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Endometriose: vilã da modernidade

Dores abdominais são sintomas comuns e, no caso das mulheres, elas ainda estão associadas à menstruação ou à formação de cistos, mas podem detectar a endometriose. A doença acomete de 10 a 15% de todas as mulheres em idade reprodutiva, segundo dados da Associação Brasileira de Endometriose (ABEND), e é considerada uma das maiores causas de infertilidade feminina na atualidade.

Nos casos registrados no Brasil pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), cerca de 20% das pacientes tornam-se inférteis. "Acreditamos que mais de 6 milhões de brasileiras tenham a doença e aproximadamente 20% delas têm apenas dores, mas 60% correm o risco de se tornarem inférteis", afirma Mauricio Abrão, médico responsável pelo Setor de Endometriose do HCFMUSP e presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE).

A endometriose é uma doença crônica que acomete o endométrio, tecido que reveste a parede uterina. Para os especialistas, é considerada um mal da mulher moderna. Eles acreditam que os índices atuais estão relacionados ao estresse, fatores hereditários e à gravidez tardia. A doença também depende da ação do estrógeno, principal hormônio feminino produzido pelo ovário enquanto a mulher menstrua.

A cada 28 dias, o organismo feminino produz óvulos e a parede do útero se prepara para receber o gameta fecundado. Quando isso não ocorre a parede do órgão passa por um processo de descamação e repele o tecido que reveste o útero. Esse é o processo natural da menstruação. Com a gravidez tardia, as mulheres sangram mais vezes e o maior número de menstruações pode provocar refluxo menstrual.

O fenômeno proporciona que o sangue se instale nas Trompas de Falópio, no Fundo de Saco (atrás do útero) e até nos ovários, formando os cistos de sangue conhecidos por endometriomas. "Os cistos causam dores e dificultam a gravidez. Além disso, a doença também provoca a formação de tecido endométrico fora da cavidade uterina", esclarece Abrão. Até na década de 60, a média era de 6,3 filhos por mulher, e a incidência dos casos era menor. "Antes as mulheres menstruavam menos, e também não faziam diagnósticos, assim, o número de casos era muito menor", afirma o médico.

A doença está dividida em estágios que vão do 1 ao 4 (mais grave) e pode ser tratada por meio de medicamentos administrados via oral ou através de procedimentos cirúrgicos como a Laparoscopia, que permite maior visualização e melhor abordagem das lesões. O procedimento reconhecido como minimamente invasivo resulta na introdução de um pequeno telescópio, chamado Laparoscópio, no umbigo da paciente. O equipamento ainda permite a visualização dos órgãos internos e, por isso, também é utilizado para a realização de exames. A Laparoscopia é aplicada tanto para detectar uma doença (Laparotomia diagnóstica) como parte de uma terapia (Laparotomia terapêutica). Já a Laparotomia requer incisão cirúrgica na parede abdominal. O tratamento clínico resulta na administração de medicamentos à base de progestagênios, associação de estrogênios e progestagênios e gestrinona, além de antiestrogênicos e anti-inflamatórios não hormonais.

Manifestação Silenciosa da endometriose

Os principais indicativos da doença são dificuldade para engravidar, alterações intestinais durante a época da menstruação, dificuldades para evacuar e desconforto durante a relação sexual, além de dores na barriga e cólicas. Por serem as dores abdominais sintomas corriqueiros, as mulheres costumam relacioná-las a simples cólicas menstruais, intestinais ou até mesmo à manifestação de gazes.

Detectar a doença não é algo tão simples e a necessidade de avaliações ginecológicas periódicas é ainda maior. Há casos em que os sinais são relacionados a outros problemas, como a apendicite, e exames como o ultrassom transvaginal detectam a presença de endometriomas. Por isso, comparecer ao ginecologista periodicamente é o primeiro mandamento da mulher que deseja se afastar do problema. Rosa Neme, ginecologista e diretora do Centro de Endometriose São Paulo, afirma que somente o acompanhamento rotineiro pode detectar distúrbios ou a doença em estágio inicial, já que os sintomas nem sempre são claros.

