Saiba como contar histórias para as crianças
Senta que lá vem história”, a frase que ganhou força na década de 90, com o programa “Rá-Tim-Bum”, na TV Cultura, mostra o quanto as histórias são capazes de mexer com o imaginário - e até com o desenvolvimento - da criançada. Embora a TV dê uma forcinha nessa missão, não existem para elas, contadores de histórias melhores do que os próprios pais, avós e familiares. Débora Kikuti, contadora de histórias profissional, acredita ser esse um momento de escuta afetiva, ou seja, aproxima quem conta de quem ouve.
Independentemente de qual seja o tema, há sempre um aprendizado sobre o simbólico, o repertório do mundo, uma maneira divertida de descobrir novas coisas. Tanto que boa parte dos pequenos aproveita esse momento para expressar os seus sentimentos mais profundos. E como o ser humano aprende ao imitar os sons, o ato de ler em voz alta, ajuda estimula o aprendizado da linguagem e aumenta a quantidade de combinações linguísticas na mente.
Contar é diferente de ler
Não existe uma técnica específica para contar história, basta seguir algumas recomendações e ter a intenção de promover esse momento. Débora acredita que o adulto precisa primeiro conhecer a história, para assim, usar a imaginação e contar de
acordo com as suas experiências e perspectiva de vida.
Contar uma história é bem diferente de ler. Deve-se manter a estrutura do enredo, como acontece durante uma leitura normal, mas acrescentar recursos sonoros e físicos a fim de deixar o momento envolvente. “Quando lemos uma história somos fiéis ao texto escrito, ao passo que, quando contamos, a oralidade acaba colocando um pouco de nós em cada trecho”, explica Débora, que sugere inserir novas palavras e descrever as paisagens imaginadas da forma como elas vêm à mente.
Isso porque o prazer não deve ser apenas das crianças, mas também daquele que se propõe a contar a história. “É um momento de entrega, de descanso, de compartilhar experiências e emoções, construindo imagens mentais, para que o pequeno se sinta seguro a ponto de querer experimentar fantasias e outras realidades. E ainda, fortalecer o relacionamento familiar, algo tão necessário atualmente”, ressalta.
O que eles gostam de escutar
Escolher o repertório certo, e saber envolver a criança, antes mesmo de abrir o livro é fundamental. Até os três anos, elas assimilam melhor as narrativas com brinquedos, bichos e animais, cheias de falas e emoções semelhantes as dos seres humanos.
Dos três aos seis anos são as reviravoltas de enredos com crianças e animais que
conquistam. Narrativas em ambientes conhecidos, como a escola e a casa da vovó, prendem bastante a atenção. Quando elas já estão mais crescidinhas, com oito anos ou mais, as fantasias e as histórias sobre viagens, explorações e com pitadas de humor, assim como as lendas, figuram entre as preferidas.
A arte de fantasiar
A habilidade de contar pode ser considerada uma herança familiar. Hoje, os pais ocupam o lugar de contadores, mas antes, eram eles que estavam ali na sala sentados escutando os mais velhos. Débora conta que quem iniciou “o era uma vez” em sua vida foi a avó Maria, logo, ela se inspirou, tomou a frente e passou a contar para os amiguinhos. “Minha filha Maíra, de 22 anos, prefere escutar a contar. Já a Bianca, minha sobrinha, tem quatro anos e me escuta desde bebezinho, agora, ela conta as histórias na escola e até anunciou para a professora que será contadora de histórias”, orgulha-se.
Para a criançada, participar desse momento não é só diversão, mas também uma contribuição ao bom desenvolvimento da conduta emocional. “Se levarmos em conta que todo pequeno encanta-se com a habilidade de imaginar, podemos estimulá-lo contando histórias que dão a noção do bem e do mal, do belo e do feio, do triste e do alegre e por aí vai”, completa. Sair um pouco da realidade e viver a fantasia, mesmo que pelo tempo de uma simples história, faz bem para a vida de todo ser humano.
Quer contar histórias? Confira as dicas da Débora Kikuti:
- Conheça a história antes de contá-la, senão ficará superficial, distante e sem emoção. E a criança sente isso!Ao contar uma história é permitido sussurrar, fazer caras e bocas e deixar o corpo expor os movimentos narrados;
- Não use bonecos para que a criança solte realmente a imaginação;
- Mais do que prender a atenção, a história precisa encantar todas as faixas etárias;
- Narre contos clássicos da literatura mundial, como “Chapeuzinho Vermelho”, “Lobo mau e os três porquinhos” e “Rapunzel”;
- Procure diferenciar os personagens interpretando cada um de uma maneira. O narrador pode engrossar ou afinar a voz dependendo de quem fala;
- Reserve entre 15 e 30 minutos por dia para contar uma história, mesmo que precise continuar no outro dia. Isso é fundamental para criar o hábito na vida da criançada;
- Se a criança estiver com outro foco, a história perde todo o sentido, por isso, o melhor seria fazer isso durante a noite quando ela estiver em uma posição bem confortável e os pais mais relaxados e dispostos a acolher;
- Observe a faixa etária do pequeno e os seus interesses para ter a certeza de que não está tratando de um assunto incompreensível para ele.
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