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Literatura infantil: quando as crianças devem começar a ler

O crítico literário e professor da Universidade de São Paulo, Antonio Cândido, já discorreu a respeito da importância da literatura para a formação do homem em seu livro Vários Escritos, de 1960. Segundo este, ler incita o ser humano a vislumbrar novos horizontes e permite paralelos entre a vida real e uma outra "supostamente" imaginária. A leitura também informa, dá ao leitor repertório que fatalmente será útil no decorrer da vida. O hábito também auxilia o desenvolvimento do raciocínio lógico. Por tantos atributos, o professor ainda defende o livro como necessidade básica do ser humano, exercita a imaginação e influencia a capacidade de sonhar. Mas em que momento o homem deve ser apresentado à leitura?

Para o escritor Pedro Bandeira, a literatura pode fazer parte da vida da criança desde muito cedo. Os pequenos devem ser apresentados ao universo vocabular ainda bebês, por meio de histórias contadas pelos pais, por exemplo. Para o escritor, não há uma idade exata para começar a ler, a aproximação só precisa ocorrer naturalmente, sem imposições. "Tudo que é prazeroso e é imposto é uma violência", refere-se à obrigação da leitura tanto pelos pais como pelas escolas. Mas Pedro defende que haja mediadores entre a criança e o livro, como pais e professores.

O escritor, renomado entre o público infanto-juvenil, reforça que a literatura oferece acesso a outros universos que tornam o leitor mais bem preparado, sobretudo emocionalmente.

Para a criança, a literatura apresenta um universo único e a coloca diante da liberdade de pensar, imaginar e refletir. "Um livro nunca está pronto, ele sempre precisa do receptor para concretizar uma ideia." Além disso, a intimidade com o universo literário, seja como ouvinte ou leitor, amplia o repertório vocabular da criança. Quanto mais cedo ela for apresentada à leitura, mais conhecimento ela acumulará. Como o autor defende a leitura como um hábito espontâneo, ele não sugere nenhum livro ou literatura específica. "A criança deve ler o que quiser, mas é importante que pais e professores apresentem alternativas e que acompanhem a escolha."

Segundo o educador Marcelo Cunha Bueno, coordenador pedagógico da escola Estilo de Aprender, a criança pode ser colocada em contato com o livro desde muito cedo. Independentemente de conseguir decifrar os códigos, ela é capaz de "absorver" conteúdo, de desenvolver afeto pelo objeto livro e de estabelecer vínculos. "Para a criança que ainda não é alfabetizada, aprender a ter afeto pelo livro é mais importante que entender o conteúdo."

Ele recorda as crianças que "leem" livros de cabeça para baixo, que permanecem horas na mesma página e, ainda assim, criam histórias em seu imaginário com auxílio das ilustrações ou por meio do próprio contato com o livro. O professor também indica aos pais a montagem de uma pequena biblioteca, cuja participação da criança na escolha das obras seja mais intensa, de acordo com o desenvolvimento dela. Dessa forma, aos 5 ou 6 anos de idade, a criança alfabetizada já é capaz de interpretar o conteúdo e de escolher os próprios títulos.

Marcelo também indica que os pais leiam para os filhos, mas como os pequenos tendem a seguir o exemplo da família, perceber que os pais leem de forma prazerosa também é um estímulo. Quando ocorre da criança não ter pais leitores, a melhor pedida é recorrer à orientação escolar, depois às livrarias. Também é importante conhecer os autores e as editoras e tê-los como referências. Analisar qualidade gráfica e ilustrações, pois esses recursos chamam e prendem a atenção da criança, principalmente as que iniciam o processo de alfabetização.

Para ser certeiro, o professor indica os clássicos. Algumas adaptações infantis dos clássicos literários são bons pontos de partida para o início da leitura. Outra receita infalível são os títulos de Monteiro Lobato, autor que iniciou a carreira literária de leitores e escritores das últimas gerações. As obras dos Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen também são unanimidades do universo literário infantil, referências quando se trata de formar leitores críticos e pessoas mais humanizadas.

Pra começar a ler:

COMPANHIA DAS LETRINHAS
 A MENINA, A GAIOLA E A BICICLETA/CÉU DE PASSARINHOS - Rubem Alves e Carlos Brandão (Prêmio Jabuti 1998 de Melhor Ilustração Infanto Juvenil e Título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em 1997)
 HISTÓRIAS À BRASILEIRA - Vol.1 - A Moura Torta e outras Histórias - Ana Maria Machado.
 HISTÓRIAS À BRASILEIRA - Vol.2 - Pedro Malasartes e outras Histórias - Ana Maria Machado.

COMPANHIA EDITORA NACIONAL
 ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS - Lewis Carrol - Trad. Monteiro Lobato - Coleção Primeiros Clássicos 
 MOGLI, O MENINO-LOBO - Rudyard Kipling - Trad. Monteiro Lobato - Coleção Primeiros Clássicos
 CAROLINA - Walcyr Carrasco - Série Lazuli Infantil

EDITORA ÁTICA
 12 FÁBULAS DE ESOPO - Hans Gartner - Coleção Clara Luz

EDITORA BRASILIENSE
 EMILIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA - Monteiro Lobato
 O PICAPAU AMARELO - Monteiro Lobato
 A CHAVE DO TAMANHO - Monteiro Lobato

EDITORA FTD
 OS MÚSICOS DE BREMEN - Ruth Rocha - Coleção Lê Pra Mim
 UMA IDÉIA SOLTA NO AR - Pedro Bandeira - Série Arca de Noé
 DOM QUIXOTE DE LA MANCHA - Miguel de Cervantes - adaptação Walcyr Carrasco (Título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil em 2003)