplos", afirma a socióloga.

Para dar conta da criação das crianças, a bailarina conta com uma ajudante, a quem chama de "anjo da guarda". "Atualmente, a sociedade exige que se tenha uma equipe de amparo na criação dos filhos. A mãe moderna tem, como a de antigamente, uma ama. O que muda é o contexto social", analisa a socióloga Lucila. 

Com AUTONOMIA


Giovana Belucci, 25 anos, produtora de moda, mãe de Lorenzo, casada há um ano

Foi no susto que Giovana Belucci, 24 anos, "decidiu" ser mãe. Quando descobriu que estava grávida, ela, que é autônoma, tinha uma rotina muito agitada. Além dos muitos trabalhos como produtora, ela se dividia entre um brechó e alguns compromissos esporádicos. Mas esse não foi o único susto. Na época, Giovana namorava há apenas três meses. "Apesar de estável, era uma relação muito curta. Havia uma ansiedade, afinal é normal a gente questionar como as coisas vão ficar, como vai ser e tal. Mas agora, no final da gravidez, percebo que o bebê só vem agregar", conta. 

Como Giovana, 41% das mães brasileiras que trabalham são autônomas, segundo dados do Ibope. E, ainda que não possam largar tudo - já que não contam com benefícios como férias e licença maternidade -, cuidar dos filhos é uma prioridade. A produtora de moda, por exemplo, vai privilegiar a maternidade mesmo sabendo que sua carreira pode ficar de lado por um tempo. "Ao contrário de muitas amigas, eu decidi cuidar primeiro do meu filho e depois da profissão", afirma. "Eu tenho um ritmo de trabalho corrido. Por ser autônoma, posso desacelerar, se eu quiser. Fico um tempo fora do mercado, talvez perca contatos, mas depois vou conseguir voltar", diz, otimista. "Em alguns quesitos, a mulher do século 21 mantém características bastante tradicionais, só que sob uma nova roupagem", afirma a psicanalista Malvine Zalcberg.


Para esta nova empreitada, Giovana conta com a ajuda do marido. "Temos sorte de ter essa liberdade de horários. Justamente por dependermos só da gente, tudo fica imprevisível. Mas tenho minha mãe, que mora perto e muitos amigos queridos, que podem ajudar. Não será tão assustador", acredita.

Uma questão de ESCOLHA


Ana Carolina Pelegrini Marsiglia, 31 anos, professora de ginástica e personal trainer, mãe de Lohana, 11 anos e Luan Ravi, na barriga

Retardar a hora de ser mãe e buscar a realização profissional e pessoal faz parte da realidade de muitas mulheres brasileiras. Segundo dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), as mulheres têm cada vez menos filhos. Da década de 60 para cá, a taxa de fecundidade das brasileiras caiu de 6,3 filhos por mulher para 1,89. "Às mulheres de hoje é dada uma grande liberdade de escolha: elas decidem se querem, quando ou com quem ter filhos", ressalta Malvine Zalcberg, psicanalista e autora do livro "Amor Paixão Feminista" (Ed. Campus). Foi fazendo escolhas que Ana Carolina Pelegrini Marsiglia, aos 20 anos, teve sua primeira filha. Hoje, aos 31, está grávida novamente. "Eu e o pai da Lohana namorávamos há algum tempo. Apesar de nos gostarmos, era um namoro muito infantil. Eu decidi ter um filho e ele aceitou. Obviamente, não tínhamos noção nenhuma do que significava, do trabalho que daria", conta. 

Por isso, quando se casou novamente, Ana não tinha pressa em engravidar, apesar dos apelos do marido. O foco era seu desenvolvimento profissional - ela trabalha como professora de ginástica e personal trainer. "Ter um filho era um desejo do meu marido. Eu já tinha a Lohana e estava tudo bem, pensava apenas na minha profissão. Mas chegou um momento no qual eu achei que nossa relação merecia isso, e decidi engravidar novamente. Está sendo ótimo", diverte-se.

Por causa da gravidez, Ana Carolina optou pela flexibilidade na sua rotina - mesmo que isso signifique horários bem diferentes dos convencionais. "De manhã trabalho em duas academias, à tarde dedico meu tempo à minha filha, à gravidez, enfim, cuido das minhas coisas. À noite, saio de novo para trabalhar."

Administrando TUDO


Nina Sayuri Fernandes Urasaki, 26 anos, empresária, mãe de Marina, de cinco meses

Quando engravidou, Nina Sayuri Fernandes Urasaki estava casada há um ano. Recém-chegada do Japão, onde viveu por sete meses, ela estava focada em cuidar de seu bar e em voltar a estudar quando descobriu que estava esperando um filho. "Tive de mudar tudo. Deixei de trabalhar à noite, fiquei mais na parte administrativa do negócio", conta. Nina leva a pequena Marina ao trabalho, porque durante o dia não tem com quem deixá-la. "Ela fica na cadeirinha, quietinha. Quando chora, eu paro o que estiver fazendo para atendê-la. Afinal, ela é minha prioridade."

Quando está em casa, Nina conta com a ajuda do marido para cuidar do bebê. "O Fernando levanta à noite para buscá-la e trazê-la para eu amamentar. Ele troca a fralda, dá banho. Pai tem de participar, e ele procura fazer muito isso", afirma. Segundo Lucila Scavone, as novas mães acabaram criando também outro tipo de pai, mais participativo. "O novo perfil materno e familiar exigiu dos homens uma participação maior. Hoje você vê mais pais levando os filhos na escola, por exemplo", constata a socióloga.

Apesar de contar com a ajuda do marido, Nina explica que, assim como qualquer mãe, tem suas inseguranças. "O tempo é o nosso maior desafio. A gente tem de administrar tudo, conciliar as tarefas", explica. A educação da pequena Marina é outra preocupação. "Pesa muito essa questão de passar bons valores aos filhos. Temos de dosar as atitudes, não dá para ser xiita de tão rígida ou muito permissiva", pondera. E achar esse equilíbrio é o principal desafio que todas as mães, e não apenas as deste século, vão encontrar pela frente.