logo Alô Bebê
 

Ensino das línguas estrangeiras para crianças

Os cursos de línguas estrangeiras para crianças já fazem parte do cotidiano de muitas famílias e ensinam uma segunda língua para os pequenos, de maneira lúdica e divertida.

A porta da escolinha não difere de tantas outras existentes. São crianças com mochilinhas, brinquedos e alguns até arrastando fraldinhas nas mãos, que se despedem do responsável e encontram os colegas para mais uma aula. Porém, do portão para dentro, a realidade é outra. Meninos e meninas são recepcionados por professores que os cumprimentam: Good morning? How are you? Do you want to play a game? Muitas crianças respondem, também em inglês, e aqueles que não respondem, parecem entender o que foi dito.

Este é o cotidiano de uma escola de inglês com curso próprio para crianças pequenas, a partir dos três anos. Segundo Lucita Rezende Vidigal, proprietária e diretora da escola de idiomas Day by Day, a oferta de cursos de inglês para o público mirim desde o início sempre teve muita procura pelos pais. "Já tínhamos o curso para os mais velhos e toda semana recebíamos pais à procura de aulas para os pequeninos", lembra Lucita. A demanda gerou pesquisa, que resultou num projeto e na criação de aulas especiais para estes alunos. "Eles vêm para brincar e aprendem quase sem querer. A base do trabalho é feita respeitando o ritmo e o mundo dos pequenos. Se, no meio da atividade, eles decidem tirar uma soneca, isto é feito naturalmente", explica a diretora.

Na Day by Day, os professores não falam uma palavra em português, mas o clima é muito lúdico e, até os sete anos, as crianças não fazem nenhuma atividade escrita. Há simulações de situações domésticas, como uma unidade, dentro de um módulo do curso, chamada "Minha Casa", onde são reproduzidos ambientes de quarto e cozinha. "No quarto, eles ficam de pijamas e são instruídos a escovar os dentes, lavar as mãos e trocar de roupa. Já na cozinha, ensinamos receitas simples e a plantar alimentos, como feijão e milho", detalha Lucita.

Para Luciana M. Andrade Turino, coordenadora pedagógica da rede de idiomas PBF - Pink and Blue Freedom, as crianças pequenas têm uma extraordinária capacidade de aprendizagem. A argumentação de Luciana é embasada em pesquisas do campo da neurologia, que demonstram que os dois hemisférios cerebrais desempenham diferentes funções e que, na infância, esses hemisférios trabalham de forma mais eficiente. "O lado esquerdo do cérebro é o lado lógico, analítico; enquanto o direito é o lado criativo, responsável pelas emoções, percepção e construção de modelos e estruturas de conhecimento. O hemisfério direito é a porta de entrada das experiências e a área de processamento para transformá-las em conhecimento", explica a coordenadora. "Portanto, o desempenho superior das crianças pode estar relacionado à maior interação entre os dois hemisférios cerebrais. Ou seja, no cérebro de uma criança, os dois hemisférios trabalham de forma mais eficaz do que no cérebro de um adulto, correspondendo a uma maior interligação ao período de aprendizado máximo", completa Luciana.

Uma das dúvidas que pairam na cabeça dos pais na hora de matricular o filho pequeno em uma escola de idiomas é saber se o novo aprendizado não irá interferir na língua-mãe. Segundo Lucita, as crianças pequenas têm uma facilidade em "mudar de canal". Neste período da vida, o inglês, ou outro idioma, fica restrito ao mundo das brincadeiras e fantasias. "Já vimos casos de crianças que não falam inglês em casa, na frente dos pais, mas que em uma viagem a Disney, por exemplo, conseguem se virar muito bem, no momento de diversão. O português é a língua forte, aprendida com os pais, existe uma ligação emocional muito grande com ela". A vantagem de se aprender outra língua, ainda nos primeiros anos de vida, terá reflexos futuros. Por aprender de forma natural, a criança terá mais facilidade em falar fluentemente. "Eles imitam o que os professores dizem na mesma entonação, com a mesma pronúncia. Estas crianças ficarão com os sons da nova língua guardados na memória e terão mais facilidade em usá-los quando necessário", diz a diretora.

Overdose de atividades pode causar danos às crianças

Apesar de toda a magia e da expectativa dos pais em ver os filhos fluentes em uma língua estrangeira, deve-se tomar cuidado com os excessos. A psicoterapeuta Denise Maia, especializada em trabalho com crianças e adolescentes, alerta para a ânsia dos pais em preencher todo o tempo disponível do pequeno. "É importante que a criança tenha tempo para brincar ou ficar ociosa. Hoje em dia, é cada vez mais comum vermos pais que matriculam os filhos em vários cursos. Pode ser o inglês, o balé, a natação, a iniciação ao uso de computador e uma infinidade de outras atividades. Temos crianças com agenda de executivo, muito antes da hora adequada".

A psicoterapeuta afirma que estas aulas podem ser indicadas para um período de férias, quando a criança está com todo o tempo livre e, principalmente, quando os pais trabalham fora. Se a opção for por incorporar estas aulas ao cotidiano infantil, ela indica que isto seja feito dentro de um limite de, no máximo, duas vezes por semana e sempre de maneira muito lúdica, com brincadeiras, expressões artísticas e trabalhos manuais. Uma das maiores preocupações dos pais é com a formação da criança, para que ela esteja preparada a enfrentar a competição profissional futura. Esta ansiedade acaba sendo transferida para o pequeno, e pode desenvolver uma série de problemas decorrentes do excesso de atividades, como distúrbio de aprendizagem, medo, frustração, pânico, estresse, dores de estômago, diabete infantil, entre outros. De acordo com Denise, a criança precisa ter o tempo dela respeitado e a aprendizagem de uma nova língua como um processo natural. "Se a criança irá morar fora do País, ela pode aprender esta língua quando estiver no novo local. Este momento da infância deve ser tratado basicamente com brincadeiras e diversões", diz a psicoterapeuta. Ela ainda ressalta que a partir dos oito anos, quando a criança já possui maior domínio da língua materna, pode-se pensar no novo idioma, desde que respeitando o tempo do filho.

"Se a criança não dá conta de sua demanda diária, não adianta forçar novas atividades. É melhor esperar um pouco e mandá-lo, por exemplo, para um curso de línguas no exterior, quando ele terá a vivência do novo idioma no momento adequado", reforça Denise.