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Doenças de adulto em crianças


Obesidade, hipertensão, diabetes, estresse. Doenças que preocupam cada vez mais adultos em todo o mundo já exibem números alarmantes no país. Segundo o Ministério da Saúde, 23,1% da população brasileira com 18 anos ou mais sofre de hipertensão, 5,3% tem diabetes e 13% é obesa. O problema maior é que, além de esses dados aumentarem exponencialmente ano a ano, essas doenças, que até pouco tempo eram coisa de gente grande, começam a atingir um novo público: crianças e adolescentes.

Uma pesquisa realizada pela Força Tarefa Latino-Americana de Obesidade (entidade que reúne as principais organizações que combatem o excesso de peso) aponta que 30% das crianças brasileiras são obesas, um aumento de 240% nos últimos 20 anos.

O número de jovens estressados também cresce ano a ano. São várias as causas apontadas, mas a principal delas parece ser unanimidade: o estilo de vida moderno. Má alimentação, sedentarismo e rotinas cada vez mais parecidas com as dos adultos prejudicam o metabolismo infantil e fazem com que as crianças desenvolvam cada vez mais cedo os males associados ao avanço da idade, como estresse e hipertensão.

Para evitar essas doenças, os médicos recomendam que os pais tomem cuidado com aspectos como histórico familiar de enfermidades, problemas de fundo psicológico e, principalmente, com a qualidade de vida de seus filhos. A Alô Bebê consultou especialistas nos principais males da vida adulta que invadiram o universo das crianças e preparou um guia para que os pais se informem e evitem, desde cedo, que estes problemas apareçam.

HIPERTENSÃO INFANTIL

O que é? 
Ser hipertenso significa ter pressão arterial acima do que é considerado normal, sendo que este índice varia de acordo com a faixa etária, peso, altura e diversos outros fatores.

Quais são as causas? 
Além de cardiopatias, doenças congênitas e predisposição genética, fatores como obesidade, sedentarismo, colesterol alto e estresse desencadeiam o problema.

Quais são as consequências? 
Os sintomas são dores de cabeça, "faíscas" vermelhas nos olhos, tonturas e até desmaios, e costumam aparecer apenas quando órgãos vitais, como coração, pulmões e rins, já estão comprometidos.

O que os pais podem fazer para evitar? 
Cuidar da alimentação dos pequenos, evitar o excesso de sal e de gordura trans (responsável pelo colesterol) e cobrar do pediatra a medição periódica da pressão arterial, para detectar e tratar possíveis disfunções o quanto antes. 

A hipertensão é uma doença silenciosa. É por isso que Célia Maria Camelo Silva, cardiologista pediátrica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) recomenda que o acompanhamento dos índices médios de pressão arterial seja feito pelos pediatras. "O diagnóstico precoce evita problemas maiores no futuro. Trata-se de uma doença traiçoeira, em que os sintomas só aparecem quando órgãos vitais já foram comprometidos." Ela também ressalta que não é possível diagnosticar um caso de hipertensão com base em uma única medição. Portanto, o acompanhamento médico, independentemente de qualquer sintoma ou predisposição, é indispensável. "Quando os pequenos vão ao médico, eles podem estar tensos, e, assim como todo mundo, eles estão sujeitos a variações. O que preocupa é quando o quadro de pressão alta se torna constante."

OBESIDADE INFANTIL

O que é? 
É uma pessoa que ultrapassa muito o IMC (índice de massa corpórea) ideal para sua altura.

Quais são as causas? 
Consumo de mais calorias do que se pode gastar, alimentação rica em açúcares e gorduras e pobre em vitaminas, estresse proveniente do excesso de atividades diárias, falta de sono, sedentarismo e predisposição genética.

Quais são as consequências? 
Aparecimento de diabetes, hipertensão e apneia, que podem desenvolver doenças cardiovasculares e depressão, fruto da discriminação a que as crianças obesas estão sujeitas.

