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Sandra Seabra - mãe de oito filhos!

A Carolina tem 21 anos, o Pedro Ivo, 20, Marília, 18, Aninha, 17, Marina e Tiago, 16, Paulinha, 6 e Isabel, 5. São as crianças de Sandra Seabra!

Aos 38 anos, a jornalista cultural Sandra Seabra faz acrobacias para dar conta dessa turma. "Procuro ser menos consumista e investir nos projetos deles. E cada um tem uma necessidade diferente."

Para essa super mãe, existem valores básicos na relação, não existe receita. "Sempre saio flutuando das reuniões de escola, com os elogios aos meus filhos. Meu ego fica enorme. É uma vitória minha."

Alô Bebê - Em primeiro lugar, vamos ao que chama mais a atenção: mãe de oito filhos. Sempre pensou em ter uma turma desse tamanho? Como aconteceu?

Sandra Seabra - Sempre pensei em ter muitos filhos. Pensava em seis. Era muito nova e tinha uma vida toda pela frente. Fiquei disponível para eles, curtia muito os filhos, a casa, amamentar, ir ao parquinho. Tinha uma visão idealista de criar filhos para um novo milênio, educá-los para um novo mundo.

Alô Bebê - O que é mais difícil e o que é mais gratificante?

Sandra Seabra - Vê-los crescer e começar a me identificar neles, nos filhos, é o mais gratificante. É um processo de autoconhecimento incrível. Se ver, qualidades e defeitos, habilidades. Ser a referência para eles, o que penso, o que falo, como faço, minha maneira de ver o mundo.

O mais difícil é viver num país que não te oferece estrutura de educação e saúde pública. Procuro não criar filhos consumistas, valorizando a sua educação, realização intelectual e afetiva. Mas o dinheiro é o mais difícil, porque atrapalha as outras coisas. Tenho de trabalhar para suprir essa necessidade e, então, sobra pouco tempo para eles.

Alô Bebê - Seus filhos têm idades bastante diferentes. Como relacionar-se com filhos adultos e crianças ao mesmo tempo?

Sandra Seabra - Quando estou com eles, tento cumprir o básico. Com os pequenos tem as preocupações do banho, do escovar os dentes, da alimentação, o carinho. Já com os grandes é diferente, é checar posturas e atitudes, como estão os estudos. Quase sempre sou a chata que faz cobranças. Numa casa com pouco tempo e muitas crianças, é difícil até conversar... Às vezes, acontece durante uma carona, ou num almoço de domingo, quando também é difícil reunir todos. Magoa não ter a disponibilidade que gostaria.

Alô Bebê - Em algum momento achou que não ia conseguir?

Sandra Seabra - Já tive síndrome do pânico. Mas, para uma mãe de oito filhos não existe falta de sentido na vida, fica-se mais vacinada contra crises existenciais. Se aprende a deixar o barco correr, porque você não pode definir tudo, lida com o essencial. Se aprende a entregar para Deus. Às vezes, rezo mais que o normal, vale o Pai Nosso, Yoga, apelos de Saint Germain... Tem dias que desanimo. Sou um pouco louca mansa. 

Alô Bebê - E a profissão? 

Sandra Seabra - Desde pequena eu queria ser jornalista. Trabalhei como diagramadora e repórter antes da faculdade. Quando os primeiros filhos nasceram, eu achava que daria tempo para depois pensar em profissão. Não era formada, dava aulas de inglês. Até a terceira gravidez, trabalhava. Tentei conciliar, mas cansei. Quando me separei do meu primeiro marido tinha seis filhos. Voltei a estudar e busquei o mercado, tinha de trabalhar. Comecei a faculdade com seis filhos e terminei com oito. Trabalho para mim é questão de sanidade mental. Quando saio para trabalhar é meio um alívio, para mim e para eles.


Alô Bebê -
Como fica o seu investimento no trabalho?

Sandra Seabra - Faço o que gosto. Não posso ler o que quero, ir aos shows e teatros que gostaria, consumir cultura como os meus pares, mas ganho em sensibilidade. Lidar com todas as situações me dá muita confiança. De qualquer forma, gostaria de fazer uma pós-graduação, estudar línguas. Ainda vou fazer.
Acho nossa imprensa muito burguesa, mas o fato de administrar essa megaestrutura em casa me deu uma consciência e sensibilidade diferente no trabalho.

Alô Bebê - Como consegue administrar casa, oito filhos e mais de oito horas de trabalho por dia?

Sandra Seabra - Tenho duas empregadas, mas, mesmo assim, sobra muita coisa para fazer. E eu gosto de promover a troca entre eles, acompanhar o banho das pequenas, por exemplo. Mas, sempre um dos grandes está cuidando. Eles interagem muito bem. E tenho o apoio incondicional do meu marido, que é maravilhoso e tem um envolvimento muito legal com todas as crianças. Mas eles reclamam. Não verbalmente, quase sempre por meio de atitudes. Então, tem de ser perspicaz. Identifico e é aí que deixo de ir ao teatro, ao cinema, leio menos do que gostaria.

Alô Bebê - Falando nisso, e o tempo para você?

Sandra Seabra - Vou ficando cada dia mais amarrada. Pequenos ou grandes, a responsabilidade com eles é a mesma. Mas de algumas coisas não abro mão, como o tempo com meu marido, ir ao cinema pelo menos uma vez por semana, que é menos do que gostaria, leituras. Mas, a cada dia que passa, vou abrindo mão de algumas coisas. E já não tenho mais medo de perder o meu espaço.

Alô Bebê - A situação financeira não é uma loucura para quem tem de alimentar e educar tanta gente?

Sandra Seabra - Trabalho para pagar a escola deles e as empregadas. Meu dinheiro é todo para isso. O resto das despesas é com o meu marido. Hoje, duas filhas já estão trabalhando.

Alô Bebê - Conta para os nossos leitores alguma situação curiosa que já viveu como mãe de tanta gente.

Sandra Seabra - É cotidiano viver situações curiosas. Uma vez, quando eu namorava meu atual marido, ele foi à minha casa sem avisar. Sabia que eu tinha seis filhos, mas não os conhecia. Eu não estava preparada, tinha medo, achava que ele ia sumir, desaparecer. A mais nova tinha oito anos e a mais velha, 13. Era hora do almoço, foi uma cena muito engraçada. E se deram super bem. No fim de semana é um caos, qualquer saída, as viagens são muito engraçadas, porque é um volume de gente assustador. Mesmo em casa é curioso: é cotidiano, por exemplo, três falarem comigo ao mesmo tempo. Daí, eu desligo e não ouço nada. Eles nem percebem.

Alô Bebê - Hoje, quando vê uma mulher grávida, sente saudades e pensa em ter mais um filho?

Sandra Seabra - Tenho saudades. Fiz laqueadura das trompas. Não quero mais filhos (risos) nem compromissos com bebês. Mas o corpo tem memória. Quando tenho TPM sonho com minhas barrigas.

Alô Bebê - Se tivesse que começar tudo de novo, teria oito filhos?

Sandra Seabra - Não sei. Se tivesse 17 anos... acho que valeria a pena.