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Desenvolvimento infantil


 

Nós, adultos, estamos a todo momento revendo nossas atitudes, nos questionando, tentando modificar aquilo que mais criticamos em nossa personalidade, aprendendo com os erros, nos transformando emocionalmente. É bonito pensar que somos seres em eterna evolução. No mundo dos adultos, todas essas modificações acontecem em nível mental e contamos com a certeza de que nosso corpo já está formado e muito menos passível das transformações drásticas que acontecem na vida de uma criança.

Isso significa que a criança está sujeita a uma dupla jornada. Ao mesmo tempo em que tem seu corpo em constante alteração, também a mente modifica-se, tentando se adaptar a esse turbilhão da forma que pode. Cresce e sofre os conflitos naturais que essas mudanças implicam. Se conseguíssemos nos colocar em seu lugar, mesmo que por instantes, talvez poderíamos compreender como é conturbado esse período do desenvolvimento infantil.

O desenvolvimento infantil passa por diversos momentos, penso no trauma do nascimento, nos primeiros meses de vida, quando dependíamos totalmente dos outros para nossa sobrevivência. Nas horas infinitas que passamos em silêncio, tentando usar o corpo para dizer aquilo que as palavras não conseguiam, os gestos e gritos tantas vezes mal interpretados. Nas privações mais precoces da vida, fome, sede, frio e calor, a dentição com todos seus instintos agressivos, o desmame e a frustração imposta, os tombos indescritíveis das primeiras tentativas de locomoção, o cansaço e o sono. O bife de fígado. A separação de quem amamos. A morte de quem amamos. Sentir-se fraco e invejoso dos outros. Amar quem nos decepciona.

E o desenvolvimento infantil inclue também o corpo que sempre cresce e se modifica. Que todos comentam. O peso e as medidas. Quantos novos amigos que chegaram para destruir nossos brinquedos, bater e morder, berrar tão alto quanto nós e mesmo assim continuarem a ser totalmente interessantes. Penso no conflito entre sonho e realidade, que passaremos a vida toda tentando diferenciar. Penso em como nós, adultos, estamos cuidando de nossas crianças.

Um dia fomos crianças

Porque não suportamos ver nossos filhos sofrerem nem se machucarem por tentar ousar o diferente? Diferente daquilo que achamos certo, pois queremos que as crianças se sintam felizes com a vida que lhes proporcionamos, com o lugar em que lhes colocamos em no nosso lar. Gostaríamos que elas tivessem a maturidade de passar por tantos conflitos como se já tivessem a experiência de ter passado por eles antes.

Esquecemos que fomos crianças um dia, mesmo tendo uma à nossa frente, que faz o possível para nos lembrar disso. Esquecemos totalmente da obrigação de comer sem fome, ou dormir sem sono, de evacuar no lugar e na hora determinada pelo adulto, em nome de um bom asseio, muito antes de ter o sistema nervoso concluído.

E pior, aqueles comportamentos da criança que não conseguimos explicar, que nos causam vergonha diante do vizinho, exigimos delas que os camuflem, obrigando-as a mentir para nos causar prazer com seu silêncio, seus "bons modos", que são somente violências contra sua liberdade de viver e de expressar sua opinião. Depois pedimos para que nunca mintam e que compartilhem suas preocupações conosco.

Omitimos fatos com o argumento de que são muito pequenas para compreender, quando na verdade suas vidas são alteradas por nossos comportamentos e, na maioria das vezes, seriam totalmente capazes de compreender. Quantas vezes imaginamos que a criança não deveria ser capaz de se revoltar contra nós, de entrar em crise contra o sistema imposto, em nome de uma boa educação. Momentos em que esquecemos dos princípios básicos da democracia.

Mas elas não esquecem e acabam descobrindo a verdade. De que o bem nem sempre é recompensado e o mal punido. De que os adultos agem diferente do que dizem.

Obediência imposta

A infância tem um peso crucial na vida, como um carimbo impregnado na carne. E nós, adultos, gostaríamos que tantas decepções não contassem nada. Que tudo isso não fosse absolutamente nada. Que não refletisse no sono, na fome, nos deveres escolares, nas relações com os amigos, com a família e com elas próprias. Que simplesmente obedecessem por se tratarem de crianças. Que nada implicasse na vontade delas de viver, no seu psiquismo, no seu corpo.

Se, ao contrário, em vez de nos desesperarmos com as crianças por seus erros, respeitássemos seu sofrimento, as amássemos em suas quedas, as ajudássemos quando elas nos pedem para encontrar somente nelas mesmas a confiança para atravessar os obstáculos, suas lutas seriam sempre fecundas.

Se todas essas provações da infância fossem contidas no meio familiar, resolvidas com sucesso, então poderíamos assistir a um desabrochar de vida e de confiança. Elas então descobririam que o amor à vida vai mais além do sofrimento. O amor a si mesmas, além de seus fracassos, e o amor aos outros, além das decepções que eles podem provocar. E nós teríamos descoberto acima de tudo, o prazer de cuidar bem.

Dra. Evelyn Pryzant
Psicóloga