O que os pais podem fazer para evitar a obesidade infantil? 
Oferecer alimentação saudável e balanceada, diminuir doces e fast-food, proporcionar momentos de lazer e atividades ao ar livre, incentivar o exercício físico. 

Segundo o pediatra e especialista em obesidade infantil Nataniel Viuniski, estudos apontam que mulheres obesas têm dez vezes mais chances de ter filhas com o mesmo problema - no caso de homens, as chances de gerar filhos obesos são seis vezes maiores. "Isso mostra que a família influencia tanto no lado genético quanto no comportamental, já que meninas e meninos têm os pais como exemplo." Por isso, o médico ressalta a necessidade de cuidado redobrado em caso de histórico familiar de obesidade. Além disso, é imprescindível manter uma rotina saudável para toda a família, com dieta equilibrada e a prática de exercícios. "As crianças do século 20 jogavam futebol, corriam, iam e voltavam a pé da escola. Hoje em dia, só se joga futebol no videogame", compara.

DIABETES INFANTIL

O que é diabetes? 
A doença é caracterizada pelo excesso de glicose (açúcar) no sangue.

Quais são as causas? 
A diabetes tipo 1 é fruto da baixa produção de insulina, substância fabricada pelo pâncreas; já a do tipo 2 é causada por maus hábitos alimentares e estilo de vida sedentário.

Quais são as consequências?
Comprometimento da cicatrização e da coagulação do sangue, retenção de líquidos, hipertensão, problemas neurológicos e renais.

O que os pais podem fazer para evitar o diabetes infantil? 
Incentivar a prática de atividades físicas regulares e oferecer uma dieta saudável, com quantidades moderadas de doces e carboidratos. 

A boa notícia para os pais de crianças diabéticas é que os sintomas e complicações da doença se apresentam de forma menos grave do que nos adultos. "A duração do processo em uma pessoa mais madura leva a consequências mais graves que em uma criança", afirma Carlos Nogueira, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia. Além disso, nos pequenos é possível prevenir o desenvolvimento de diabetes e chegar à cura - ou, no mínimo, ao retardamento do progresso da doença. O médico recomenda que o controle da diabetes tipo 2 seja feito por meio de reeducação alimentar, o que não implica em um processo de mudança radical; é possível ter doces na dieta, desde que de forma moderada. "O que muda na rotina da criança é que ela precisa ser tratada como portadora de uma doença crônica. Isso não significa cortar definitivamente os doces, mas sim oferecer a ela o acompanhamento necessário para controlar a doença."

ESTRESSE INFANTIL

O que é estresse infantil? 
É o excesso de adrenalina no organismo que faz com que a pessoa não consiga relaxar.

Quais são as causas? 
Rotina muito intensa, com excesso de atividades, responsabilidades e pressão psicológica, falta de lazer e de tempo com os pais.

Quais são as consequências?
Dores de cabeça, de estômago e no corpo, irritação, cansaço excessivo, ansiedade, gastrite nervosa, distúrbios de sono e de atenção.

O que os pais podem fazer para evitar o estresse infantil? 
Não sobrecarregar a agenda dos filhos e proporcionar a eles momentos de lazer e descanso alternados com as atividades obrigatórias. Ouvir música, ler, escrever, desenhar ou simplesmente brincar com os amigos são tão importantes quanto as outras atividades. 

Para Dayse Maria Motta Borges, professora da Faculdade de Psicologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, os pais não podem esquecer que seus filhos são crianças e que, portanto, estão mais vulneráveis às pressões do dia a dia. "Quando as crianças já são ansiosas por natureza e são muito cobradas para serem as primeiras da classe, por exemplo, elas tendem a desenvolver um quadro de estresse extremo que pode requerer até intervenção médica", alerta. A psicóloga afirma que os pequenos não possuem experiência de vida suficiente e, com imaginação mais fértil, são mais frágeis que os adultos. "É preciso ter muita paciência com os filhos, e se dedicar a eles. Afinal de contas, eles são apenas crianças."