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Animais de estimação e bebês


 

Toda família que vai receber um novo membro precisa se preparar. Desde a arrumação do quarto do bebê até as novas rotinas que os pais e irmãos terão de seguir, várias adaptações fazem parte dessa preparação. E quando se trata de um membro da família que não é humano, então, pode ser que esta adaptação seja ainda mais complicada. 

Animais de estimação podem ter imensas dificuldades provocadas pelo ciúme. Afinal, em uma casa sem crianças, os bichos costumam ser os donos do pedaço. Cabe aos donos administrar a situação para que a chegada do bebê não se torne motivo de encrenca.

Como mudar a rotina

Segundo Valéria Oliva, veterinária e professora da Unesp Araraquara, quando o animal de estimação vem antes do bebê é normal que ele sinta seu espaço invadido pelo bebê. E, dependendo do grau de atenção que recebe dos donos, pode se sentir rejeitado com o bebê exigindo tantos cuidados. Isso pode resultar em problemas que vão desde mau comportamento até doenças de fundo emocional.

Para que o estranhamento causado por um novo morador na casa seja o menor possível, ela recomenda que eventuais mudanças de rotina sejam introduzidas ainda durante a gestação. "Se um cão vive dentro de casa e vai ter que passar a viver fora por recomendação do pediatra, essa mudança deve ser feita gradativamente", afirma. A recomendação também vale para outros hábitos, como subir no sofá, entrar nos quartos ou permanecer na cozinha durante as refeições dos donos.

Outra precaução apontada é permitir que os animais de estimação participem dos preparativos da chegada do bebê. "Os donos devem deixar os animais de estimação entrarem no quarto, cheirarem o berço e os móveis novos, assim eles não estranharão tanto." Outra coisa que deve ser feita também de forma gradual é a eventual mudança nos hábitos de higiene, como o aumento na frequência dos banhos tomados pelo animal.

"Existem coisas que não são permitidas em casas com crianças, como brincar na rua e voltar sujo. Um animal é capaz de modificar esses hábitos, mas ele não pode associar isso ao novo ser que chegou à casa", afirma. 

Cão e bebê em sintonia

Suzi, uma cadelinha whippet de cinco anos, era, de fato, a rainha de sua casa. Durante quase três anos, ela foi a "filha única" de Fúlvia Andrade, 29 anos. A dona e o marido chegaram a ter dúvidas entre quem deveria vir primeiro: o bicho ou o bebê. "Optamos pela cachorra porque ela cresce rápido, fica mais calma. Assim, seria mais fácil adaptá-la a uma criança."

A chegada de Letícia, hoje com dois anos, foi tranquila. "A Suzi sempre gostou de crianças. É uma raça dócil, embora muito tímida. Por isso nunca tivemos receio de colocar as duas em contato", conta.

A princípio, a mascote aceitou bem a presença de Letícia na casa. "Quando chegamos com o bebê, ela agiu como se fosse um presente para ela", conta Fúlvia. Os pais permitiram que a cachorra cheirasse a criança e, gradativamente, criasse um vínculo de amizade. Mas nem tudo foi fácil; Suzi, que sempre foi obediente e educada, demonstrou ciúme por meio de atitudes atípicas, como destruir objetos da casa. 

"Tivemos que mudar bastante a rotina com ela e encurtar os passeios. Quando percebemos que ela estava reagindo mal começamos a dar mais atenção, e ela se acostumou." O problema foi resolvido com observação e paciência. Fúlvia reitera as recomendações dadas pela veterinária Valéria Oliva: "É só mudar a rotina do animal de estimação antes do nascimento da criança, para que ele não associe uma coisa à outra. E, acima de tudo, nunca deixar o animal de lado."

Animais de estimação e bebês - sempre cabe mais um

 

A casa de Luiz César Pimentel, 39 anos, já era tumultuada antes do nascimento de sua filha Nina, de dois anos. Ele e a mulher dividiam o apartamento com três gatos persas e dois cachorros - um cocker spaniel e um chow chow.

A família é tão apegada aos animais que encarou as mudanças geradas pela chegada da criança de um ângulo diferente do habitual: "Nós já tínhamos uma rotina com os bichos, adaptamos a Nina a esta rotina", conta. A família está à espera de mais uma menina.

O pai de Nina lembra que demorou um tempo até os cães e gatos darem conta de que havia um ser humano a mais na casa. Mesmo quando perceberam, a postura nunca foi de afronta, e sim de companheirismo.

"A gente sempre permitiu uma proximidade grande, mas sem exagero. Não deixávamos ela botar a mão na boca dos cachorros, essas coisas", diz Pimentel. Nina só começou a interagir com os animais por volta dos nove meses, quando começou a engatinhar.

O pai conta que ela aprendeu com o tempo a brincar com os animais. "Ela anda atrás deles, puxa o rabo. Quando um gato está no meu colo, ela vem e deita junto. A reação deles é como se dissessem ah, é só uma criança mesmo", conta.

O único "problema" gerado pela interação com os bichos é que agora, conta Pimentel, Nina não tem medo de nada. "Quando vamos ao sítio, ela quer abraçar os gansos", diz. O pai também vê influências positivas no vínculo que a filha tem com os cães e gatos: "Ela aprende as coisas mais rápido quando a gente incorpora um animal no processo." 

Para que a interação entre bichos e bebês seja feita sem maiores traumas, a única recomendação de Pimentel é agir com naturalidade. "Se a integração entre as duas rotinas for feita de forma suave, o animal nunca vai se sentir preterido ou diminuído, e não vai reagir com mágoas e ciúme do bebê."