Educação dos filhos: aprender um idioma estrangeiro
Uma das perguntas mais frequentes dirigidas a professores e psicólogos é: Com a globalização e a crescente importância da língua inglesa no mercado de trabalho brasileiro, a questão preocupa cada vez mais os pais que, acertadamente, veem o domínio de uma língua estrangeira como um bônus e diferenciador para o momento de entrada de seus filhos nesse concorrido mercado.
Já há muito tempo sabe-se que quanto mais cedo uma pessoa aprende uma língua, mais fácil, natural e efetivo será esse aprendizado. Há alguns anos, descobriu-se ainda que as sinapses - ligações entre os neurônios - levam algum tempo para terminar de se formar nas crianças e o ensino de várias habilidades, entre elas as línguas, na época certa, ou seja, antes dessas sinapses estarem totalmente prontas, permite um aprendizado tão fácil e efetivo como nunca mais poderá existir. No caso das línguas estrangeiras, por exemplo, a criança aprenderá a falar sem absolutamente nenhum sotaque, coisa dificílima após esse período.
Graças a essas descobertas, tem-se incentivado um aprendizado de outro idioma precoce, bem como surge uma "febre" de escolas bilíngues, onde se fala somente a língua estrangeira em todas as atividades e durante todo o período em que a criança está na escola.
Essa "moda", porém, deve ser pensada com bastante cuidado. Se olharmos a criança como um "computadorzinho" pronto para receber dados e informações, a decisão é fácil de se tomar: ensinemos tudo o que pudermos, quanto mais e quanto antes, melhor.
Devemos lembrar, porém, que fatores emocionais e sociais influem e pesam enormemente na vida e na formação da personalidade de uma criança. Assim como ela é aberta para aprender novas habilidades e conhecimentos, ela também está aberta para receber, perceber e ser influenciada pelo ambiente que a circunda, com suas pressões, exigências, experiências de amor, carinho, conflitos. Eles terão papel importante nos seus sentimentos de segurança, adequação, pertinência a um grupo social, ou, ao contrário, sensações de angústia, insegurança e medo.
O ensino de uma língua para crianças pequenas toca nesse ponto, na medida em que será uma experiência positiva somente se for incluído na formação cognitivo-emocional da criança como algo leve, natural, sem pressões, e principalmente, sem atropelar ou desconsiderar os aspectos emocionais que numa criança pequena são de extrema importância.
É importante lembrar que o contexto em cada família é diferente. Há vários casos em que matricular uma criança em uma escola bilíngue é a melhor opção, como, por exemplo, se os pais são estrangeiros e falam a língua em questão em casa, ou se a família vai mudar-se para o exterior, pois nesse caso a nova língua estará no centro da vida da criança.
Colocar, porém, uma criança pequena em uma escola onde ela só ouça uma língua que desconhece e não usa nem vê ser usada em seu dia a dia pode fazê-la sentir-se extremamente insegura, perdida, sem referenciais, principalmente nos casos em que os pais não sabem e não falam essa língua em casa.
Deve-se pensar e pesar a situação específica, com suas peculiaridades e necessidades, e principalmente tentar levar-se em conta todos os aspectos da vida, a fim de não exagerar-se na atenção dada a uma área em detrimento de outras.
Para o caso da maioria dos brasileiros, que veem a real importância de saber-se inglês atualmente e querem que seus filhos aprendam bem e sem dificuldades, o conselho é que comecem cedo. Há ótimos cursos para crianças bem pequenas, de três anos ou até um pouco menos, mas é fundamental escolher uma escola ou professor que ensine de forma bastante lúdica, natural e sem pressões, de maneira gradual e prazerosa.
Para crianças um pouco maiores, de aproximadamente oito anos até a adolescência, deve-se escolher cursos que deem ênfase à conversação, ao uso funcional da língua, prezando-se sempre a inteligência, espontaneidade e envolvimento do aluno. As aulas individuais ou em pequenos grupos com professores particulares são também bastante adequadas para essa faixa etária, já que o professor acaba por conhecer profundamente o aluno, seu ritmo, suas necessidades, dificuldades, falhas.
Ele pode, então, trabalhar diretamente esses aspectos sem que a criança se desestimule por ter de estudar conteúdos que já domina, o que ocorre com frequência nas aulas em classes, onde o aluno tem o tempo total de aprendizado muito reduzido ao ter de dividir com os outros alunos as oportunidades de falar, de ser ouvido e corrigido em seus problemas específicos.
O importante, em suma, no ensino de uma segunda língua para crianças de todas as idades, é que nunca se deixe de levar em conta a criança como um todo, com seus aspectos cognitivos (intelectuais) e emocionais, tornando o aprendizado um ponto a mais na soma de todos os outros que contribuirão na formação de uma criança bem preparada, bem estruturada e feliz.
Tani Brzostek Muller (Professora de Inglês)