Doutores da Alegria
"UTI não é lugar de palhaço" disse a médica do Columbia Presbyterian Hospital de Nova Iorque. "Nem de criança", respondeu o fundador do programa The Big Apple Circus Clown Care Unit, que originou os Doutores da Alegria. Em 1986 o ator Michael Christensen, então diretor dos clowns do Big Apple Circus de Nova Iorque, foi convidado a fazer uma apresentação voluntária em uma confraternização entre médicos e antigos pacientes de cardiologia pediátrica, onde realizava um transplante de nariz vermelho e uma transfusão de milk shake, não podia imaginar, nem de longe, a fantástica reação do público local.
Empolgado, pediu para visitar as crianças internadas que não puderam participar do evento, e apresentou-se como o "novo médico" do hospital. O resultado foi surpreendente: crianças que se encontravam deprimidas e apáticas participavam ativamente dos jogos propostos pelo "médico de mentirinha". A partir daí, foram abertos novos canais de comunicação; e as imagens traumáticas foram substituídas por procedimentos alegres e engraçados.
O trabalho foi ganhando a simpatia e o respeito dos pais e profissionais da classe médica e se estendendo às áreas de acesso restrito ao grande público (U.T.Is, isolamento máximo e outras). Hoje, o Clown Care Unit, criado a partir do Big Apple Circus, uma das maiores organizações culturais sem fins lucrativos de Nova Iorque, possui artistas em 10 dos mais importantes hospitais daquele estado americano, Washington, Boston e Seattle.
Contagiados por essa alegria, 3 artistas do grupo fundaram "programas-irmãos" no Brasil, França e Alemanha. Então, no começo da década de 90, o ator Wellington Nogueira retorna ao Brasil, após 9 anos em Nova Iorque, com o sonho de fundar aqui os "Doutores da Alegria".
Em setembro de 1991, o Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo, após um processo de modernização interna, comprometeu-se com a causa da humanização hospitalar, percebendo que um paciente feliz tem predisposição maior para a cura. O sonho de Wellington começava a se realizar.
Logo, o projeto começou a tomar forma e um casal de artistas começou a visitar, duas vezes por semana, quatro horas por dia, as crianças internadas, inclusive na UTI e na Unidade de Cirurgia Ambulatorial.
A "Dra. Emily", (a atriz Vera Abbud) primeira "besteirologista" treinada no Brasil, se revelou um verdadeiro achado. Com o trabalho em dupla, o programa passou a existir de verdade, segundo os padrões do seu irmão americano. Transplantes de narizes vermelhos, bolhas de sabão, mímica, mágica, música. A missão dos Doutores da Alegria é levar uma luz muito divertida ao coração das crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde, partindo da premissa de que o humor é recurso essencial para auxiliar a superar traumas inerentes ao processo de enfermidades e internações, e para restituir a alegria, como parte inteligente de suas vidas.
O trabalho dos Doutores da Alegria não é voluntário, pois é impossível conseguir o comprometimento de uma equipe de profissionais com a carga horária exigida pelo programa sem remuneração adequada, além de ser extremamente específico, exigindo técnica e profissionalismo.
Os artistas dos Doutores da Alegria passam por uma seleção muito rigorosa, que leva em conta a sensibilidade, senso artístico, talento, criatividade, capacidade de entrega, dedicação e habilidade.
O diretor artístico e supervisor do programa Doutores da Alegria nos hospitais, Wellington Nogueira, informa que ele próprio executa um relatório mensal para que o hospital e patrocinadores possam estar a par do desenvolvimento dos trabalhos. Além disso, nos ensaios mensais com o elenco, a orientação e a revisão dos treinamentos dos Doutores da Alegria são temas constantes, juntamente com a discussão dos casos específicos.
Wellington, o "doutor Zinho" do grupo, se emociona ao falar de uma de suas pacientes mirins: "quando nós tocávamos Biquíni Amarelinho, ela começava a dançar. Preparava números junto com a mãe, para mostrar para a gente. No fim, a expectativa era nossa".
Os Doutores da Alegria são treinados e orientados pela equipe médica do hospital em que trabalham, para poderem exercer suas funções nas U.T.Is, no isolamento, nos quartos e até mesmo para acompanhar uma criança mais temerosa até o centro cirúrgico, acabando por criarem uma relação sólida de amizade e confiança com a criança: " meu filho sabia o dia e a hora exata em que eles vinham visitá-lo; esperava por eles ansiosamente e procurava estar em sua melhor forma para poder brincar o máximo possível", declara a mãe de um jovem paciente.
A colaboração que se desenvolve entre os profissionais da área médico-hospitalar e os Doutores da Alegria é uma das razões do seu sucesso. Por serem "médicos" associados a uma imagem positiva e engraçada, os jovens pacientes, depois das visitas, sentem-se mais à vontade com os verdadeiros médicos.
Mais informações: http://www.doutoresdaalegria.com.br/