Educação dos filhos: TV e videogame
In medium stat virtus é uma expressão do latim que ao pé da letra significa - a virtude está no equilíbrio e é este o conselho de especialistas quando o assunto é a formação cultural das crianças. Atualmente, a influência e os estímulos da tecnologia e das mídias eletrônicas na formação dos pequenos são cada vez mais fortes.
Entre TV e videogame, sobra pouco espaço para atividades culturais, brincadeiras interativas ou qualquer alternativa que não envolva a tela, o controle remoto e o joysticks. "Hoje, os pais tendem a acatar os desejos e curiosidades das crianças pelas novidades desse tipo. Mas dessa forma, deixam de promover atividades importantes para o desenvolvimento da criatividade e da formação cultural das crianças", afirma Vera Lúcia Veiga, psicóloga e especialista em psicopedagogia pela PUC-Campinas. Para ela, atividades lúdicas e culturais, como o teatro, as visitas a museus e exposições e a leitura não são mera "perfumaria".
Ao contrário, são relevantes para a formação crítica, cidadã e humanística dos pequenos. Entretanto, impedir que eles assistam à tv ou joguem videogame também não é o indicado. "É preciso estabelecer equilíbrio entre esses universos porque ambos são importantes para a criança. Dessa mistura é que vai surgir o adulto.
Educação dos filhos: o exemplo é o melhor incentivo
Julia Assunção pode ser considerada uma ativista. Ela tem o ímpeto de corrigir quem quer que jogue papel na rua ou fique com a torneira aberta sem necessidade. Além disso, tem uma prática incomum nos dias de hoje, ela participa de saraus. Nos eventos, realizados ao lado de amigos da família, recita prosas e contextualiza as histórias que lê. A leitura é uma atividade que pratica assiduamente, cerca de cinco livros por mês. Ela também participa de passeios culturais com frequência. Para conhecer a história da cidade onde vive, São Paulo, um dos meios é o Turismetrô, programa do Metrô que contempla roteiros históricos nos fins de semana. O mais impressionante é que a dona dessa rotina tem 6 anos de idade e, além disso, não faz essas atividades por imposição da família.
Ele teve dos pais, a jornalista Alda Ribeiro e o escritor Moacir Assunção, a educação normal para a criança de sua idade. É filha única, os pais trabalham fora, portanto, desde pequena foi para a escola. Nos fins de semana, tem uma rotina similar à de outros pequenos, também assiste à televisão, vai ao shopping center, quer as bonecas da moda, mas tem nas atividades dos pais os exemplos que deseja seguir. Um deles são os saraus que o pai organiza com os amigos, dos quais sempre participa. Ela pediu a ele que a ensinasse a declamar rimas e prosas, ora reais, ora inventadas a partir das ilustrações. "As crianças precisam de incentivo e exemplo. Eu a levava desde bebê para oficinas com adolescentes e a Julia participava sempre", afirma Alda.
Maíra Cervi, mãe de Guilherme, de 8 anos, também acredita que cabe aos pais apresentar as possibilidades às crianças. Para ela, é preciso aproveitar essa fase de experimentação, quando ele pode absorver melhor o que lhe é ofertado. "Ter livros em casa, estimular conversas sobre assuntos diversos e propor passeios interessantes ajudam a criar interesse por atividades diferentes do habitual", recomenda. Foi assim com Guilherme. Após vivenciar exposições, peças de teatro e passeios a parques, o garoto passou a escolher o que realmente lhe agradava. Das visitas ao zoológico e ao Instituto Butantã, aprendeu a gostar dos bichos, em especial dos répteis, o que o fez se interessar pela biologia. Desse afeto aos animais, foi um pulo para que percebesse a importância da preservação ambiental.
Além do contato com a natureza, Guilherme aprendeu a recorrer aos livros, sem deixar de lado os programas de tevê. Para manter aguçado seu entendimento a respeito dos animais, fica ligado aos canais Animal Planet ou Discovery Channel. "Se os pais não apresentarem novas possibilidades às crianças, elas jamais terão como decidir sobre o que gostam. É importante ampliar o leque de possibilidades para que elas não caiam na mesmice", afirma. Maíra acredita que a escola também pode ajudar na tarefa. No caso da instituição onde o filho estuda, a metodologia aprecia o desenvolvimento cultural, artístico e musical das crianças, além de estimular o contato dos alunos com a natureza e experiências fora da sala de aula. "Os pais precisam batalhar na busca de uma escola parceira, cujos valores sejam parecidos com os seus".
A psicóloga crê na escola como um espaço importante que pode apresentar e promover às crianças experiências culturais significativas. "O ambiente escolar é um facilitador nesse processo. Principalmente para os pais que não têm tempo ou condições financeiras favoráveis para proporcionar atrações culturais e lúdicas a toda a família", lembra Vera. Quando se trata do uso do computador e do videogame, psicopedagoga é cautelosa e afirma que os pais precisam se informar antes de condenar o uso das tecnologias. O mundo moderno requer intimidade e habilidade com as máquinas e as mídias. "É preciso transitar por esses universos e apresentá-los às crianças. O que não é possível é deixá-las à mercê da televisão e videogame". No caso de Guilherme, a mãe escolheu lhe apresentar ao videogame há cerca de um ano e - "com moderação", como diz. Ela teme que o filho deixe de se interessar por outras atividades e que fique fissurado nos joguinhos.
Mas para a especialista, se a criança experimentar tantas possibilidades será difícil concentrar o interesse em uma só. "A criança não costuma praticar uma única atividade por opção, mas por não ter tido outras", atesta. Vera lembra que a criança não deve se isolar praticando coisas que estão fora do alcance de outras crianças. As atividades que desempenham atuam como fator de integração social. Ao praticar o mesmo que os amigos, criam vínculos, caso contrário, pode haver dificuldade de entrosamento. "A criança tem o dia todo para experimentar e é um ser aberto às possibilidades. Vale a pena mostrar a ela o mundo de coisas que nossa sociedade oferece", encerra.