Educação dos filhos - repetência escolar
Começo de ano é sempre movimentado para quem tem filho na escola. As economias transformam-se em matrícula escolar, uniformes e material didático. Mas esse também é o período ideal para aqueles que não tiveram um bom rendimento no ano anterior.
Para a presidente nacional da ABPp (Associação Brasileiras de Psicopedagogia), Irene Maluf, os pais precisam identificar quais razões interferem no aprendizado de seus filhos, com ajuda de um profissional e esse passo deve ser dado logo no início do ano letivo. "Os pais costumam levar os filhos ao psicopedagogo quando o risco de perder o ano é iminente ou depois de já ter ocorrido. O ideal é que esse aluno seja acompanhado já no primeiro semestre do ano".
Segundo ela, a criança sente-se envergonhada com seu desempenho e isso dificulta a retomada dos estudos. Para muitas gerações, "passar de ano" não significava apenas ser promovido para a série seguinte. Assim como a antiga repetência era tortuosa e vexatória, ser transferido para uma escola mais "fraca" ou promovido para a série seguinte sem preparo também traz temor e representa constrangimento perante os amigos e a família.
A criança carrega sentimentos de frustração e de culpa por não ter correspondido às expectativas e aos investimentos dos pais e esse sentimento pode comprometer ainda mais o aprendizado do aluno. "Elas refazem a série com a ansiedade e essa pressão pode comprometer as capacidades de aprendizado e de raciocínio", explica Irene.
Por isso, é fundamental que a família procure auxílio profissional a tempo e detecte as razões da falta de desempenho e as maneiras de contornar o problema. Dessa forma, é possível resgatar a auto estima e incitar a motivação do aluno. Para Irene, a falta de motivação é o fator que mais interfere no rendimento escolar, e recuperá-la é fundamental.
No caso de crianças cujas dificuldades são setoriais, não conseguem assimilar determinado conteúdo de uma disciplina, o reforço com aulas particulares pode solucionar a questão. Mas quando o aluno não assimila a disciplina ou tem dificuldade de raciocínio, é necessária a intervenção e orientação de um psicopedagogo.
Causa e consequência
Além da falta de motivação, outros fatores contribuem com o boletim vermelho e algumas vezes com a repetência escolar. Há casos de falta de atenção, esgotamento, estresse e até falta de adaptação à metodologia pedagógica. Portanto, matricular a criança em uma instituição cujo método seja coerente com seu comportamento e com a criação dos pais pode resultar em maior envolvimento do estudante, mais motivação e melhoria de autoestima.
A psicopedagoga chama atenção para os casos em que as crianças apresentam uma longa jornada de atividades diárias. Segundo Irene, o ideal é que ela tenha tempo para estudar além do horário de aula e que lhe seja reservado um momento para as brincadeiras e para o ócio.
A solução é reorganizar a agenda do estudante. Outro problema comum são as aptidões extraescolares. Há casos em que o talento das crianças para atividades extraescolares, como esporte e música, prejudica o desempenho na escola. "Os pais não podem deixar de desenvolver a intelectualidade do filho em nome de um suposto talento, nem substituir os estudos por qualquer outra atividade".
O indicado seria que as crianças desempenhassem essas atividades em tempo livre. Administrar as carências e o estresse infantil também é importante para recuperar o desempenho na sala de aula. A vida moderna limita a convivência entre pais e filhos; como consequência, o pequeno pode apresentar falta de concentração, irritabilidade e falta de sociabilização. Nesse caso, os pais precisam aproximar-se mais dos filhos e tornar o período de convivência proveitoso, aconchegante e agradável.
Além dos pais, os professores têm papel fundamental na recuperação do estudante. Eles precisam conhecer as potencialidades e déficits da classe e atualizar-se quanto ao conteúdo e às novidades tecnológicas que rodeiam o cotidiano da criança. "Os alunos chegam à escola com muita informação e o professor precisa administrar o conteúdo transmitido pela mídia e internet", afirma a coordenadora do curso de pedagogia do Centro Universitário São Camilo, Luci Fernandes. Para ela, informação é importante, mas o excesso e a maneira como ela chega podem deturpar o entendimento da criança. Para organizar as ideias e conseguir formar opinião, as mensagens precisam ser trabalhadas. "Informação não é o mesmo que conhecimento".
Avaliar o desempenho integral da criança e ressaltar suas potencialidades também é importante para resgatar sua autoestima. Por isso, Luci entende que a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases) 9394/96, que mudou as tradicionais avaliações de desempenho e repetência, promoveu um avanço. Ela assegura uma análise qualitativa de desempenho. "Não podemos avaliar o aluno apenas pelas provas mensais ou bimestrais, a avaliação precisa ser contínua".
Desde 1996, também cabe ao estabelecimento de ensino "prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento" e "informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento o aluno...". Sob essas regras, professores e pais passaram a ter mais responsabilidades sobre o desenvolvimento intelectual dos pequenos.
O trabalho conjunto pode proporcionar melhor rendimento na sala de aula e mais satisfação para pais, alunos e professores.