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Depressão pós-parto: quando a alegria da maternidade transforma-se em tristeza

Para a maioria das mulheres, a maternidade é um estado de graça que as deixa iluminadas. Mas há momentos em que os sentimentos não são os mais felizes e a harmonia do lar feliz dá espaço à tristeza e ao cansaço.

Nem toda parturiente depara-se com a maternidade de maneira tão entusiasmada e tranquila. No Brasil, cerca de 20% dessas mulheres estranham tanto a realidade de ser mãe, que passam a não aceitar a criança e "mergulham" em uma profunda melancolia.

Essas mães, principalmente as de "primeira viagem", sofrem de depressão pós-parto ou puerperal. A depressão pós-parto é um processo de tristeza sem causa aparente, que acomete mulheres que acabaram de ter bebê, causando cansaço, desânimo e até isolamento.

De acordo com o psicólogo Diego Amadeu, a depressão pós-parto pode resultar de várias situações. Mas, para ele, um dos maiores motivos para a depressão pós-parto  tem a ver com nossa cultura. Isso porque as mulheres, principalmente as ocidentais, têm a ideia de que a maternidade é um momento de plena felicidade, sem problemas, e que a vinda de um filho supera tudo.

As gestantes preparam o corpo e a casa para receber o novo rebento, mas podem esquecer de preparar seu lado emocional. "Um bebê muda muito a dinâmica familiar, e nem sempre a mulher tem consciência disso".

O psicólogo defende que as alterações hormonais também influenciam esse estado. "O desligamento físico entre mãe e bebê também serve como mote. A mulher vive uma espécie de luto e tem a sensação de que perdeu o filho para o mundo". A falta de interesse pelo bebê, pelos afazeres da casa, pelo marido e por si mesma levam essa mulher ao isolamento, a um cansaço físico e a uma constante apatia em relação às coisas boas e ruins. "Quando ela reconhece seus descontentamentos, fica frustrada por não entender porque não está tão feliz".

A depressão pós-parto também pode induzir a mulher a um círculo vicioso. "Ao não aceitar o bebê, ela sofre por julgar se menos mãe, tem vergonha da família e de si mesma", afirma Amadeu. Para o diretor do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, o obstetra dr. Arnaldo Cambiaghi, a dificuldade da mulher em encarar a nova vida é o que predomina. Atuando há mais de 25 anos na área, Cambiaghi revela que há casos em que as mães agridem os filhos, em busca de recuperar a vida anterior e a própria personalidade.

O médico explica que esses casos extremos estão classificados como depressão pós-parto de grau severo e necessitam de tratamento psicológico e clínico, com administração de remédios antidepressivos específicos, para não prejudicar a amamentação. Os casos mais leves requerem apoio psicológico.

Tipos de distúrbios


Há relação entre a depressão pós-parto e as mulheres com natureza mais melancólica, com histórico depressivo ou de transtorno emocional. Especialistas mostram que há probabilidade maior quando a mãe apresentou sintomas depressivos durante a gravidez. Gravidez indesejada, falta da presença do parceiro, desconforto perante a família e dificuldades financeiras também podem contribuir para um diagnóstico de depressão e outros problemas.

O psicólogo Diego Amadeu afirma que algumas mulheres costumam confundir outros estados de tristeza e euforia com depressão pós-parto. Nem sempre a irritabilidade ou a angústia caracterizam a depressão pós-parto.

Há três tipos de distúrbios puerperais. A tristeza materna é a mais recorrente e acontece nos primeiros dias após o nascimento do bebê. A mulher sofre alterações de humor como irritabilidade, às vezes euforia e nem sempre requer tratamento médico. Já a psicose puerperal é considerada doença mental que provoca alucinações, agitação, melancolia e insônia na mulher, que pode tornar-se agressiva.

Esses casos necessitam de tratamento clínico e psicológico e, às vezes, requerem internação. A depressão pós-parto costuma acontecer até o terceiro mês de amamentação. Os sintomas são semelhantes aos da tristeza materna, só que mais intensos, causando grande cansaço e limitando atividades corriqueiras. Alguns casos podem evoluir para uma depressão crônica.

A cura

O diagnóstico para a melancolia das parturientes não difere muito do aplicado em caso mais comuns de depressão. Em alguns casos, o apoio familiar e psicológico são suficientes para que a mulher retome suas atividades diárias, acostume-se à condição de mãe e passe a cuidar com zelo do bebê. As mulheres que sofrem de tristeza materna passam por essa fase com certa tranquilidade e, em cerca de um mês, voltam à vida normal.

O médico pode orientá-la para que esse período seja mais curto e tranquilo. A família pode ajudar dividindo tarefas e fazendo companhia, e o marido tem papel fundamental. Trocar experiências com outras mães, ler a respeito, conversar com a família também ajuda.

Quando fica diagnosticada a depressão pós-partto de fato, o tratamento requer psicólogo, psiquiatra e ginecologista. Juntos, os profissionais podem contribuir para melhorar a qualidade de vida da mulher, preservar as relações familiares e conjugais e preservar a relação entre mãe e bebê. Os médicos podem optar pelo tratamento à base de hormônios associado ao apoio psicológico, realizado individualmente ou em grupos. Os antidepressivos nem sempre são recomendados, em virtude do período de lactação.

A família também não deve tomar para si todas a atividades da parturiente. "A mulher não pode ser excluída das atividades diárias, inclusive a de cuidar do bebê. Exceto mulheres que ficam muito agressivas", afirma Diego Amadeu. Para o médico Arnaldo Cambiaghi, a mulher mais bem informada corre menos risco de passar por um processo semelhante. O médico, que lança no segundo semestre o livro "Grávida Feliz, Obstetra Feliz", defende que, quanto mais conhecimento de realidade materna e das obrigações a gestante tiver, mais tranquila ela vai ficar.

Essa tranquilidade faz bem ao bebê e ao relacionamento entre mãe e filho. Outra coisa importante é reconhecer que o problema não está na criança, mas no comportamento da mãe diante da mudança de vida. Para voltar aos braços da mãe saudável e sem traumas, durante este período, a criança precisa receber carinho e afeto de outro familiar. Na maioria das vezes, o laço é reestabelecido e a mulher pode acompanhar o desenvolvimento do filho tranquilamente.

Mais informações

O Dom da Maternidade - 10 Verdades para Todas as Mulheres
Autor: Chérie Carter Scott
Editora: Rocco

Depressão Pós-Parto
Autora: Erika Harvey
Editora: Ágora

Luto Materno e Psicoterapia Breve
Autora: Nely Klix Freitas
Editora: Summus

Sites:
www.maternidadeativa.com.br
www.ipgo.com.br