Educação dos filhos: finanças
As crianças querem ter tudo. E os adultos não são muito diferentes. Mas, todos sabemos que, na realidade, ninguém pode ou tem tudo o que quer. Acostumar a controlar as finanças deve ser sempre incluído na educação dos filhos, especialmente através das escolhas, para não se chegar à vida adulta com comportamentos irresponsáveis e egoístas.
E, acima de tudo, infeliz. A observação é da educadora financeira Cássia D`Aquino, que há oito anos desenvolveu um programa de educação financeira para crianças e, hoje, orienta professores das redes pública e privada.
Ela afirma que uma forma saudável, responsável e prazerosa de lidar com o dinheiro se aprende desde a infância. E assinala que culpar a sociedade de consumo como o grande fantasma responsável pelo descontrole financeiro que aflige um número cada vez maior de pessoas não corresponde exatamente a uma verdade absoluta.
Isso porque as crianças de hoje vivenciam cada vez mais oportunidades de consumo. Especialmente filhos de pais que trabalham veem seus momentos de lazer quase sempre vinculados ao ato de consumir. Seja no shopping, no cinema ou na televisão, as situações de apelo e estímulo ao consumo se multiplicam.
Para controlar as finanças é preciso adiar desejos
"A maturidade financeira pode ser traduzida pela capacidade de adiar os desejos de agora em função de futuros benefícios", diz Cássia. Na verdade, avalia, a maioria das pessoas não pratica esses princípios em suas vidas. "O que, aliás, é bastante compreensível se levarmos em conta que é da natureza humana buscar a satisfação imediata para todos os desejos e necessidades." A citada maturidade financeira seria, nesse sentido, algo pouco natural.
Por isso, a necessidade de adotar a prática da educação financeira com os pequenos desde cedo, defende a especialista. "É ela que vai dar instrumentos para domar o ímpeto imediatista, o que se faz, ao longo do tempo, com treino e persistência". Porque a criança aprende muito cedo a desejar isso ou aquilo, assim como assimila "macetes" para conseguir o que quer. "Birra é um comportamento clássico, o importante é os pais aprenderem a respirar fundo e não ceder", diz.
Mas, por onde começar e o que fazer?
Um dos mais importantes sintomas de que as coisas não vão bem é a associação de afeto ao consumo. Também quando a criança sente-se inferior ao grupo, na escola, por exemplo, por hábitos e objetos de consumo, a situação merece maior cuidado. A tendência para ser pão-duro ou mão aberta também mostram que algo está fugindo ao equilíbrio desejável.
Educação financeira: Querer x precisar
Em primeiro lugar, é preciso distinguir o "querer" do "precisar". E lembrar que em qualquer área da educação o exemplo dos pais é um precioso instrumento. "As crianças são mais sensíveis ao que se faz que àquilo que se fala", observa a educadora financeira. Isso não elimina o valor do diálogo, diz, "mas, às vezes, a questão não é para papo e, sim, para ação." Vale, porém, admitir para os filhos que os próprios pais não foram ensinados a respeito, razão de algumas dificuldades na idade adulta.
É importante iniciar a educação financeira desde quando a criança é bem pequena, é importante apresentar a ela moedas e cédulas, apontando diferenças de tamanho, formato, peso e desenho que existe entre elas. A associação das moedas ou notas ao valor correto não deve ser uma exigência. Com o tempo isso vai acontecer naturalmente. No supermercado, farmácia, banca de jornal ou padaria, os pequenos podem entregar o dinheiro ao caixa. Para a educação financeira das crianças é bom que se acostumem cedo a conhecer palavras como troco, caro e barato, que serão rapidamente incorporadas ao seu vocabulário.
Outro aspecto relevante é o hábito de presentear sem quê nem por quê. A dica, nesse caso, é que os pais estabeleçam datas para isso (Natal, aniversário, dia das crianças), o que fará com que as crianças passem a compreender que, muitas vezes, é necessário esperar para obter o que desejam.
A mesada como ferramenta de educação financeira
Como ferramenta de educação financeira, a mesada tem seu lugar. "É como um antibiótico, que precisa ser administrado na dose e na hora certa para surtir efeito. Do contrário pode produzir estragos", afirma Cássia D`Aquino. Vale muito o bom senso dos pais na definição do valor adequado.
Aos três anos, a mesada já é uma prática válida, defende a educadora. Na faixa entre os três e seis anos é melhor que seja adotada a "semanada". Uma regra para calcular seu valor, ensina, é multiplicar a idade da criança por R$ 1, a cada semana. Respeitar datas e valores combinados é fundamental para a educação financeira da criança. É claro, pontua, que situações específicas pedem cálculos diferenciados, como, por exemplo, a inclusão de valores para a compra do lanche na escola.
Dos seis aos dez anos, a educação financeira para crianças ganha complexidade. Nessa idade, a criança já consegue planejar seu orçamento, diz Cássia, para quem é saudável deixá-la fazer escolhas e arcar com elas. Nesse momento, os pais podem conversar sobre a importância dos gastos e ajudar a estabelecer objetivos. Começa aí um processo de poupança. "O objetivo não é tornar seu filho um financista, mas ensinar a criança a respeitar um orçamento de determinado período e mostrar que uma parte do dinheiro pode ser guardada para saciar seus desejos."
A partir dos 11 anos, aí sim, vem a mesada. As ressalvas que a educadora financeira faz ao processo é que a orientação dos pais é fundamental para a educação financeira das crianças, assim como o respeito à periodicidade da semanada ou mesada. Dar uma graninha a mais uma ou outra vez também pode comprometer a iniciativa. E, muito importante, a prática não pode servir como instrumento de punição ou castigo, como vincular, por exemplo, o rendimento escolar ao ganho da mesada.
"Educação Financeira não é privilégio de crianças. Os princípios da educação financeira servem para qualquer idade. O grande macete para construir-se uma poupança é descobrir que poupar (com metas para o uso do dinheiro) é tão prazeroso quanto gastar. Quando alguém descobre este prazer, pronto, acabou-se o mistério e as dificuldades começam a desaparecer."
Para saber mais sobre o assunto, acesse o site: www.educfinanceira.com.br