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Desejos na gravidez

Por que as grávidas sentem desejos? Essa questão desperta a curiosidade de profissionais da medicina convencional e alternativa e ainda gira em torno de explicações empíricas, vindas das teorias dos avós, pais e outros leigos.

São inúmeras teorias: há aqueles que defendem que os desejos das grávidas estão diretamente ligados ao fato de o bebê ficar próximo ao estômago da mãe. Outros acreditam que a vontade de comer na gravidez certos alimentos não passa de pequenas brincadeiras causadas pelas primeiras imaginações do feto e existem pessoas que procuram explicações mais espirituais, creditando a origem dos desejos à energia gravitacional, por exemplo.

No entanto, para Silvia Regina Piza, chefe do setor de Obstetrícia Normal da Santa Casa de São Paulo, esse fenômeno tão decorrente durante os nove meses da maioria das gestações acontece devido às adaptações emocionais, orgânicas e funcionais pelas quais a mulher passa quando engravida. "A gravidez, assim como a adolescência e a menopausa, é um período de crise biológica para a mulher.Os desejos nada mais são do que manifestações do que chamamos de mecanismo de ambivalência, a forma como a mulher expressa a sua ansiedade, o que é natural nesse estado", explica a obstetra. De acordo com a medicina tradicional, os desejos na gravidez são igualados a qualquer mania comum a mulheres grávidas e são efeitos totalmente individuais, como o aumento da sensibilidade, a vontade de comer mais ou de fazer certas coisas que não se fazia antes.

Os desejos na gravidez podem ser das mais diversas naturezas, desde alterações alimentares radicais, como no caso de mulheres vegetarianas que, ao ficarem grávidas, enchem a boca dágua só de pensar em um bife de picanha, ou de gestantes que acordam o marido de madrugada com vontade de comer doce de leite com queijo minas da fazenda, até aquelas que sentem vontades muito esquisitas, como devorar um punhado de terra ou, pasme, até beber o sangue do marido!

"O limite da normalidade do desejo na gravidez é tudo aquilo que faz bem à gestante e ao bebê. Sempre que chega uma grávida em meu consultório com vontade de comer cal e tinta de parede, por exemplo, procuro acolhê-la da melhor forma e mostrar pela razão que não seria saudável fazer isso e que essa ansiedade pode ser controlada", conta a Dra. Silvia.

O outro lado da moeda também deve ser exibido com atenção. Ainda que relacionados ao fator emocional, os prejuízos por não satisfazer os desejos das grávidas podem, sim, afetar mães e bebês, mesmo que de forma diferente do que profetizam as crenças populares. "Como se trata de uma instabilidade emocional, ao invés de a criança nascer com o rosto no formato de uma rosquinha ou com um sinal de amora na pele (como nossas avós diriam), não suprir essa forma de manifestação da ansiedade exacerbada pode trazer à tona para a grávida sentimentos como rejeição e depressão. Da mesma forma, um desejo não atendido pode ser superado e esquecido, sem nenhum problema, depende de cada caso", afirma a médica. "É papel do pré-natalista orientar a mãe e detectar, mesmo através de uma depressão causada por um desejo não atendido ou mais estranho, se ela precisa de um acompanhamento psicológico mais próximo", complementa. 

Assim, um bom conselho às pessoas que convivem com mulheres grávidas é tratar os desejos na gravidez com compreensão, o que não significa necessariamente atender a todas essas vontades, mas entender o seu porquê, as suas causas. Por trás delas está também a estabilidade emocional de uma futura mamãe.