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Educação dos filhos: falar de religião

Religião é um assunto delicado, principalmente, quando se trata de crianças. Falar sobre Deus ou a respeito de espiritualidade requer cautela até mesmo em uma conversa entre adultos, e quando se trata de ensinamentos de pai para filho, pode ser ainda mais complicado. Seja por convicção ou interferência cultural, os pais costumam transmitir seus valores religiosos ao longo da criação. Até então nada de errado, os problemas surgem quando os pais ultrapassam limites que podem, inclusive, desgastar o relacionamento com os filhos. 

Segundo a psicopedagoga Maria Irene Maluf, quando o assunto é religião, é preciso começar cedo. "Quanto mais um assunto é abstrato, mais cedo você tem que falar sobre ele". Para ela, o contato precoce com a ideia da existência divina leva as crianças a construírem, gradualmente, uma identidade religiosa que vai além dos gestos e ações. "Você vai passando para a criança não apenas hábitos como o de fazer o sinal da cruz e rezar para o papai do céu, por exemplo, mas também a ideia da existência de um ser maior que nos torna irmãos", afirma. 

A honestidade é o critério que, segundo Maria Irene, deve ser adotado na hora de passar os ensinamentos religiosos. A psicopedagoga afirma que esses valores não podem ser impostos como verdades absolutas: "É preciso ser sincero e dizer que você, como pai, não sabe tudo, mas que aquilo é o que você entende". Outro critério importante é manter o tema religião presente no dia a dia e demonstrar na prática aquilo que se ensina na teoria. "Se eu vejo meus pais agindo de certa forma, eu assimilo aquilo que ele faz e o que ele fala; não adianta ir à igreja e roubar em um jogo, por exemplo. É preciso combinar comportamento e fala", diz Maria Irene.

Educação dos filhos: ensino religioso na escola

Um recurso que pode auxiliar os pais na educação religiosa é o colégio. No entanto, Maria Irene afirma que é fundamental que tanto a família quanto os educadores fiquem atentos para não sobrecarregarem a criança quando o assunto é Deus. "Não podemos passar do limite do que os pequenos são capazes de suportar para que eles não criem aversão ao assunto-religião", explica. No caso de alguns colégios, o ensino religioso não se restringe apenas a uma crença, mas prega a existência de um único Deus e ensina as crianças a respeitarem as diferenças. É o caso do Colégio Nossa Senhora de Sion que, segundo a coordenação, mesmo sendo uma instituição católica, transmite valores universais, comuns à maioria das religiões, aos alunos - mesmo àqueles que não seguem o catolicismo, ou qualquer outra religião. Segundo a coordenadora do ensino religioso do Sion, Vaneide Chagas de Oliveira, "nas aulas de religião eles aprendem a conviver com as diferenças. Seja de classe social, raça, física e regional, de ação e pensamento e, inclusive, de religião". 

O colégio oferece uma aula por semana de Ensino Religioso para as turmas do Fundamental I e II (de 1º a 9º ano). "No ensino médio não há aula, mas os alunos participam de atividades diferenciadas como Encontro de Jovens, Voluntariado e Celebrações", explica Vaneide. O Sion conta com o Projeto Fé e Vida, equipe responsável por todas as atividades religiosas, formada por professores com estudo em Teologia, orientadores educacionais, um padre, uma religiosa da Congregação Nossa Senhora de Sion e um diácono. Além das aulas com conteúdo religioso específico, Vaneide diz que os valores que a escola segue são transmitidos no restante da grade: "O que foi aprendido se estende na medida em que se torna prática diária". 

Se o respeito entre as diferentes religiões faz parte dos fundamentos da educação do colégio Sion, a instituição conta com alunos de famílias evangélicas, judaicas, espíritas, entre outros. "Normalmente não temos problemas, pois os alunos têm espaço para expressar suas crenças à sua maneira", conta Vaneide. Faz parte da grade do curso conhecer um pouco de cada religião, em especial das muitas e variadas igrejas cristãs. Por causa da origem e do carisma da Congregação das Religiosas de Sion, o colégio também tem atenção especial com a comunidade judaica: "Acompanhamos pelo calendário as festas judaicas, estudamos seu sentido e nos alegramos com eles", conta a coordenadora que diz nunca ter tido aluno contestando a existência divina em sala de aula. "Se acontecer um dia, o respeitaremos e buscaremos conhecer qual a fundamentação da posição dele", completa. 

A posição do Colégio Adventista do Sétimo Dia quanto ao respeito por todas as crenças e pela opinião dos alunos é semelhante. Na instituição, o ensino religioso começa na educação infantil e se estende até o ensino médio. Segundo Eni Thames, coordenadora pedagógica de educação adventista, o colégio foca em valores: "O professor cria uma atmosfera permissiva e segura, estimulando uma consciência de Deus e do seu amor pelas pessoas". As aulas de religião são obrigatórias e distribuídas pelas séries de acordo com a faixa etária e as características dos alunos."Nós os encorajamos a pensarem por si mesmos, e mostrarem suas opiniões e valores", explica a coordenadora. O colégio ainda incentiva o desenvolvimento da consciência social por meio de projetos com famílias carentes da comunidade, asilos e orfanatos. Cerca de 70% dos alunos não seguem o adventismo. Segundo Enir, o objetivo não é ensinar a doutrina adventista, mas transmitir os valores que estão na Bíblia: "Damos ênfase à importância de um relacionamento com Deus, o que não fere nenhuma crença e religião". 

