Avós e netos - uma relação sem limites
"Avós só estragam a criança"! Esse pensamento permeia a mente de muitos pais cujos filhos convivem com os avós. Mas, apesar das aparências, a relação permissiva entre avós e netos não tem nada de prejudicial, pelo contrário, pode e deve ser aproveitada pelas crianças. De acordo com a psicóloga do hospital Beneficência Portuguesa, Silvana Martani, os papéis de pais e avós são muito distintos e se isso ficar muito claro na família, a criança saberá discernir o que pode e o que não pode.
"O papel dos avós é o de curtir a criança, de permitir que se coma aquele pedaço de bolo na hora do almoço. O passeio à casa da avó deve ser uma festa para o neto". O que tem acontecido é que cada vez mais, as avós têm feito o papel de mãe. "Por conta da necessidade de trabalho das mulheres, muitas avós tornaram-se a segunda mãe das crianças e aí a relação fica confusa. A avó fica responsável pela educação, pelos limites e regras, o que gera uma confusão na cabecinha do pequeno", explica Silvana.
A relação de afeto, cumplicidade e carinho entre avós e netos marca a vida da criança, com lembranças positivas da infância. "A avó é aquela que conta histórias da família, de quando a mãe era criança, de como era a vida em outros tempos. É uma referência importante para o pequeno, que se não for exercida pelos avós, provavelmente será por uma outra pessoa da família ou um amigo muito próximo", diz a psicóloga. Uma outra função da liberdade permitida pelos avós é aliviar a carga de tensão que existe no processo educacional. "Educar não é uma tarefa fácil, nem para os pais, nem para as crianças.
O pequeno não pode conviver exclusivamente com pai e mãe, onde tudo é proibido e as regras são, na maioria dos casos, as mais rígidas. A presença da avó serve para relaxar pais e filhos". Quando a relação de vós e netos é regida por essa amizade incondicional, a criança verá essa pessoa como um porto seguro, uma referência de serenidade, experiência. "A avó amiga não julga as atitudes da criança, e sim dá colo, dá conselho. Já na adolescência, os jovens, muitas vezes, buscam o apoio dos avós em questões delicadas desse período da vida e contam segredos que nem sempre contam para os pais", lembra Silvana.
Para o psiquiatra infantil, Flavio Gosling, a única ressalva nessa relação é quando as opiniões de pais e avós são muito divergentes, o que pode confundir a criança. "Os pais e avós têm que manter uma comunicação linear com o pequeno. Embora os limites sejam mais elásticos em um caso do que no outro, o que não pode acontecer é a situação de total contradição.
Muitas crianças com dificuldades emocionais, escolares e de aceitação de limites são fruto dessa confusão no ambiente doméstico", alerta Gosling. Em uma coisa os profissionais concordam. As crianças que têm avós do tipo "Dona Benta" podem e devem aproveitar dessa companhia agradável e de toda a experiência que essa pessoa pode passar para a criança. "A presença da avó é importante em todos os momentos da vida da criança", diz a psicóloga.