Amamentação na era da informação
As mudanças estruturais da sociedade, como a industrialização, urbanização, desagregação das grandes famílias e a intensa propaganda de leites e outros alimentos infantis contribuíram decisivamente para a redução da amamentação por leite materno, avalia o pediatra Hamilton H. Robledo, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Os efeitos nocivos do desmame precoce começaram a ser divulgados pela literatura científica e meios de comunicação a partir da década de 70. Desde então, o que se vê é uma batalha de organizações internacionais, governos, ongs e cidadãos para a retomada do aleitamento materno. Uma das formas de ação encontradas pelos defensores da amamentação para fazer chegar às gestantes e mães informação segura a respeito do assunto é a comunicação.
Uma das frentes de ação para o resgate da prática da amamentação é a Semana Mundial da Amamentação, realizada anualmente e coordenada pelo Ministério da Saúde com o objetivo de promover, proteger e apoiar o aleitamento materno.
A amamentação e a desinformação
O doutor Robledo afirma que a desinformação, preconceitos e a falta de confiança no leite materno ainda são as razões mais fortes para muitas mães não amamentarem seus bebês. Leite fraco, que parece água? Bebê sempre com fome? "Nada disso. Perdeu-se o saber interno, a intuição, os rituais da cultura da amamentação." Para o especialista, "não existe leite materno fraco" e a melhor forma de comprovar isso é através de um acompanhamento sistemático da evolução do peso do bebê. "Uma grande parte da luta para proteger, promover e apoiar a amamentação tem sido colocada à luz do controle da informação", assinala o pediatra.
A intenção dos profissionais que apoiam e participam da Semana Mundial da Amamentação é propor abordagens práticas e inovadoras para apoiar as mães que amamentam como ações permanentes, inclusive junto aos profissionais de saúde.
Uma das propostas defendidas pelo presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo é criar condições para um atendimento multidisciplinar no pré-natal, com a participação de um pediatra no processo. Mas valem todas as formas de comunicação com o público-alvo da campanha, afirma o médico, citando a utilização de diversas mídias.
Dicas preciosas para amamentação
De uma forma geral, os pediatras defendem o aleitamento materno por, no mínimo, seis meses. Nove meses seria um pouco melhor, mas o ideal mesmo é amamentar durante todo o primeiro ano de vida da criança. As mamães devem ter consciência de que nos primeiros 45 dias de vida o bebê não tem horários para mamar, o que não significa que o leite não o sustenta, mas um período de adaptação. Outros alimentos, como chá e água, não são necessários durante a amamentação.
A disposição psicológica da mãe para o aleitamento também é decisiva para se alcançar bons resultados. É cientificamente comprovado que tensões, angústia ou medo interferem na produção normal do leite, informa o especialista. Ele destaca ainda os benefícios para a mulher que amamenta, lembrando que a produção do leite impede o desenvolvimento de células cancerígenas. "Sem contar o mais importante, a relação afetiva entre mãe e filho muito mais profunda".
E a amamentação envolve também as questões estéticas, que amedrontam algumas mulheres, Robledo admite que naquelas com mamas grandes é quase impossível evitar alguma queda dos seios. Intervenções cirúrgicas, seja para aumentar ou diminuir o tamanho dos seios, diz, não interferem no processo de amamentação porque não afetam os mecanismos de produção de leite (alvéolos, ductos e ampolas). "É o momento de pensarmos, de forma criativa, em estratégias para divulgar a importância do aleitamento materno e para participarmos ativamente na reconstrução de uma cultura da amamentação", diz o médico.