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Ricardinho - pai e jogador de vôlei

 

Integrante da seleção brasileira masculina desde 1997, Ricardinho firmou-se como titular na posição de levantador e é hoje capitão da equipe que coleciona títulos em todas as competições das quais participa.

Muito consciente do caminho que trilhou para chegar ao mais alto nível dentro do esporte, o levantador não se deixa deslumbrar pelo momento e tem na família seu porto seguro. Nesta entrevista à Alô Bebê, o atleta fala da carreira, das emoções vividas no esporte e da experiência de ser pai de duas meninas, Bianca e Júlia, suas maiores fãs.

Alô Bebê - Você sempre praticou esportes e foi um garoto super ativo. Por que decidiu optar pelo vôlei?

Ricardinho - Sempre gostei realmente de esportes em geral, mas tive um problema na perna direita e passei por uma cirurgia aos oito anos. Como meu irmão mais velho já jogava vôlei no Banespa, comecei a acompanhá-lo nos treinos. No período de pós-operatório, meu irmão incentivou-me a fazer uns treinos leves e levou-me para o vôlei.

Além disso, sempre o ouvi contar em casa sobre os jogos, e costumava assisti-lo acompanhado dos meus pais.

Alô Bebê - Desde os 10 anos você pratica este esporte. Em algum momento pensou em parar ou mudar de profissão? Chegou a estudar outra coisa?

Ricardinho - Não. Nunca pensei em fazer outra coisa. A quantidade crescente de compromissos, viagens e competições fez com que eu focasse toda a minha vida no vôlei. O vôlei não faz parte da minha vida, ele é minha própria vida.

Alô Bebê - Você incentiva suas filhas à prática esportiva? Quer que elas sigam na profissão de atleta?

Ricardinho - Não. Não quero incentivá-las a praticar nenhum esporte. Quero que elas escolham o que gostam e quero que elas sintam-se à vontade para fazer o que gostam. Não quero podar o dom que elas têm e que ainda nem sabemos qual é.


Alô Bebê -
Desde 1997 na seleção brasileira de vôlei, você foi o comandante da equipe que conquistou o ouro nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, e ocupou o lugar de titular absoluto, como levantador. Como você lida com o assédio e com o fato de ser exemplo para muitos jovens? Como foi essa evolução na carreira?

Ricardinho - Com relação ao assédio, gosto muito de receber e-mails, conversar com as pessoas nas ruas, posar para fotos. A gente entra na casa das pessoas, mexe com as famílias que se reúnem para torcer pela seleção, e este assédio é o reconhecimento do trabalho. Sei que muitos jovens espelham-se no nosso trabalho e veem o nosso sucesso como uma esperança de transformar sonhos em realidade. Procuro incentivá-los e deixar claro que é importante a consciência da trajetória que será traçada durante uma carreira. As pessoas têm que passar por todas as fases para dar valor ao resultado obtido.

Alô Bebê - Qual foi o momento mais difícil da sua carreira? E o de maior alegria?

Ricardinho - Os momentos mais difíceis foram as fases que passei sem contrato, em 1997, e o corte das Olimpíadas de 2000. Sempre pensei nas minhas filhas para superar todas as crises, mas, graças a Deus, posso dizer que passei por mais períodos felizes do que tristes. Das alegrias mais marcantes, posso destacar três. A primeira foi a conquista do Mundial de 2002, quando tudo começou realmente. O Brasil me aceitou como líder da seleção e mostrei que podia comandar a equipe. A segunda foi o Mundial de 2003, quando atuei como titular do início ao fim da competição. E a terceira foi a medalha de ouro nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. O clima de Olimpíadas que mobiliza o mundo todo é incrível, e trazer o ouro foi maravilhoso.

 

Alô Bebê - Você vem colecionando títulos na seleção brasileira de vôlei. Este ano, a equipe acaba de conquistar o penta campeonato da Liga Mundial. Como você vê sua carreira? Já pensa em parar ou acha que ainda tem muito a conquistar com a camisa do Brasil?

