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O papel do pai


 

Dentre as inúmeras necessidades humanas, as de afeto e segurança têm, indiscutivelmente, prioridade. Quando elas são satisfeitas, temos garantias eficazes para o crescimento do ser humano; se, pelo contrário, houver frustrações, haverá desajustes mais ou menos graves. A criança necessita de amor.

Esse é um lema moderno que ouvimos muito frequentemente. Mas, o que é preciso dizer? O recém-nascido é completamente indefeso, dependente e precisa de cuidados constantes para que não sofra de fome, frio ou dor. Como ele não tem noção de tempo e espaço, ao sentir fome, fica perdido e somente a assistência afetiva da mãe ou alguém que a substitua regularmente poderá, aos poucos, propiciar-lhe a certeza de que o alimento não lhe faltará.

Bem sabemos, no entanto, que os cuidados com o bebê não se restringem à alimentação ou às necessidades corporais; desde as primeiras semanas, o bebê é um ser humano completo, com sentimentos, emoção e ideias. O amor da mãe é que o protegerá de algumas sensações desconcertantes e desagradáveis que vêm do mundo externo e que lhe causam desconforto. A mãe é a iniciadora do filho na vida. Conforme as experiências deste sejam satisfatórias ou frustrantes, ele estará se preparando para a liberdade e para aceitar a autoridade.

O papel do pai

E o pai, qual é a sua importância nos primeiros meses? Durante mais de meio século, a partir das descobertas de Freud e de outros estudiosos do psique humana, enfatizou-se a importância da relação mãe-filho. Somente nos últimos anos - e muito timidamente - começou-se a estudar a importância da figura do pai desde os primeiros dias de vida. Estudos e pesquisas revelaram que é fundamental para a vida da criança que seu nascimento seja desejado; sentir-se filho do pai é tão primordial para o desenvolvimento do indivíduo como o próprio fato de sê-lo.

O papel do pai nos primeiros três meses é indireto, porém muito importante para que a mãe proporcione segurança ao bebê. Durante as primeiras semanas, quando a mãe e o bebê estão lutando para se conhecer, para se adaptarem um ao outro, a atitude do pai pode ser de grande ajuda. Como? Participando de algumas de suas ansiedades, ele poderá lhe dar o apoio de que ela talvez esteja precisando para enfrentar uma situação difícil, ajudando-a a ver as coisas com mais clareza.

Alguns homens efetivamente não conseguem ficar absorvidos pelo bebê. Em nossa sociedade, às vezes acontece de os homens acharem meio "bobo" se interessar demais pelos bebês e, então, fingem falta de interesse. Quando os filhos crescem, podem admitir mais facilmente que sentiam orgulho e amor pelos filhos.

Reações do bebê ao pai

É interessante notar como, em torno dos 4-5 meses, o bebê começa a reagir ao pai de um modo especial e diferente da maneira como reage à presença da mãe e a dos demais adultos. A espécie de relacionamento que vai se formando entre o pai e o bebê nesses primeiros meses dependerá, por um lado, do quanto a mãe o estimula a participar do banho e da alimentação da criança, como também das possibilidades do próprio pai estar em casa nas horas em que o bebê está acordado e de sua facilidade em entrar em contato com ele.

A partir do primeiro ano de vida, o pai começa a aparecer mais. Ele representa a responsabilidade. É o contato com a realidade. O pai que ama os filhos não é somente aquele que manda, mas aquele de quem a criança tem orgulho e com quem quer se parecer. Essa admiração é o elemento de masculinidade que o pai transmite.

Encontrar-se com o pai significará não somente poder separar-se da mãe, mas também encontrar uma fonte de identificação masculina, imprescindível tanto para a menina como para o varão. Isso porque a condição bissexual da psique humana (o que Jung chamava de animus nas mulheres e anima nos homens) torna necessário o casal "pai" e "mãe" para que se consiga um desenvolvimento normal da personalidade.

A autoridade paterna

Se, por um lado, é função da mãe dar aos filhos dos dois sexos a imagem da feminilidade, na sua competência, importância, afetividade e maternidade, o pai, por sua vez, é sentido pelos filhos em sua universalidade, a transmitir-lhes o papel da autoridade suprema (apesar do fato de a autoridade diária estar muitas vezes diretamente ligada à mãe). Essa distinção entre a autoridade materna e paterna são os modelos que a criança possui para fazer frente às fontes de autoridade, que irão desempenhar no futuro uma função importante no seu ajustamento à sociedade, além de cumprir uma função fundamental no desenvolvimento de sua sexualidade.

Dra. Monica Mlynarz
Psicóloga