Graziella Moretto - mãe, escritora e atriz
Graziella Moretto, está acostumada a arrancar gargalhadas das pessoas desde que subiu aos palcos pela primeira vez, aos 14 anos. Mas agora, essa atriz de 33 anos, que é considerada uma revelação no humor nacional no teatro, TV e cinema, tem como foco promover a alegria de uma fã especial: Nina, a filha de 2 anos e 3 meses, cuja gestação, em 2005, lhe trouxe à tona mais um dom, a literatura. Em sua terceira edição, o livro "Onde Vende O Manual" (Panda Books) mistura o bom humor característico da atriz a uma narração nada fantasiosa ou romântica sobre o passo-a-passo da gestação e da maternidade. Com muita simpatia, ela contou à Alô Bebê um pouco mais sobre o livro, a carreira e, claro, a felicidade de ser mãe.
Alô Bebê - Você é uma atriz talentosa de teatro, TV e
cinema e é conhecida como uma revelação no humor nacional. Agora se mostrou também uma escritora de mão cheia. Quantas são as aptidões de Graziella Moretto?
Graziella Moretto - Muito obrigada pelo "talentosa", e posso dizer que muito me agrada a ideia de abrir essa possibilidade de escrever, algo que eu sempre fiz como atriz, escrevendo textos de alguns espetáculos em que atuei. Mas as aptidões que se revelam quando a gente vira mãe são infinitas! Aí sim a gente se descobre muito capaz, versátil e cheia de talentos que nem conhecia.
Alô Bebê - Você escreve desde os quatro anos, mas raramente mostrava seus textos. Por que a gravidez tornou-se o tema ideal para deixar aflorar mais livremente esse lado de escritora?
Graziella Moretto - Eu digo que escrevo desde essa idade porque de fato aprendi a ler muito cedo, aos três anos, por conta própria. Mas não sou nenhum gênio, fui até uma aluna bem medíocre nas matérias exatas. Só que sempre gostei muito de ler e isso acaba despertando na gente uma voz interna, um jeito de ver o mundo através das palavras. O gosto pela leitura certamente influenciou minha escolha profissional, mas só consegui me apropriar do meu texto como material de trabalho quando fiz a "Terça Insana" [peça teatral de humor, encenada em São Paulo]. Logo que entrei para o elenco, engravidei e tive que me afastar do show, mas aproveitei o embalo e continuei escrevendo sobre a minha gravidez.
Alô Bebê - O livro conta com muito bom humor a odisseia que uma mulher enfrenta a partir do momento que decide ser mãe. Você imaginou passar por tudo isso (insegurança, pés inchados, meses sem dormir, hipersensibilidade, enjoos etc) e ainda tirar sarro da situação?
Graziella Moretto - O humor é a saída mais libertária para qualquer sofrimento, é sempre a melhor opção. Para mim, senso de humor é como carteira de identidade, um atestado de que você existe. Mesmo que às vezes não pareça certo, precisamos saber rir das dificuldades, do nosso temperamento, das coisas que nos acontecem, da loucura dos outros e principalmente das nossas loucuras. A vida passa a fazer mais sentido quando a gente acha graça das coisas.
Alô Bebê - O livro tem recebido ótimas críticas e uma aceitação incrível por parte das (e dos) leitoras(res). Você acha que isso se deve à franqueza com que você trata a questão da gestação, desmistificando aquele conto de fadas com que a maioria das mulheres sonha? Essa foi a sua intenção? Ele não assusta aquela mulher que está pensando em ser mãe?
Graziella Moretto - A gravidez, por mais suave e bela que seja, sempre ocasiona uma série de intempéries. Você pode ter tido a gravidez mais tranquila do mundo e ter um filho prematuro, ou uma gravidez conturbada e um filho que dorme a noite toda! Ninguém passa impune; nem a grávida, nem os que estão em volta dela. A própria gravidez desmistifica qualquer conto de fadas. A grávida, no entanto, continua sendo cobrada por todos, como se fosse a própria encarnação da virgem santa. Grávida não pode reclamar que todo mundo olha feio. Grávida não pode bufar, nem que esteja um calor de 50 graus e ela esteja carregando uma barriga tão grande e pesada quanto uma melancia. Mas grávida trabalha, faz compras, cozinha, pega ônibus, como qualquer pessoa em estado "desinteressante". Recebo e-mails de leitoras de todo o Brasil que dizem que pela primeira vez se sentiram inseridas e respeitadas.
Alô Bebê - De que forma você concebeu o livro: ele foi nascendo de um diário durante a gestação? Você o escrevia enquanto cuidava da Nina?
Graziella Moretto - Começou como um diário, mas eram tantas novidades, revelações, sensações indescritíveis e jamais imaginadas que eu não conseguia parar de registrar. Quando a Nina nasceu, comecei a escrever um blog. Mostrei esse material pro Marcelo Duarte, da Panda [Panda Books, editora do livro], que me incentivou a escrever o livro.
Alô Bebê - Você trabalhou durante a gestação? Atrapalhou alguma coisa?
