Ser sustentável em família
Ser sustentável está na moda. Seja na mídia, nas empresas ou nas escolas, a diminuição do impacto do homem no meio ambiente nunca foi tão discutida. E já tem muita gente levando o debate e os ensinamentos para dentro de casa, e mostrando para as crianças desde cedo que é importante cuidar melhor do mundo em que vivemos.
Seja por meio de brincadeiras ou de conversas, os pais estão encontrando o caminho para criar filhos mais responsáveis e ecologicamente conscientes. A família de Renato Paiotti se encaixa nesta categoria.
Reciclagem e controle do consumo, seja de água ou energia, são as regras da casa. Vegetarianos, eles já utilizavam sacolas de pano para trazer as compras do mercado antes da polêmica das sacolinhas plásticas chegar a São Paulo. Junto com a esposa, Ana Paula, Renato ensina o filho João, de três anos, a importância de ter atitudes sustentáveis desde que nasceu – e o resultado já é notável. “Quando ele vai jogar algo no lixo, sempre pergunta qual lixeira é a correta”, diz.
Consciência desde o berço
A educação ambiental é um assunto que precisa surgir cedo, e dentro de casa. Como explica Simone Domingues, coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul. “O primeiro modelo das crianças são os pais, e eles devem estar prontos para orientá-las e, principalmente, explicar com paciência e clareza o porquê de não jogar lixo no chão, por exemplo.”
Isso faz com que as crianças cheguem à escola prontas para se aprofundar no assunto – e também preparadas para interagir com quem não possua esses valores. Simone afirma que o questionamento sobre as atitudes dos pais é inevitável e aparece conforme os filhos vão crescendo. Em casos de famílias vegetarianas, por exemplo, é possível que as crianças tenham vontade de comer carne eventualmente e talvez as justificativas dadas em casa para a dieta não sejam suficientes. Geralmente, isso acontece quando elas deixam de conviver só com a família e passam a frequentar a escola e as casas dos amiguinhos. “Se o que os pais ensinaram deixar de fazer sentido, a criança vai ter ação avessa àquilo, e não dá para esperar que ela faça sempre o que a gente quer”, explica a especialista.
Para a psicóloga, é importante os familiares transmitirem seus valores para os filhos, mas sem desrespeitar as suas características individuais. “Talvez a criança respeite a determinação dos pais por meio de punição, mas se ela não estiver certa daquilo, vai mudar assim que tiver maior liberdade.”
Explore o lúdico
Livros, jogos, programas de televisão e internet são boas maneiras de explorar o assunto de uma forma lúdica e de fácil entendimento. “Não adianta falar sobre camada de ozônio para crianças de dois ou três anos, é preciso respeitar cada idade”, alerta Simone, sobre a abordagem adequada para cada faixa etária.
Os pais que procuram uma maneira fácil de despertar a curiosidade dos filhos podem se inspirar no projeto Akatu Mirim. Trata-se de um site mantido pelo Instituto Akatu, ONG que trabalha com educação e comunicação para ampliar a consciência sustentável dos indivíduos. Além de atividades on-line para o público infantil, o site tem conteúdo voltado aos pais e educadores, com sugestões de brincadeiras para fazer em casa.
Mirna Castro Folco, responsável pelo projeto, conta que o conteúdo inclui vídeos sobre recursos naturais, como a água. “O intuito é puxar as crianças para reflexão, mostrando que a caixinha de leite não nasceu na prateleira do supermercado.”
Para ela, muitos pais não sabem abordar o tema, neste caso, o site é um instrumento sob medida. “Quando falamos com adultos, temos que provocar neles uma mudança de cultura, mas as crianças já podem se desenvolver com essa nova visão. Além da coerência entre o discurso e a prática da família, precisamos mostrar que bem-estar e qualidade de vida são formas de consumo saudáveis”, ensina Mirna.
Em casa e na escola
E na hora de educar as novas gerações para cuidar do planeta, a quem pertence o papel mais decisivo: pais ou escola? A psicóloga Simone responde: aos dois. “A escola oferece educação e técnica, mas a família é que trabalha o sentido de cidadania”, explica. Angela Serino, gerente de educação do Instituto Akatu, concorda, e acredita na participação dos educadores. “Sustentabilidade é um tema que está na agenda do MEC [Ministério da Educação e Cultura], só que falta preparação para introduzir a temática nas salas de aula.” Não basta ensinar filhos – e alunos – a separar o lixo reciclável do orgânico. “Na nossa perspectiva, reciclar é o último de quatro ‘R’;antes, vêm repensar, reduzir e reutilizar”, explica.
As sacolas plásticas são um bom exemplo. “O primeiro passo é pensar se precisamos de tantas sacolinhas. Em seguida, reduzir a quantidade utilizada e, depois, encontrar maneiras de reutilizar o material. Reciclar é o último passo porque, embora não seja menos importante, não é a grande solução”, explica Mirna.
O pequeno João, filho de Renato, já vai à escola. Na hora de matriculá-lo, o pai procurou uma instituição de ensino que falasse com os alunos a respeito de sustentabilidade, uma tarefa bem difícil. “Onde ele estuda existem alguns trabalhos envolvendo a preservação da natureza. Acredito que é essencial transmitir estes valores em sala de aula, mas se não tivermos dentro de casa, pouco adianta.” Para ele, o desempenho das escolas em geral ainda está muito restrito. Renato percebe que os colegas de João parecem não ter o mesmo conhecimento de seu filho – considerado, muitas vezes, fora do comum.
“A professora já nos chamou na escola para perguntar se nós éramos muito estudiosos”, conta. Ele observa, e lamenta, que muitos pais não se preocupam com o impacto ambiental e não façam questão de desenvolver esta consciência nos filhos. “Os pais só querem saber se as notas da criança na escola estão boas ou não, e ainda me veem como um ‘nerd’ pelo que faço com o meu filho, dizendo que ele será igual quando crescer. Vejo isso como elogio”, conclui
Pequenas atitudes verdes
Confira algumas dicas dos profissionais entrevistados para ajudar seu filho a desenvolver a consciência ambiental:
- Mostre que pequenas atitudes fazem a diferença. Ensine as crianças a tomarem banhos mais curtos e peça a ajuda na hora de separar o lixo reciclável;
- Tente aproximar seus filhos dos ensinamentos. Ex.: mostre matérias sobre as enchentes nos jornais ou na internet e explique que aquilo acontece porque as pessoas jogam lixo onde não devem;
- Leve as crianças para fazer passeios ecológicos;
- Demonstre interesse quando os pequenos abordarem assuntos ligados à sustentabilidade. Incentive-os;
- Dê o exemplo e empregue o consumo consciente no cotidiano de toda a família;
- Busque sempre o desenvolvimento da consciência. “A atitude sozinha, morre; a atitude consciente perdura e gera novos movimentos”, defende Angela Serino, do Akatu Mirim.
*Acesse www.akatumirim.org.br e divirta-se!