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Acerte na escolha da babá

Recorrente na vida das famílias modernas, a opção de contratar uma babá desperta uma série de dúvidas. Vista como uma segunda mãe, ela assume parte da responsabilidade pela educação das crianças e faz história em muitas famílias. Mas identificar quem está realmente preparado para a tarefa de babá não é fácil. A delegação de poder é grande e, se mal administrada, pode abrir lacunas de difícil conserto.

De acordo com a psicopedagoga Theodora Mendes de Almeida, a Tica, criadora do curso Guia do Bebê e da Babá, é preciso levar em conta referências de empregos anteriores e afinidades que facilitem o futuro relacionamento com a babá. Outro fator de peso é a atenção a cuidados menos tradicionais. "Aprendi que é importante a babá não apenas saber dar banho, mas também passar o tempo com a criança sem deixá-la na frente da televisão o dia todo", afirma. 

A empresária Amanda Lazzarini (31), mãe de Isabella (6), Luiza (5), e Lorena (1), acredita que a contratação de uma boa babá se baseia no instinto materno e no conhecimento pessoal. "Hoje em dia, eu só contrataria uma babá se soubesse quem ela é e tivesse certeza de que seria uma excelente profissional." Para Amanda, a babá que cuida dos seus filhos deve ajudar a educá-los e tratá-los "como se ela mesma fosse a mãe, o que é bem difícil". 

Embora nunca tenha empregado uma babá, Juliana Borba (22), estudante e mãe de Nicolas (4), e de Amelie, de 6 meses, acha que se os pais acertarem na escolha da babá, ela pode ser muito boa para a criança. "É bonito ver uma babá apegada ao seu filho, tratando-o bem, com muito amor e tudo mais." Para a estudante, mesmo que a babá seja ótima, não pode passar por cima da autoridade da mãe em hipótese alguma. Só assim é possível construir uma relação saudável.

Já na opinião da psicóloga Camila Sobral (32), mãe de Bruna (5), e Luca (2), a babá ideal é aquela que assume o papel de educadora, tem pulso firme e trabalha em total sintonia com os pais. "Se você conseguir fazer com que ela eduque as crianças usando a sua didática, é perfeito", diz. No entanto, a psicóloga afirma que esta não é tarefa fácil: "Às vezes, as mães sentem que perderam o poder diante dos filhos. O momento é crítico porque o ciúme pode nos fazer abdicar da babá". Para a psicóloga, esse é um sentimento normal, mas que precisa ser administrado. "Os pais que passam muito tempo fora de casa precisam fazer valer o período em que estão com os filhos. Se temos uma hora ao lado da criança, temos de fazer dela uma hora intensa."

Apego excessivo

 

Uma das maiores dificuldades detectadas pelas mães é traçar o limite entre pessoal e profissional. Em alguns casos, as babás podem atropelar a criação familiar e fazer as crianças desrespeitarem as ordens dos pais. Também é comum o excesso de apego entre a babá e os pequenos. Theodora Mendes, a Tica, conta que no decorrer do curso Guia do Bebê e Babá, ministrado na escola Bola de Neve, psicólogos orientam as profissionais nesse quesito.

"As babás precisam entender que são figuras importantes,que as mães dependem delas para trabalhar, mas que, ao mesmo tempo, não são as mães do bebê, são apenas suas parceiras", afirma a psicopedagoga. Segundo Tica, o papel de traçar limites cabe à mãe. "Ela precisa saber mandar e fazer a sua parte, o que não significa que essas iniciativas não possam partir também da funcionária", explica. 

Para ela, os pais precisam observar quando os laços afetivos entre babás e crianças extrapolam a normalidade. "Devemos ficar atentos aos sinais de dependência entre babás e crianças. Em alguns casos, o ideal é contratar outra pessoa", afirma Tica lembrando que afeto entre eles é importante, já que a babá é uma referência para a criança. 

Camila Sobral, psicóloga e mãe, acredita que o apego entre as babás e as crianças pode ser nocivo. "A gente não deve permitir que ocorram vínculos muito fortes. Quanto mais tempo as crianças passam com as babás, mais a imagem dela se fortalece", diz. Para Camila, é importante ter em casa alguém que goste das crianças e de quem as crianças também gostem, mas que isso não interfira no desempenho da babá e no cumprimento das ordens recebidas. A psicóloga diz que a maneira mais segura de manter autoridade é estar sempre presente na vida das crianças, para que elas saibam quem é a mãe.

