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Conflitos familiares


 

Impasses e conflitos são inevitáveis e inerentes à condição humana e não poderão ser inteiramente eliminados das relações significativas como é o caso de vínculos mais íntimos entre pais e filhos, homem e mulher, que geram emoções como ciúme, rivalidade, raiva, carinho, medo. Essas emoções estão relacionadas às necessidades fundamentais do ser humano de ser amado, cuidado, atendido e valorizado.

Quem de nós já não ouviu coisas do tipo "você colocou mais coca-cola no copo dele!" ou "agora é minha vez de escolher o programa de televisão!"?

É muito importante reforçar que a existência de conflitos não é necessariamente ruim. Muitos de nós criamos a imagem ideal e perfeita do relacionamento familiar e, portanto, nos assustamos quando surgem brigas e desentendimentos. E tentamos evitar o conflito a qualquer custo.

Muitas vezes, um relacionamento sempre harmonioso é muito mais frágil que um vínculo onde frequentemente surgem pontos de discordância. Enfrentar e resolver situações conflitivas pode ser um processo bastante enriquecedor para as pessoas envolvidas, facilitando o crescimento pessoal e o aprofundamento dos vínculos.

No dia a dia, observamos que alguns fatores são responsáveis pelo surgimento dos conflitos: as diferenças de necessidades, desejos, atitudes e pontos de vista entre as pessoas. Na relação pais e filhos, e também em outros relacionamentos, os conflitos que surgem são, muitas vezes, resolvidos de forma autoritária ou permissiva. O ponto comum de ambas as formas resulta em ganho para uma pessoa e perda para outra.

Situações comuns

O autoritarismo se faz presente quando o pai ou a mãe impõem suas decisões, soluções e vontades arbitrariamente, enquanto as necessidades e vontades da criança permanecem cronicamente insatisfeitas. Muitos pais temem a ideia de que se forem flexíveis, carinhosos e afetuosos os filhos não lhes terão respeito.

Confundem afetividade com moleza e carranca com firmeza. Na atitude permissiva, a criança detém o poder, dominando os pais, sempre insatisfeitos e ressentidos porque não dão lugar às suas necessidades e desejos. O sentimento de culpa é solo fértil para a permissividade. Os pais sentem-se permanentemente em débito para com a criança, com o dever de compensá-la ou indenizá-la, fazendo-lhe todas as vontades.

Em ambos os casos, a resolução de conflitos propicia a criação de um campo de batalha onde pais e filhos disputam o poder.

Há, porém, uma forma da qual eu sou especialmente partidária que é a resolução conjunta ou a negociação para resolver conflitos. Nesses casos, o poder será compartilhado e a solução atenderá as duas partes. A atitude essencial é o respeito pelas próprias necessidades e pelas necessidades do outro.

Resolvendo problemas

Gustavo, de 5 anos, adorava comer biscoitos, salgadinhos e chocolates o dia inteiro. Isso estava prejudicando seu apetite. A mãe, aflita, não queria proibir ou esconder as guloseimas, mas também não achava saudável a forma como seu filho se alimentava. Um dia resolveu conversar com Gustavo e dizer que aquela situação não podia continuar. Pediu que ele sugerisse uma solução e qual não foi a sua surpresa quando Gustavo disse: 
- "A gente pode combinar que eu só vou pegar as bolachinhas depois de comer um pouco de batatinha e bife tá bom?"
Para atuar na resolução conjunta, evidentemente é preciso que acreditemos na possibilidade da criança ajudar a encontrar soluções.

Na medida em que os conflitos são resolvidos conjuntamente, a busca de soluções passa a ser um processo criativo: não existem fórmulas ou receitas que digam qual a melhor maneira de resolver determinadas situações (por exemplo, qual é a melhor hora para uma criança dormir, quanto tempo deve ficar vendo TV etc). O fundamental é que cada família descubra qual a solução que melhor funciona em determinado momento.

O uso consistente dessa forma de resolução, traz a longo prazo, efeitos muito benéficos:

  • estimula a criatividade e a tomada de decisões;

  • estimula a criança a refletir sobre os seus sentimentos e os dos outros;

  • desenvolve na criança a capacidade  de entender e procurar satisfazer o outro sem renunciar a si próprio;

  • estimula a assumir a responsabilidade e o compromisso de cumprir os termos do contrato;

  • diminui os comportamentos de birra, rebeldia e hostilidade.

Crianças pequenas nem sempre são capazes de criar soluções. É preciso decidir por elas ou sugerir alternativas, desde que haja respeito pelos direitos da criança e pelos direitos dos pais.

Tania, de 3 anos, assim que saia na rua pedia colo. Já estava ficando grande e pesada para andar no colo o tempo todo. A mãe sentia-se cansada e irritada por acabar cedendo sempre. A situação se resolveu quando a mãe combinou com a sua filhinha que ela andaria um pouco no chão e um pouco no colo, para que nenhuma das duas ficasse cansada.

O conflito não é necessariamente negativo ou anormal. É uma dificuldade a ser resolvida. É um gerador de energia criativa para melhorar as situações, um motor para a mudança, uma grande oportunidade para o crescimento e enriquecimento pessoal. É preciso encará-lo de frente !