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Problemas na fala das crianças


 

Escrever, falar, andar, são formas de expressão, e cada uma tem sua hora apropriada. Para falar, uma criança precisa estar fisicamente pronta, num determinado ponto de evolução de sua inteligência que lhe possibilite ordenar os pensamentos. O momento da criança falar acontece por volta de um ano de idade, podendo estender-se até um ano e meio.

A criança pronuncia sons diferentes que, para ela, têm um significado próprio. Ao balbuciar "mama" para mãe e "bô" para acabou, ela estabelece que cada palavra precisa de uma sucessão de sons diferentes para ser articulada, e que também cada palavra significa uma coisa. Essas primeiras palavras da criança são recebidas com muita excitação pelos adultos, e realmente é de se admirar que o início da fala seja saudado com tanto entusiasmo. Afinal, esta é a primeira etapa de um longo processo que vai introduzir as crianças na sociedade em que vivemos.

Também não é novidade o fato delas cometerem erros e omissões na fase em que está começando a pronunciar as primeiras palavras, consequentemente, desenvolverem um vocabulário cheio de palavras diferentes e divertidas, que muitas vezes até se parecem com a fala do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica. Porém, a fala do personagem de cabelos espetados, que encanta a nós e a nossos filhos, também pode ser motivo de preocupação em alguns casos. É que no contexto da história em quadrinhos, os erros de fala que o Cebolinha comete são engraçados e ajudam a compor um personagem ainda mais atrapalhado. Contudo, na vida real esse problema na fala pode ser tornar motivo de gozação para as crianças.

Na rotina do consultório, é muito comum recebermos crianças com problemas de fala que se sentem diminuídas e até excluídas por outras crianças. E tudo isso porque elas não conseguem articular corretamente alguns fonemas (sons). Todos nós tivemos um coleguinha de classe que era conhecido por um apelido pejorativo: tinha o quatro olhos, o dentução, a gorducha, o anão de jardim e daí por diante. 

Os apelidos de gaguinho, cebolinha, bebezinho etc. são os primeiros sinais de que seu filho está sendo alvo de gozações que podem prejudicá-lo emocionalmente pelo resto da vida. 

Cada criança tem sua forma de reagir: algumas ficam mais caladas (medo de serem o alvo das piadinhas), enquanto outras se tornam agressivas e até mesmo briguentas (assim ela pode revidar a ofensa recebida sem ter que argumentar verbalmente). 

Alguns casos de problemas na fala, como a gagueira, que já foram tratados no consultório iniciaram-se com a mesma história: a criança começou a falar errado e foi o centro das atenções. A ridicularização constante gerou um processo de timidez excessiva e tensão corporal ao falar, que resulta no quadro da gagueira. 

Cabe aos pais perceberem se este problema na fala está acontecendo com seus filhos, e de que maneira eles estão conseguindo reagir a tais dissabores. Quando a criança não se sente capaz de corrigir-se sozinha, e demonstra precisar de ajuda especializada, a avaliação fonoaudiológica é o passo mais indicado. 

Essa avaliação irá checar se a criança está com um processo de aquisição de linguagem correto para sua faixa etária, e se as trocas ou omissões de fonemas na fala podem corrigir-se naturalmente ou somente através de tratamento fonoaudiológico. 

Dentro desse exame minucioso também são avaliados os órgãos fonoarticulatórios, para constatar possíveis anormalidades (freio lingual muito curto, céu da boca estreitado, língua hipotônica, etc.). Caso isso seja diagnosticado, deve ser corrigido com técnicas fonoterápicas específicas, a fim de melhorar o padrão articulatório da criança. 

A posição dos dentes e a forma como eles se ocluem (como os dentes ficam com a boca fechada) também conta muito na produção da fala, pois o uso constante de chupeta e/ou dedo pode acarretar uma mordida aberta anterior, e isso traz como consequência a projeção da língua nos sons das letras S e Z. Havendo aquele espaço que a chupeta deixou entre os dentes, a língua aproveita para penetrar e produzir sons distorcidos. 

Crianças que respiram pela boca constantemente ou se alimentam preferencialmente de comidas pastosas, também podem apresentar uma hipotonia (flacidez) geral nos órgãos fonoarticulatórios, o que fatalmente trará alterações articulatórias.

O mais indicado é que a criança passe por uma avaliação fonoaudiológica ao menos uma vez por ano até atingir os cinco anos de idade, para que se observe se todos os itens estão condizentes com o esperado para a faixa etária da criança. 

Esse exame pode ser realizado no consultório, e atualmente existem muitas escolas que contam com um fonoaudiólogo que as visita anualmente, a fim de avaliar as crianças. 

Dessa forma podem-se prevenir muitos problemas na fala que seriam desagradáveis para nossos filhos. Assim, evita-se que a criança seja exposta a situações constrangedoras para ela, ou que acabe ridicularizada por outras crianças do clube, da classe, etc.

Dra. Patrícia Barbosa