Graziella Moretto - Trabalhava em São Paulo, fazendo a Terça Insana, e no Rio, gravando Os Normais. Pulava do estúdio para ponte aérea, para o carro, para o teatro. Até sete meses. Quando a barriga já estava enorme, ainda gravava locuções e spots para rádio e reformei todo o apartamento. Parei uma semana antes de ela nascer, porque mal conseguia me mover. Parecia aquelas fêmeas de documentário da National Geographic, que escolhem um cantinho como se dissessem: "daqui só saio para parir".
Alô Bebê Club - Você disse que, já que não há remédio para os enjoos e cólicas de nenê, rir continua sendo o mais barato dos genéricos. Já que o humor faz parte da sua carreira e, portanto, do seu dia a dia, foi um processo natural repassar isso a um experiência tão privada e emocional como a gravidez?
Graziella Moretto - Foi a maneira que eu encontrei. Minha gravidez foi saudável, mas teve um começo sofrido. Eu vomitava o dia todo, emagreci 4 quilos, tudo sem poder reduzir o ritmo de trabalho. Eu estava muito feliz, mas muito surpresa, porque jamais imaginei que a gravidez pudesse se impor de forma tão brutal sobre o meu cotidiano. Era tão diferente de tudo o que eu havia imaginado. Como eu estava cercada de humor no meu trabalho, não dava pra ficar me lamentando, pelo menos não o tempo todo... E com o livro, fiquei muito aliviada em saber que eu não fui a única a passar por isso.
Alô Bebê - E como é a mamãe Graziella? Ela também leva tudo no bom humor ou faz um drama e um faroeste de vez em quando?
Graziella Moretto - Se eu senti na pele o que é ser julgada por ser reclamona, é porque eu não sou sempre tão alto astral assim, né? (risos). Tem horas que a gente perde a cabeça. A chegada de um filho é aquele prato a mais que faz o malabarista ter que redobrar sua atenção e põe em cheque a sua habilidade. Eu ainda me sinto muito cobrada, principalmente por mim mesma, a dar conta de tudo. E isso pode ser muito desgastante às vezes.
Alô Bebê - E a Nina? É uma criança tranquila?
Graziella Moretto - Nina é aquela criança que faz as pessoas dizerem: "nossa, que energia ela tem, hein?". Eu acho isso uma grande e especial qualidade que Deus deu a ela. Então, disso eu não reclamo. Se eu sinto um tom de pena ou desaprovação no comentário das pessoas, eu não deixo que isso passe para a minha filha como uma coisa negativa. Eu respondo orgulhosa: "é, ela não para! Não é o máximo?!". Energia é sinal de curiosidade e estímulo.
Alô Bebê - Você amamentou por quanto tempo?
Graziella Moretto - Até os seis meses, ela só mamou no peito, não dei nem água. Quando entraram as frutas e a papinha, ela se desmamou por conta própria, aos oito meses.
Alô Bebê - Como é o seu dia dia com ela? Você tem alguém que te ajuda a cuidar dela?
Graziella Moretto - A maternidade é uma criação coletiva e aceita toda mão de obra que venha com amor. A Nina tem uma babá que a conhece desde quando estava na minha barriga, uma pessoa muito especial e amorosa, que nos ajuda a administrar e coordenar nossa rotina. Meu marido e eu damos prioridade do nosso tempo livre para ela e nos revezamos bem.
Alô Bebê - Você diz que ser mãe é uma profissão. Uma vez que a carreira de atriz tem horários e rotinas diferentes e você é cada vez mais solicitada em trabalhos, de que maneira você concilia essas duas "paixões profissionais"? Depois do nascimento da sua filha você teve que refazer essas escalas?
Graziella Moretto - Sempre busquei um balanço entre o trabalho e o lazer. Minha medida é: quem trabalha muito, tem que se divertir muito em contrapartida. Não quero me matar de trabalhar e no futuro ter a sensação de que deixei de viver alguma coisa. Nem tenho ambições obsessivas, que me levem a perseguir algo na carreira. Amo o que faço, por isso só faço aquilo que amo de verdade. Abri mão de muitas coisas, sem sentir que estava me prejudicando, pois minha filha preencheu cada minuto com as melhores lembranças da minha vida. E quando algo desperta a minha paixão profissionalmente, me dedico do mesmo jeito, porque sei que assim que aquela fase passar, terei como compensar minha ausência na vida familiar com muitas horas de "papo pro ar".
Onde vende o Manual? Coisas que eu não tinha entendido direito sobre gravidez e maternidade
Autora: Graziella Moretto
Editora: Panda Books www.pandabooks.com.br
Com bom humor característico, Graziella Moretto conta a experiência de ser mãe de primeira viagem em todas as suas várias etapas: desde a tentativa de engravidar, a descoberta do sexo do bebê, a escolha do nome, o papel dos pais e avós, a vida conjugal, até a tão esperada chegada de Nina. A autora deixa de lado os mitos que rodeiam a maternidade e conta a verdade dos fatos para aquelas que, como ela, querem ou já estão passando pela gestação. Os capítulos rendem, além de boas gargalhadas e muitas lágrimas, a emoção de se ver deslumbrada pelas maravilhas da maternidade.