Educação dos filhos: excesso de atividades para crianças
Manter-se ocupado é realmente importante, inclusive para as crianças. Ter obrigações resulta em disciplina, em capacidade de administrar tempo, em flexibilidade e em socialização. Mas excesso de atividades não combina com o universo infantil. A prática pode resultar na perda de concentração e comprometer o aprendizado.
A presidente da Associação Nacional de Psicopedagogia, Maria Irene Maluf, defende um limite de atividades para crianças. "O mais importante para a criança é brincar, em segundo lugar vem a educação formal", afirma. A quantidade de compromissos diários de Heitor, 9 anos, preocupa sua mãe, a economista Jandira de Sousa Agrello. O menino estuda em período integral desde os 4 meses de vida e, atualmente, pratica futebol, xadrez, judô, inglês e espanhol. Há cerca de dois anos, ela percebeu alguns sinais de cansaço.
"Meu filho já não suporta mais essa carga horária. Ele deseja diminuir os compromissos para ficar em casa", conta. Quando Jandira percebeu que o único filho tornou-se mais irritado e desatento buscou auxílio de profissionais. Ela também combinou com a escola uma nova rotina para ele, que não leva mais deveres para fazer em casa.
Já a pedagoga constata que ultimamente tem mais atividades para crianças e a garotada está assumindo mais compromissos do que pode suportar. A carga horária dos pais e o desejo de formar bem os filhos contribuem para o aumento das atividades das crianças. Como passam a maior parte do dia fora, os adultos preferem preencher o tempo dos pequenos a deixá-los na companhia de outras pessoas. "Não podemos esquecer de que a infância é um período de aprendizado. Quem estiver desatento a isso corre o risco de formar adultos tiranos", alerta Maria Irene.
Sombra e água fresca
Até os 2 anos de idade o compromisso da criança é brincar. Depois dessa fase, os pais vão ensinando a meninada a ter rotina, a vislumbrar coisas novas e a se relacionar com pessoas diferentes. Mesmo assim, o período dedicado às brincadeiras deve ser maior que a quantidade de "estudo".
A partir dos 6 anos, a criança passa a desempenhar mais tarefas escolares e a responsabilidade aumenta com o passar das séries. Por isso, a lição de casa precisa ter hora para terminar. Também é importante reservar um período para praticar uma atividade extra. Tudo isso sem comprometer a hora de brincar.
Apenas na pré adolescência é possível reduzir o tempo dedicado às atividades lúdicas para cerca de 2 a 3 horas por dia. Se não configurar um compromisso, não há restrições para tocar um instrumento, pintar, desenhar, praticar esportes e brincar ao ar livre. As crianças precisam experimentar várias atividades e, a partir daí, manifestar interesse por alguma delas.
Os pais podem e devem incentivar as atividades para crianças, mas nunca forçar a prática de algo que ela não gosta ou com a qual não se adapta. Somente experimentando, ela poderá desenvolver interesse por áreas distintas. Embora a maioria da garotada seja praticamente incansável, o momento de ócio é fundamental. Elas não precisam necessariamente de um longo período de férias, mas o horário de brincar é sagrado.
Também é importante que os pais reservem períodos para participar de atividades com as crianças. Acompanhá-los em uma viagem e mostrar a eles coisas novas é muito enriquecedor. Apresentar atividades para crianças diferentes das que eles fazem comumente ou inusitadas pode ser estimulante e muito divertidos.
Tire sua dúvida
Alô Bebê: O que são atividades extracurriculares?
Maria Irene Maluf - Extracurricular é toda atividade para a criança complementar à formação praticada frequentemente e além da grade escolar. Pode ser um esporte, um curso de idioma ou de música.
Alô Bebê: Quais atividades extracurriculares são mais comuns?
Maria Irene Maluf - Apesar da variedade de hoje, as atividades para crianças mais comuns são inglês e espanhol, as artes marciais e o futebol. A computação, as aulas de reforço escolar e as de arte (pintura, teatro, música) vêm na sequência e ajudam a compor a agenda de boa parte da garotada.
Alô Bebê: Com qual idade a criança pode ter atividades extras na agenda?
Maria Irene Maluf - Para a turminha de até 6 anos de idade uma atividade extra é suficiente. Paulatinamente, é possível incluir outras modalidades no currículo. Para quem passou dos 6, 7 anos, conciliar o aprendizado de um idioma à prática a um esporte, por exemplo, pode ser positivo. Essa regra varia de criança para criança, pois algumas têm mais pique ou desejo de praticar determinada aula.
Alô Bebê: Atividades de auxílio doméstico são consideradas extras?
Maria Irene Maluf - Depende da forma. As crianças precisam ser estimuladas a vencer dificuldades e, se pequenas tarefas forem usadas para exercitar seu aprendizado, pode ser importante para a autoestima e socialização delas.
Alô Bebê: A partir de qual idade pode-se incluir o ensino de idiomas na rotina das crianças?
Maria Irene Maluf - A meninada pode ser estimulada a ouvir outra língua a partir do momento em que já consiga expressar o idioma materno. A escrita e a leitura podem ser ensinadas após a fase de alfabetização. A maioria das escolas, inclusive, apresenta limite de idade para a matrícula.
Alô Bebê: A partir de qual idade elas podem praticar esportes?
Maria Irene Maluf - As aulas de esportes precisam ter aval de um especialista, porque cada modalidade tem suas particularidades. Não atentar para isso, pode comprometer o desenvolvimento físico ou a saúde da criança. A natação, por exemplo, é indicada até para bebês. Outras como balé, o hipismo e ginástica olímpica exigem idade mínima.
Alô Bebê: Quais atividades são indicadas para cada tipo de criança?
Maria Irene Maluf - Depende, as crianças mais tímidas e retraídas devem praticar atividades que as incentivem a uma maior exposição, como artes cênicas e música. Entre os esportes, os coletivos são mais indicados por sua capacidade de socialização. As atividades para crianças mais indicadas para as mais agitadas, carecem de esportes disciplinadores, que as façam gastar energia. As artes marciais e natação são boas dicas. Os mais extrovertidos precisam de atividades nas quais essa característica possa ser aproveitada.
Alô Bebê: A leitura pode ser considerada atividade extracurricular?
Maria Irene Maluf - A leitura é muito interessante, principalmente para quem descobre os livros desde cedo. As crianças conseguem vivenciar aventuras contidas nos livros de forma prazerosa e divertida. Já a leitura voltada às tarefas escolares é um recurso do aprendizado, usada para interiorizar conhecimento.