Odontopediatria: prevenir as cáries é melhor que remediar
Quando o menino Henrique Farinas tinha dois anos, seus pais notaram algo de errado em seu sorriso. Além de manchas brancas, parecia que faltava um pedaço de um dos dentinhos. Preocupados, os pais levaram a criança ao odontopediatra e tomaram um susto com o diagnóstico: mesmo com a pouca idade, Henrique tinha cárie em oito dentes. "Não imaginava que crianças poderiam ter cáries. Sou da geração que ia pouco ao dentista, eu mesmo só tive minha primeira consulta aos sete anos", conta Rafael Farinas, pai de Henrique, que hoje tem três anos.
Popularmente conhecida como cárie de mamadeira, a cárie precoce de infância pode atacar os primeiros dentinhos e tem uma evolução muito rápida, o que pode causar dor e até a perda precoce do dente. "A cárie é uma doença infecciosa causada por bactérias, que metabolizam restos de alimentos e eliminam ácidos capazes de desmineralizar os dentes", explica a odontopediatra Lúcia Coutinho, especializada em odontologia para bebês. Inicialmente, a cárie aparece como pequenas manchas brancas e depois evolui para cavidades. "Nas crianças, os dentes mais acometidos por cáries são os incisivos centrais e laterais, que são os quatro dentinhos do meio da arcada superior", completa a especialista.
Prevenção
Como nos adultos, a prevenção das caries é feita por meio da higiene bucal e de bons hábitos alimentares. No caso de Henrique, um dos agravantes foi a mamadeira com leite e açúcar. "Ele dormia com a mamadeira na boca, e nós não tínhamos o hábito de escovar os dentinhos dele", conta o pai. A escovação deve ser feita três vezes ao dia, sempre com a supervisão de um adulto. De acordo com Lúcia, a mais importante é aquela antes de dormir - a que os pais de Henrique não faziam -, porque a saliva deixa de ser produzida durante o sono. "A saliva tem um efeito protetor sobre os dentes, pois normaliza e equilibra o pH da boca", explica.
A higiene bucal é um hábito que começa bem cedo. Por volta dos seis meses de idade, o primeiro dentinho começa a nascer. A limpeza deve ser feita com uma gaze ou fralda embebida em água filtrada, três vezes ao dia. "A mãe deve massagear o dente, a gengiva e a bochecha com o dedo indicador para retirar os resíduos de leite e alimentos", ensina a especialista. Aos poucos, a escovação deve ser introduzida, sempre com o uso de uma escova com cerdas macias. "Deve-se usar pouco creme dental, o equivalente a um grão de arroz. O odontopediatra irá indicar a necessidade de pasta com ou sem flúor, dependendo da necessidade da criança", completa Lúcia.
Alimentação
Além da mamadeira antes de dormir sem a higiene correta, o menino Henrique costumava beber sucos industrializados a toda hora. Isso foi outro agravante para o surgimento das cáries. "Quando a criança se alimenta a toda hora, o pH da placa bacteriana mantém-se ácido por mais tempo. Isso favorece a desmineralização dos dentes e, consequentemente, o desenvolvimento das cáries", explica a odontopediatra. Isso significa que a criança pode comer de tudo, mas na hora certa. Doces, bolachas e chocolates não estão proibidos, mas devem ser consumidos como sobremesa, e não ao longo do dia. Os sucos, que Henrique tanto gosta, também devem ser servidos durante as refeições.
Ao contrário do que se pensa, as balas e doces não são os únicos vilões. "As bactérias que causam a cárie metabolizam principalmente restos de alimentos ricos em carboidratos, que incluem doces, pães, salgadinhos e bolachas", afirma Lúcia.
Geração cárie zero
Cuidar da alimentação dos filhos, não deixar que eles belisquem a toda hora e ter o hábito de limpar os dentinhos após as refeições são ótimas atitudes para garantir aquele sorriso bonito e saudável. Para completar os cuidados, a criança deve visitar um odontopediatra, o profissional mais indicado para cuidar dos pequenos. "Por volta de um ano de idade, o bebê já tem seus primeiros dentinhos. Este é o momento certo para a primeira visita ao profissional", afirma a odontopediatra Lúcia Coutinho.
Pode parecer estranho visitar o dentista cedo assim, mas a ideia é prevenir o surgimento das cáries em vez de tratá-las quando o problema já existe. "Na primeira consulta, o profissional irá orientar os pais sobre higiene, dieta e remoção de maus hábitos, como sucção de dedo, uso indevido de chupeta e mamadeira", explica Lúcia.
O odontopediatra também irá definir a frequência da aplicação do flúor e das consultas, geralmente a cada seis meses. Além disso, o profissional irá avaliar clinicamente os dentes que nasceram e acompanhar o desenvolvimento da arcada dentária. "Quanto mais precoce for detectado um problema, mais favorável é o prognóstico de tratamento. Crianças de quatro ou cinco anos podem usar aparelho para corrigir o encaixe incorreto dos dentes, por exemplo", conta a especialista.
Manoela Lários Sahd, de dois anos, vai ao dentista desde que o primeiro dente nasceu. A garota frequenta o consultório de Lúcia e não tem medo de ir ao dentista. Já foi possível perceber uma alteração na mordida da menina, e as providências para corrigir o problema já estão sendo tomadas. "Manoela apelidou a doutora Lúcia de tia do dentinho. Ela gosta mesmo de ir às consultas", conta a mãe, Adriana.
A abordagem do odontopediatra tem justamente esse objetivo: fazer com que a criança goste de ir ao dentista. Por meio do condicionamento psicológico, a criança é familiarizada com a cadeira odontológica e com os instrumentos. "De uma forma lúdica, o odontopediatra ganha a confiança do paciente aos poucos, proporcionando um tratamento sem traumas, o que o torna mais tranquilo. Nosso objetivo é formar uma geração cárie zero e sem medo de ir ao dentista", finaliza Lúcia.