Saúde das crianças: a desidratação
É realmente prazeroso viver num país tropical, repleto de praias paradisíacas, de clima quente e onde o sol brilha quase todos os dias. As crianças são as que mais usufruem desse bem-estar, basta imaginar a meninada nos parques e brincando na praia. Mas, como tudo na vida tem dois lados, há certos inconvenientes em viver nos trópicos. Um deles é que somos campeões nos casos de desidratação e essa é uma doença que para bebês e crianças pequenas tem consequências drásticas.
E por que a desidratação é uma ameaça tão iminente? A resposta, no caso do Brasil, é resultado de uma junção de fatores. O primeiro deles vale para a maioria que vive perto da Linha do Equador - boa parte das doenças típicas dos países tropicais têm a diarreia e o vômito como sintomas, que promovem grandes perdas de líquidos e eletrólitos, substâncias nutritivas que mantêm as funções vitais. A combinação entre temperatura elevada e umidade é ideal para a proliferação de vírus e bactérias e as condições precárias de saneamento potencializam a contaminação da água e dos alimentos.
As regiões de clima seco também não estão livres do problema de desidratação. É preciso se proteger do sol, do calor excessivo e ingerir água e sucos de frutas constantemente. Com a meninada que pratica atividades esportivas os cuidados são semelhantes. Segundo Edimilson Migowski, médico e professor adjunto de infectologia pediátrica da UFRJ, além de manter a criança hidratada é preciso acostumá-la a beber água desde cedo.
A maior parte é água
Assim como o planeta, o homem é formado em maioria por líquidos. O corpo humano é constituído por cerca de 70% de água que, misturada a sais minerais, mantém o funcionamento do organismo, a elasticidade dos tecidos, irriga músculos e conduz as substâncias que alimentam as células. Por isso, o fenômeno em que ocorre perda excessiva de líquidos é tão grave. A desidratação provoca um déficit de água no organismo.
Entre os sintomas de desidratação estão boca seca, pele sem elasticidade, olhos fundos, fraqueza, tontura e dor de cabeça. A urina tende a ficar mais escura, com odor forte e a diminuir em quantidade, o que pode afetar os rins. Nos casos mais graves ocorre a redução do volume sanguíneo e o aumento do ritmo dos batimentos cardíacos. Segundo doutor Migowski, os bebês e as crianças pequenas são mais sensíveis à desidratação porque a proporção de água em seu corpo é ainda maior do que a encontrada nos adultos.
O tratamento é prescrito pelo médico e consiste na reposição de eletrólitos (potássio, sódio e sais minerais), via oral ou venosa. A alimentação não pode ser suspensa, mas alguns alimentos devem ser retirados da dieta, como frituras, gorduras, doces e condimentos, alerta o infectologista.
Os soros de reidratação são usados nos casos de desidratação iminente ou de nível leve. Um dos mais comuns é o (SRO), fácil de ser encontrado em farmácias e postos de saúde. Composto por cloreto de sódio, citrato de sódio, cloreto de potássio e glicose é mais eficaz que o soro caseiro por causa da fórmula equilibrada. Indicado em casos de desidratação moderada, o soro caseiro pode substituir o SRO. A solução é fácil de preparar, composta por uma colher de chá de sal (3,5 gramas) e duas colheres de sopa de açúcar (40 gramas) em um litro de água filtrada e fervida.
O mercado também dispõe de soluções reidratantes prontas para beber. As de densidade 45 são indicadas em casos de desidratação iminente ou moderada. Em sua composição o cloreto de sódio, de potássio monoidratado, o citrato de sódio e a glicose estão equilibrados, o que minimiza efeitos colaterais como vômitos e convulsões.
A diarreia é consequência de infecções intestinais causadas por vírus, bactérias ou parasitas. Geralmente, as de origem bacteriana são mais graves que as virais, mas todas têm como característica principal a evacuação intensa de fezes moles ou líquidas e podem causar cólicas, chegando a durar até sete dias. É um dos fatores que mais provoca a desidratação, além de ser muito comum em doenças como gastroenterite, dengue, leptospirose e em casos de intoxicação alimentar .
A dengue se manifesta por meio da picada do mosquito Aedes aegypti. Já a leptospirose é recorrente em regiões de chuva intensa e sujeitas a enchentes e se manifesta pela contaminação da água e dos alimentos pela Leptospira interrogans, transmitida pela urina do rato de esgoto.
De acordo com o infectologista Edimilson Migowiski, mais de 80% das mortes relacionadas ao rotavírus ocorrem nos países em desenvolvimento, como o Brasil. A patologia que provoca disenteria acentuada é consequência de uma combinação de vírus com grande resistência e também causa vômitos, náuseas e dores abdominais. Para cada uma dessas patologias existe um tratamento específico que deve ser indicado por um médico, mas, em relação à diarreia, alguns cuidados são básicos. Entre eles evitar o consumo de refrigerantes e isotônicos. "Tomar refrigerante em casos de diarreia é um erro grave, que pode comprometer ainda mais o estado do paciente. Já as bebidas isotônicas não têm a função de repor os eletrólitos perdidos em casos de evacuação acentuada, são indicadas para depois da prática de atividade física", afirma o médico.
Para Miguel Adolfo Tabacow, pediatra, gastroenterologista e nutrólogo da Fundação Amparo Maternal, em São Paulo, o tratamento da diarreia deve se basear nos cuidados com a alimentação e na reposição dos eletrólitos. "O objetivo não é interromper a evacuação, mas evitar que o organismo se desidrate". Assim como nos casos de desidratação, é necessário evitar o consumo de alimentos de difícil digestão, gordurosos e frituras, além de doces e bebidas açucaradas. O médico alerta que suspender a alimentação é um engano. "Uma dieta pobre em nutrientes agrava o estado do paciente. O ideal é que seja administrada com o soro caseiro ou bebidas reidratantes", conclui Tabacow.
Atenção à saúde das crianças: tipos de diarreia:
Diarreia comum: é mais frequente em crianças e pode ser provocada por intolerância ou mudança alimentar, por ansiedade e até por estresse;
Diarreia infecciosa: causada por bactérias ou vírus, alia sintomas como febre e apatia e pode perdurar até uma semana. Também é transmitida por alimentos e água contaminados;
Amebíase: causada por um protozoário, a ameba, provoca febre, dores abdominais, fadiga e evacuações com sangue. O agente causador entra no organismo do hospedeiro por meio da água e alimentos contaminados e se instala, geralmente, nos intestinos. A doença é comum nos trópicos e locais com condições precárias de higiene;
Giardíase: a giárdia é outro protozoário que entra no organismo humano por meio de água e alimentos contaminados. Entre as manifestações estão fadiga, dores abdominais e de cabeça e febre.
Sintomas de desidratação:
- Olheiras e olhos fundos
- Boca seca
- Pele sem elasticidade, rígida
- Aprofundamento da moleira (em bebês)
- Pouca urina e em intervalos longos
- Choro sem lágrimas
- Prostração e desânimo
- Agitação
- Vômitos persistentes ou com sangue
- Febre alta
- Fraqueza e tontura
- Dor de cabeça
- Em casos graves, diminuição do volume sanguíneo
- Taquicardia
Não pode:
- Deixar de se alimentar
- Tomar refrigerantes e isotônicos
- Comer alimentos gordurosos e frituras
- Tentar interromper a evacuação
- Suspender a amamentação
- Oferecer leite pasteurizado (de vaca) com achocolatado e açúcar
Deve:
- Alimentar-se
- Manter a amamentação
- Tomar soro caseiro
- Tomar bebidas reidratantes
- Comer frutas como banana, verduras e legumes