Livre para escolher uma religião

Mesmo sob os ensinamentos dos pais e do colégio, as crianças podem vir a rejeitar uma religião ou até mesmo a existência de Deus. Maria Irene Maluf afirma que esta atitude, geralmente, ocorre por dois motivos: "O filho tende a falar isso apenas para chocar os pais, é uma forma de chamar a atenção. O jeito é conversar e tentar entender o porquê da atitude". Já as crianças maiores podem realmente questionar sua identificação com uma religião. "Quando isso acontece, o que resta aos pais é respeitar, manter sempre o diálogo e tentar mostrar valores e demais aspectos que unem todas as religiões", aconselha a psicopedagoga. 

Andréa Aragão, administradora, e o marido, Kewton Esper Aragão, começaram a levar os filhos à igreja ainda bebês. Kewton Júnior, 9 anos, e Gabriella, 5, frequentam a missa e o grupo de oração e, mesmo estando acostumados aos ritos do catolicismo, às vezes contestam ou rejeitam certas práticas. "Nessas horas eu argumento que tudo o que temos é porque Deus nos permitiu ter, portanto precisamos pelo menos tirar um tempo para agradecê-lo", conta Andréa. 

As crianças, que estudam em escolas laicas, também já manifestaram curiosidade por outras crenças. "Júnior já perguntou à mãe o que era ser evangélico. Expliquei que são pessoas que acreditam em Deus e em Jesus, mas que pensam diferente dos católicos em determinados aspectos", diz a administradora, garantindo que zela para que os filhos respeitem as demais crenças. Assim, se as crianças decidiram mudar de religião ela não vai se opor: Acredito que meu papel é tentar mostrá-los um caminho. Não posso impedi-los de seguir outro, eles terão livre arbítrio ".

LEITURA ECUMÊNICA: A leitura é uma ótima ferramenta para auxiliar os pequenos no aprendizado sobre os valores religiosos. O livro "Vamos Conversar Sobre Deus", da catalã Angels Comella, traz a ideia de Deus como uma força única e universal, que não se restringe a uma religião específica. Segundo Rodrigo Coube, diretor da Idea Editora, que lançou a obra no Brasil, "A essência do livro é passar para as crianças a presença divina em tudo e em todos, é mostrar que todos têm uma parte divina dentro de si". Com muitas ilustrações, feitas pela própria autora, o livro mostra a existência de Deus na natureza, a pluralidade dos seres e a empatia entre os seres humanos. "O texto fala sobre a conexão que existe entre as coisas e pessoas, independente de raça, cultura, forma física e até posição na sociedade", diz Coube.

Religiões no Brasil

Catolicismo: a palavra vem do grego katholikos, que significa universal. A religião tem como ramo mais forte a Igreja Católica Apostólica Romana, seguida pela Igreja Católica Ortodoxa. A religião católica é a mais popular no Brasil, cuja predominância é a do Rito Romano. Além dele, há outros como os ritos Bizantino, de Antioquia, Armênio, Alexandrino e Caldeu.

Protestantismo: Surgiu,a religião, após a Reforma Protestante na Europa, no século XVI, capitaneado pelo monge agostiniano Martinho Lutero. Além da igreja Luterana, são protestantes os Presbiterianos, Congregacionistas, Anglicanistas, Baptistas, Metodistas, Adventistas e Pentecostalistas. O maior país protestante do mundo são os Estados Unidos, seguidos pelo Reino Unido, Nigéria e Alemanha. O Brasil está em oitavo lugar.

Judaísmo: é a mais antiga das religiões monoteístas e se apoia em três pilares: a Torá (livro sagrado), as Boas Ações e a Adoração. Segundo a própria visão religiosa, o judaísmo é uma religião ordenada pelo Criador por meio de um pacto eterno com Abraão, o patriarca do povo judeu, e seus descendentes. O Brasil possui a nona maior comunidade judaica do mundo.

Islamismo: surgiu na Península Arábica no século VII, baseada nos ensinamentos do profeta Maomé e nos escritos do Alcorão. A palavra islã vem do árabe islãm, que significa "submissão a Deus". Os islâmicos creem em um único Deus, Alá, nos profetas enviados por ele, nos anjos e no dia do julgamento final. É hoje a religião que mais cresce no mundo.

Espiritismo: é a crença segundo a qual a essência humana é baseada na existência de um espírito imortal. Os espíritas acreditam na reencarnação e na comunicação entre os vivos e os mortos, geralmente pelo intermédio de um médium. O termo espiritismo pode ser aplicado ao kardecismo, candomblé, umbanda, racionalismo, entre outros.