Ricardinho - O fato de substituir o Maurício, que tinha excelente desempenho na seleção e era muito carismático, foi difícil. O Brasil foi me aceitando e entendendo que cada atleta tem uma fase. Naquele momento, eu estava chegando no lugar dele. Daqui a alguns anos, será outro no meu lugar. Tenho 29 anos e ainda não penso em parar, não. Pretendo me manter na seleção brasileira até as Olimpíadas de Pequim, em 2008, e almejo chegar até Londres, em 2012. O levantador desenvolve um papel de liderança dentro de quadra.

Alô Bebê - Como é o Ricardinho em ação? Como faz para motivar os companheiros de equipe?

Ricardinho - Sempre pensei nas minhas filhas para superar todas as crises. Sou explosivo e procuro incentivar todo o time em todos os momentos. O nosso preparo é intenso no dia a dia e durante os treinos. Procuro ser um capitão liberal, que conversa com os companheiros. Um trabalho que costumamos realizar é aceitar as derrotas que podem acontecer de forma tranquila, para que isso não abale a equipe. O time precisa saber que pode perder, mas que pode superar as derrotas.

Alô Bebê - E a experiência de ser pai? Como é o Ricardinho em família? Qual a relação com suas filhas?

Ricardinho - Sou muito ligado à família. Tenho prazer em passar todo o meu tempo livre junto das minhas filhas e da minha esposa. Gosto de acordar a Júlia, de brincar com a Bianca, de ouvir a risada dela pela casa. As meninas sabem que preciso viajar, mas sentem falta do pai. Por isso, quando estou em casa, dou toda a atenção possível. Gosto de ver os cadernos, de ir às reuniões escolares. A Júlia, que está com sete anos, nasceu em uma fase complicada, no meu início de carreira. Ela nasceu e, em seguida, viajei para o Japão e fiquei longe durante um mês. A Bianca, que tem dois anos, já pegou um período mais tranquilo, hoje tenho folgas mais frequentes e posso acompanhar o crescimento delas mais de perto.

Alô Bebê - A equipe brasileira masculina de vôlei é hoje uma das mais fortes do mundo. Como você lida com essa pressão? Existe uma cobrança até pessoal de não poder falhar nunca?

Ricardinho - Sim, existe mesmo. A cobrança é grande por parte da imprensa, dos amigos, da família. A seleção atingiu um nível tão alto que muitas vezes as pessoas acham que perdemos algum set só para dar mais emoção ao jogo (risos). A verdade é que treinamos com tanta intensidade, que já vamos para os jogos muito bem preparados. Também temos um técnico que não alivia, que cobra sempre o melhor desempenho. Quando terminamos um jogo, já estamos pensando no próximo. Mas perder também faz parte, e é neste momento que mostramos o poder de superação. A seleção não precisa provar nada para ninguém, o trabalho é bem feito porque todos ali fazem o que gostam.

Alô Bebê - Você é proprietário do restaurante e lounge Dezessete, em Maringá. Pensa em trocar a bola pelas panelas, quando encerrar a carreira de atleta?

Ricardinho - Não, não cozinho nem em casa (risos). Pretendo estudar gastronomia, para entender melhor o negócio. Minha sogra, que é minha sócia no Dezessete, conhece muito de cozinha. Na escolha do cardápio da casa, que existe há um ano, degustei pratos e ajudei em algumas escolhas, mas quero estar mais preparado para opinar a respeito.

Alô Bebê - Você é um pai ciumento? Pretende ter outros filhos?

Ricardinho - Não. Eu e a Fabiane não pretendemos ter mais filhos. Estamos felizes com as meninas. Eu sempre me imaginei pai de meninas. Nunca tive aquela obsessão por meninos. Sou um pai bem ciumento. Não quero nem pensar em ver minhas filhas namorando (risos). Isso é uma briga interna, mas é a evolução natural da vida. Quero ver minhas meninas felizes.