Andréia Murari (35), assistente comercial, só soube que estava com endometriose na mesa de operação. Ela conta que apesar de ter um sangramento intenso durante a menstruação não sofria de cólicas, por isso, não desconfiou da doença. Ao ser submetida a uma cirurgia para retirar um cisto de 77 cm3 no ovário, ficou sabendo que portava um endometrioma. Silenciosamente, a doença da assistente havia alcançado o grau IV - o último estágio da endometriose segundo a American Society of Reproductive Medicine. O nível de comprometimento de seus órgãos reprodutores indicava dificuldades para que ela engravidasse naturalmente. "Gerar um bebê só seria possível após tratamentos e por meio da fertilização in vitro", conclui.

Já Deborah Silva (20), que começou a menstruar aos 9 anos, descobriu a endometriose aos 18. Ela comenta que, apesar da pouca idade, seus ovários estavam tomados por cistos. "Na época, a chance de eu engravidar era pequena, cerca de 20%". Hoje, ela faz tratamento com pílulas anticoncepcionais e recuperou as chances de ter um bebê.

Além da gravidez tardia, fatores como ansiedade, estresse e predisposição genética precisam ser observados com atenção. Para Rosa Neme, a endometriose acomete mais as mulheres estressadas e pode estar relacionada a distúrbios na defesa do organismo, que alteram a formação do endométrio. "Mulheres que têm menos filhos e engravidam mais tarde, consequentemente, apresentam o estímulo do estrógeno por maior período de tempo e, além disso, estão mais expostas ao estresse. Ele diminui as defesas do organismo, que fica propenso à manifestação da endometriose", afirma Rosa Neme. Além das terapias e medicamentos para o estresse, a médica garante que medidas simples contribuem para a redução do problema. Alimentar-se de maneira equilibrada e zelar pelo sono saudável reduzem as possibilidades. Praticar exercícios físicos regularmente também auxilia na busca de tranquilidade física e mental e contribui para o fortalecimento do sistema imunológico.

Esperança na gravidez

Apesar da endometriose ser uma doença que pode causar esterilidade, o problema não deve ser encarado como o fim das possibilidades de ser mãe. Segundo Abrão, apesar dos índices altos, ficar fora da estatística não é algo tão difícil de alcançar. O segredo está no diagnóstico precoce e no tratamento adequado. Atualmente, o Brasil é referência mundial no tratamento desta que é doença ginecológica mais estudada.

Andréia Murari conseguiu engravidar tranquilamente após a cirurgia e o uso de medicamentos para evitar o ressurgimento da doença. Ela relembra que dois meses após interromper o uso das pílulas anticoncepcionais concebeu Yuri, que nasceu forte, com 3.580 kg e 50 cm.

Andréia teve o nível de sangramento menstrual reduzido após ter o primeiro bebê, mas isso não assegurou que ela se livrasse da endometriose. Ela precisou suspender o uso da pílula anticoncepcional e, sem ela, voltaram as dores com o diagnóstico de um novo endometrioma. Para engravidar novamente ela deveria refazer os tratamentos específicos, como a fertilização in vitro. Não precisou, meses mais tarde Andréia estava grávida novamente. "Essa doença perturba a cabeça das mulheres, mas quem deseja ser mãe não deve desistir", diz.

Déborah Silva, que também deseja ser mãe, afirma que os anticoncepcionais garantiram o controle das dores e estabilizaram o problema. "Fui informada de que a endometriose está controlada. Se eu parar de tomar as pílulas, a cegonha me contempla", alegra-se.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENDOMETRIOSE (ABEND)
Rua Claro de Camargo Sobrinho, 89 - Barueri - S.P.
Vila Pouso Alegre Tel: (11) 4198-8228
www.endometriose.org.br

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENDOMETRIOSE E GINECOLOGIA MINIMAMENTE INVASIVA (SBE)
www.sbendometriose.com.br

HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (HCFMUSP)
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255 - Cerqueira César - São Paulo - S.P.
Tel.: (011) 3069-6000
www.hcnet.usp.br

CENTRO DE ENDOMETRIOSE SÃO PAULO
Av. República do Líbano, 460 - Ibirapuera / São Paulo - SP
Tel.: (11) 3884-5792
www.endometriosesp.com.br