logo Alô Bebê
 

Educação dos filhos: as finanças

Administrar o dinheiro, pagar contas, poupar, investir. Estas ações soam absolutamente como tarefas – nada fáceis – para gente grande. No entanto, especialistas afirmam que educação financeira precisa começar antes da adolescência e, de preferência, em família.

As finanças costumam ser um assunto delicado, que pode, inclusive, gerar discórdia entre os familiares. Desenvolver a consciência dos pequenos é uma missão que não pode ser delegada apenas para a escola – é preciso começar em casa. O pequeno Gabriel tem apenas oito anos e já ganha algum dinheiro trabalhando como modelo em campanhas publicitárias.

Sua mãe, a produtora de eventos Luciana Alabi, 32 anos, é quem controla os ganhos do filho. Apesar de achar que ele merece desfrutar o dinheiro de seu trabalho, opta por não lhe dar mesada. “Dividi o cachê em duas partes: uma eu permito que ele gaste aos poucos com as coisas que ele gosta, a outra foi depositada em uma poupança”, conta. O único dinheiro que Gabriel recebe é creditado em um cartão que ele usa para comprar lanche na cantina do colégio. Luciana acredita que deixar uma boa quantia de dinheiro nas mãos de uma criança tão pequena pode ter resultados desastrosos.

“Se ninguém segurar, o Gabriel compra o mundo inteiro. Ele não ganhou um enorme cachê, mas já vai aprendendo a dar valor ao dinheiro.” Ela ainda acha que o filho é muito imaturo para administrar uma mesada, mas pretende repensar o assunto quando ele estiver um pouco mais velho. “Ele ainda é muito pequeno, não tem noção do que é pagar contas. Isso é realidade de adulto.”

Gastar com consciência
Seja coisa de adulto ou não, o fato é que administrar dinheiro  é uma tarefa complicada. E por isso mesmo é melhor começar a aprender como fazer isso o quanto antes. É o que afirma Amerson Magalhães, diretor do Easynvest, plataforma de negociações online da Título Corretora de Valores. Para ele, é possível fazer isso de formas menos maçantes, como por meio de livros, ou ao associar o assunto às disciplinas aprendidas no colégio. “O principal fator para uma boa educação financeira é desenvolver a consciência de saber quanto se ganha e conseguir controlar
e planejar os gastos”, explica.

Para que a criança cresça com a noção de que é imprescindível ter equilíbrio na hora de gastar, ela precisa de bons exemplos em casa. E isso vai além da forma como os pais se organizam com suas próprias contas. Uma família que não dá freios aos filhos e permite que eles torrem dinheiro sem limites está passando uma mensagem equivocada. “A postura descontrolada ensina a criança a ser impulsiva, ela acaba com a percepção de que pode comprar tudo a qualquer momento.” O oposto também não é recomendável: se a criança não tem nenhum com dinheiro, ela não desenvolve consciência alguma.

A hora certa de dar mesada
Caroline tem dez anos e ganha mesada desde os sete. A mãe, a jornalista Luciana Priani, de 35 anos, conta que quem começou a dar o dinheiro à filha foi o avô materno. “Ele achava que ela deveria adquirir noção do que é dinheiro desde pequena”, diz. A tática deu certo – e rápido. A menina guardou suas primeiras mesadas até inteirar a quantia para comprar um carro de bonecas. A mãe comemora o bom-senso da filha. “Nunca falamos muito sobre poupar, mas ela sempre teve essa noção. É bom porque o consumismo entre as crianças está cada vez pior, e as que não têm noção de como funciona acabam pedindo coisas o tempo todo”, afirma.

Embora a mesada seja um passo importante, as crianças já devem conviver com o dinheiro antes disso. É o que afirma o economista e escritor Álvaro Modernell – pai de Leo, nove anos, e de Lorena, oito. “Os filhos podem ter um cofrinho para juntar moedas, pagar um sorvete de vez em quando. São pequenas coisas que fazem parte do preparo para quando a criança começar a ampliar seus horizontes e ter contato com números e letras. Aí depois, de fato, a educação financeira pode ser inserida.” Pular essa etapa introdutória pode fomentar sentimentos negativos na criança que ainda não tem embasamento para administrar o dinheiro, como desmotivação e frustração.

Para Álvaro, a educação financeira não passa de um aspecto da educação “normal”. Por isso a presença dos pais, aliada ao carinho e à paciência de ensinar, é  imprescindível para obter bons resultados. “O dinheiro está presente em quase todas as relações humanas, e é preciso conviver com isso.” Em casa, o economista testou todas as suas teorias e obteve resultados positivos. “Como pai, tenho muito orgulho da forma como eles juntam dinheiro, fazem planos, aceitam tanto o ‘sim’ quanto o ‘não’. Para a idade deles, são muito maduros.”

Lições de empreendedorismo
Assim como Gabriel, que teve metade de seu cachê como modelo-mirim depositado em uma poupança, Caroline também já está aprendendo com a mãe sobre investimentos. Luciana adquiriu um título de capitalização para a filha assim que ela nasceu, e pensa em resgatar os investimentos no futuro para ajudar nos estudos. Segundo Modernell, essas atitudes dão aos pequenos uma visão de futuro saudável, além de noções de empreendedorismo. “A criança pode ter acesso aos prazeres que o dinheiro é capaz de proporcionar, mas é preciso conhecer os dois lados. Mais uma vez, é tudo uma questão de equilíbrio.” 

Como lidar com dinheiro 

Confira algumas dicas para acertar a hora de começar a dar mesada a seu filho: 

  • As crianças podem começar a receber mesada quando atingirem a fase de alfabetização – entre os seis e sete anos;

 O ideal é dar a mesada em dinheiro; é difícil uma criança saber lidar com cautela com cartões de débito ou crédito;

 

  • A quantia dada na mesada deve ser calculada com bom-senso, de acordo com  a renda da família e com a realidade da criança. No começo, é melhor dar uma quantia menor em dinheiro a cada semana; basta aumentar a periodicidade para 15 em 15 dias, antes de dar o dinheiro do mês uma vez só;
     
  • O principal para que um filho aprenda a administrar seu dinheiro é sempre o bom exemplo dos pais – assim como a educação que eles recebem na escola;
     
  • Se a criança já tem idade um pouco avançada e apresenta sinais de descontrole em relação ao dinheiro, os pais não precisam entrar em desespero; nunca é tarde para aprender. Mas é importante ligar o sinal de alerta antes da adolescência.