Comportamento das crianças: mimar os filhos
O objetivo da criança que grita, esperneia e se joga no chão é chamar atenção, seus pés estão cheios de irritação e batem, sua boca cheia de gritos que não sabem dizer do que realmente sofre. Ela ainda não sabe conversar sobre sua dor, nem compreendê-la, não lhe foi ensinado.
O que os pais, os adultos, não sabem é que desde seu nascimento, um bebê é um ser de linguagem e que muitas de suas dificuldades, logo que lhe são explicadas, encontram sua resolução no melhor desenvolvimento possível. Por mais nova que seja, uma criança a quem o pai ou mãe falam das causas, conhecidas ou supostas, de seu sofrimento, é capaz de suportar a dor, ganhando confiança em si e em seus pais. É assim que param de gritar e passam a pensar.
O fato é que a criança se sente o centro do mundo, têm a impressão de ser a própria causa de tudo. É a imaginação infantil, não se pode retirá-la delas. Se acredita ser a causa é porque deseja ser a causa. A crença também é um desejo e o verdadeiro desejo é sobrepujar o coração da mãe, diante de qualquer coisa que se revele um intruso na relação. Não é à toa que as cenas mais escandalosas acontecem nos shoppings, na casa da tia, na porta da escola, para desespero das mães. O que ela pede é amor, incondicional.
Para a criança é um grande sofrimento descobrir que mamãe é do papai e vice-versa, pois quando se sente excluída lhe parece impossível acreditar que mesmo assim continuará a ser amada, experiência esta que irá se estender para todas as outras circunstâncias da vida.
Os pais que estão coesos no seu amor, impõem esse limite com tranquilidade. Essa é a base de tudo, só podemos crescer através da falta, a criança só fala quando não falam por ela, só é capaz de andar quando está sozinha apoiada sobre suas próprias pernas. Se pensamos em educar, deveremos pensar a longo prazo.
Penso numa criança, não num bebê no seio da mãe, protótipo de todas as outras relações amorosas futuras. Falo da criança que continua a se comportar como se fosse um bebê. Parece-me que muitos pais continuam, sob o pretexto de estarem atentos a seus filhos, a mantê-los numa situação de dependência. A mãe que mantém está situação, mesmo contra sua vontade consciente, provavelmente não tenha se desenvolvido muito no passado, inserida num meio social de relações satisfatórias, a tal ponto que não pôde continuar sua vida de adulta. Na maioria das vezes, são mães que não ousam deixar o filho viver frustrações.
Por seu lado, os homens acham que é tarefa da mãe acalmar a criança. Não ousam impor ao filho seus limites. Quando isso acontece, é porque os pais são cúmplices. É preciso dar confiança ao pai em sua atitude castradora e explicar à mãe que seu comportamento tem o efeito de prolongar um infantilismo de seu filho e dela própria.
Mães que se tornaram escravas de seus filhos ao longo da primeira infância não deixam de lado o papel de peão e vão desgastando suas relações até dizerem: "não aguento mais". Quanto ao filho, se converte em carrasco da mãe porque ela o transformou nisso. Mais tarde, diante dos distúrbios de caráter, das sucessivas descompensações psicossomáticas, dos diversos sintomas de angústia ou de rejeição, são levadas para consultas especializadas. Trata-se, frequentemente, de problemas emocionais complexos, enraizados nos adultos que se tornam pais repetindo comportamentos dos seus próprios pais.
Eles amam seus filhos, mas não os compreendem, não sabem, ou não querem, em função das dificuldades de suas próprias vidas, pensar nas dificuldades psíquicas por que passam, nos primeiros anos, seus filhos e filhas, que são seres que desejam, que têm necessidade de segurança, de limites com amor, de alegria e de palavras, muito mais que de cuidados materiais ou de higiene alimentar e física.
Não se tem um filho só para ter um bebê, senão seria como brincar de boneca. É preciso que ambos os pais desejem o filho, mas também é preciso que saibam que, quando o bebê nasce, é ele que os transforma em pais. A partir daí não é mais um bebê. É um ser humano que cresce, que lhes abre horizontes. É isso que faz evoluir um casal que já se entendia bem, mas que tinha velhos hábitos, acostumados como estavam a suas vidas.
O que o adulto quer é que seu filho se torne um menino bem educado. Quando se pede a uma criança para ser bem comportada, ela não compreende absolutamente o que isso quer dizer, a não ser ficar imóvel ou realizar tarefas, o que significa não ter iniciativas próprias. A criança não é educada nem crescida e se defende contra isso ao mesmo tempo que os pais gostariam que ele fosse crescido, mas só pelo lado policiado.
A criança é bem comportada quando é alegre, quando fica ocupada, pode falar daquilo que lhe interessa e, principalmente, não se sente culpada. Não é mimar que é importante, nem enchê-los com beijos melados. Melhor seria jogar um jogo, fazer um doce, ter conversas interessantes com elas, mostrar-lhes as regras da vida, isto é educar uma criança, não acariciá-la como um ursinho de pelúcia, mas iniciá-la na vida prática, interessar-se e formar sua inteligência, guardar os segredos que ela lhe confia.
Não é a sedução nem a chantagem emocional. É dar de coração seu tempo a uma criança, fazendo-a respeitar seu corpo e se respeitando diante dela. Existem mães que ensinam seus filhos a cantar, que os fazem aprender jogos inteligentes, que lhe contam histórias, mostram fotos antigas, explicando-lhes como era quando eram pequenas. As crianças ficam muito felizes ao ouvir falar da maneira pela quais seus pais foram educados, isso lhes dá, principalmente quando é muito diferente, possibilidade de distância em relação à maneira pela qual elas mesmas foram educadas em casa. Isso lhes permite também compreender os colegas cujos pais agem de maneira diferente da dos delas - coisa da qual se dão conta perfeitamente.
Tomar conta de uma criança dá trabalho, mesmo se é feito com muita afetividade. O que importa é que a criança aprenda a se cuidar sozinha, se tornar ela mesma, em seu tempo e espaço próprios, com suas experiências. O que não se deve fazer é beijá-la depois de um momento de raiva, para apagar o mau momento. É preciso que se fale com uma voz mais doce e rir com ela. É sempre preferível falar do que dar razão às comoções, sejam de cólera ou de ternura, essas são mais animais que humanas.
Nos apartamentos, as crianças não tem mais muita coisa a fazer com os elementos naturais. A vida é a água, a terra, as árvores, as folhas. As crianças pequenas têm necessidade de serem agressivas de uma forma indiferenciada, existem outras brincadeiras em que ela possa correr, rir. Uma criança tem necessidade de movimentos.
A criança que é realmente amada, não se sente inferior, ao contrário, fica orgulhosa quando confiam nela. Não estamos nunca totalmente preparados para a surpresa que representa um novo ser humano. Podemos impedir o nascimento de ocorrer, mas não podemos saber que tipo de ser humano surgirá do encontro de dois outros seres.
Amar é ajudar o outro a se desenvolver e se, na família, ela puder descobrir a alegria de viver, mais tarde agradecerá aos pais por isso.
*Dra. Evelyn Pryzant