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Terapia infantil, quando fazer?

Até os anos 80 havia uma forte tendência entre os profissionais de saúde no Brasil de indicar a psicoterapia infantil como único recurso para tratar distúrbios de comportamento como a agressividade, o ciúme, o medo, a ansiedade, a depressão em crianças. Nessa época, os pais eram orientados para entender o processo de terapia. Mas ainda ficavam à margem da terapia de seu filho, pouco comprometidos com as mudanças ou com a busca de soluções para resolver o problema. Muitas vezes, se sentiam culpados, ansiosos e resistentes para ajudar no desenvolvimento do trabalho terapêutico.

Com os avanços das ciências da comunicação e da informática, a visão dos psicólogos e de outros profissionais se ampliou definitivamente. Atualmente não podemos esquecer todas as variáveis que interferem na forma como as crianças percebem o mundo. A família com seus valores, tradições e formas de comunicação, a experiência de relacionamento na escola entre amigos e professores e com o próprio aprendizado, a sociedade e o mundo trazidos pela TV e pela Internet. Todos esses sistemas relacionam-se entre si e influenciam uns aos outros.

Responsabilidade de todos

A partir de uma nova forma de olhar o mundo, considero que o tratamento dos problemas infantis não é só responsabilidade da criança e do profissional, mas também de todos os membros da família, numa dança conjunta para procurar soluções. O terapeuta passa a ser um facilitador do processo de mudança e não o único detentor do saber ou da verdade.

Temos hoje as chamadas terapias infantis breves de orientação cognitiva e construtivista, entre elas as terapias familiares, que visam ajudar pessoas "grandes" e "pequenas" de uma mesma família. Auxiliam no entendimento de como se comunicam entre si, como percebem e reagem ao que escutam, como se relacionam e procuram resolver seus problemas.

Essa nova tendência para o tratamento dos problemas infantis não exclui de forma alguma o valor dos resultados obtidos com as terapias individuais. Ao contrário, objetiva somar recursos para resolver os distúrbios infantis. Esses, muitas vezes estão ancorados na forma como as relações familiares acontecem, principalmente nos primeiros anos de vida da criança.

Como percebemos o mundo 

Recebemos milhares de informações do mundo externo, uma infinidade de impressões sensoriais das quais somos capazes de perceber apenas uma parte. O mundo que percebemos não é o mundo verdadeiro. Trata-se de um mapa criado pela nossa neurologia.

Cada pessoa percebe o mundo à sua maneira. Temos como exemplo disso, as diferenças na reação de cada filho às diferentes situações de vida. Um é capaz de se fechar diante da bronca do pai e desenvolver comportamentos de muita timidez diante do mundo. O outro acaba se rebelando e fazendo tentativas corajosas para enfrentar a figura paterna, o que o ajuda a se fortalecer para enfrentar os obstáculos que a vida lhe apresentar. Sem dúvida, cada um percebe e reage a seu modo.

Ansiedades normais

No curso da vida, existem idades em que distúrbios de sono, de alimentação, de sociabilidade e outros são esperados. Como saber quando esses comportamentos são normais ou sugerem um tratamento psicológico? Em que medida os comportamentos deveriam nos preocupar? Os critérios para realizar essa avaliação são polêmicos e subjetivos, pois quem avalia o seu filho num primeiro momento são os próprios pais, que também têm as suas percepções influenciadas por experiências e crenças pessoais. "Será que não estamos nos preocupando demais?" "Quem sabe o medo passe daqui a alguns dias!" "Será que existe um problema sério e nós não estamos conseguindo vê-lo?"

Dicas para os pais

Um critério bastante respeitado diz que, se um comportamento normal aos dois anos permanecer até os três ou quatro, é hora de olhar com cuidado para perceber o que esse comportamento insistente está significando. Não é natural, por exemplo, que uma criança de quatro anos continue fazendo xixi na cama ou mordendo o amiguinho na escola. Evidentemente, algo está acontecendo que possa explicar o porquê da repetição desse comportamento e que função ele tem.

  • Observe durante alguns dias o comportamento da criança em várias situações: família, escola, clube, etc. Peça a ajuda dos profissionais que cuidam de seu filho. 

  • Pense sobre desde quando esse comportamento tem se manifestado, em que circunstâncias e com que intensidade. 

  • Analise que tipo de tentativas foram feitas para solucioná-lo, por que pessoas, em que situações. 

  • Calma. Tente conversar com seu filho sobre o que ele está sentindo.

  • Se não estiver encontrando respostas, procure um profissional que possa ajudá-los a pensar sobre o problema. Não deixe que o comportamento se torne crônico, pois ficará mais difícil resolvê-lo.

  • Procure encarar a dificuldade como uma possibilidade de crescimento e mudança para todos.

  • Há profissionais que acreditam numa psicologia preventiva e eu me incluo nesse grupo. Acredito que quanto mais precocemente pudermos identificar o problema, mais facilmente poderemos resolvê-lo.

Se, diante de um resfriado, é normal que alguns cuidados sejam tomados para que não se transforme numa pneumonia, por que diante de um problema emocional não pensamos o mesmo?

Dra. Monica Mlynarz
Terapeuta Individual e Familiar