Mesmo se opondo a ter uma babá para os pequenos Nicolas e Amelie, Juliana Borba não enxerga o apego como algo negativo, e atribui a culpa da falta de limites às mães. "As crianças que têm essa relação muito estreita normalmente têm pais que largam a educação nas mãos das babás", afirma. Para a estudante, as profissionais não atropelam a criação dos pais, mas os educam à sua maneira. "É muito cômodo abandonar esse tipo de responsabilidade na mão da babá. Apesar de prazerosa, é cansativa e dá trabalho." E emenda: "Mãe é insubstituível". 

Na prática

Ao elaborar o treinamento Guia do Bebê e Babá, a psicopedagoga Tica queria ensinar a estimular o desenvolvimento dos pequenos por meio de brincadeiras. "O curso vai além dos cuidados normais com o bebê, de como dar um banho e trocar uma fralda, porque isso elas já sabem; o que precisam é de algo mais." A ideia surgiu quando foi mãe pela segunda vez, em 2007, e sentiu a necessidade de ajudar a babá a cuidar de sua filha de maneira mais prática. Ela explica como funciona o curso: "Fazemos uma série de encontros com duração de uma hora e meia com sugestões de atividades para estimular os bebês". 

O conteúdo inclui desenvolvimento de linguagem, contação de histórias, cantigas de ninar e de roda, novas brincadeiras e até técnicas para fazer brinquedos em casa com materiais como sucata, de maneira segura. "Temos também o momento da massagem e do relaxamento", complementa. Segundo Tica, os resultados nesses dois anos de curso são positivos: "As mães gostaram tanto que passamos a fazer encontros também com a participação delas".

Quando a babá não é solução

A estudante Juliana Borba acredita que ninguém é melhor que seus pais para cuidar de seus filhos. Seu maior medo é que uma babá não esteja preparada para a função. "Ter uma babá é uma aposta que pode dar muito certo ou muito errado."Juliana sempre teve a convicção de que uma babá jamais estimularia o desenvolvimento de seus filhos como ela. "Quando o Nicolas era bebê e eu não trabalhava, passava o dia todo com ele, criando mil brincadeiras, estimulando a linguagem e as sensações", conta. Quando o pequeno completou um ano e meio, ela o colocou na escola. A mãe explica a razão: "Além do desenvolvimento individual, a escola estimula a questão da sociabilização, sem deixar a criança o dia todo trancada em casa vendo TV". 

Com o nascimento de Amelie, Juliana optou por trabalhar de madrugada para passar o dia com a filha. Agora que a pequena já completou seis meses, a mãe a colocou na mesma escola do irmão mais velho. No entanto, as crianças não estudam o dia todo, e nos momentos em que Juliana não pode cuidar delas, por conta do trabalho ou da faculdade, elas ficam com as avós, que se revezam no cuidado dos netos. A estudante acredita que a escola foi fundamental no desenvolvimento de Nicolas que, segundo ela, aprendeu a falar, argumentar e se expressar muito cedo. "Ele criou um extenso vocabulário logo no primeiro ano de vida, o que é algo incomum; outras crianças que conheço e ficam com babás não sabem falar direito nem mesmo aos dois anos de idade", argumenta.

Enquanto Juliana nunca cogitou ter uma babá, a empresária Amanda Lazzarini já teve várias. No entanto, por conta de experiências que não deram certo, optou por conciliar o trabalho doméstico com as crianças. Hoje, Amanda trabalha em casa e toma conta de tudo sozinha. "Desde que minha filha mais nova nasceu, nunca mais saí à noite, emagreci 5 kg e não tenho mais tempo nenhum para mim", diz. Mas, mesmo com a correria, ela afirma que ser mãe em tempo integral é uma tarefa prazerosa.

"Elas estão comendo melhor, vendo menos TV, e estou me sentindo mais presente na vida delas." Assim que se tornou mãe pela primeira vez, Amanda decidiu trabalhar em casa e cuidou sozinha de Isabella durante cinco meses. Na época, já grávida de Luiza, a empresária pediu à sua empregada que cuidasse da pequena, e contratou uma nova pessoa para os serviços da casa. Com o nascimento da segunda criança, a família procurou uma "babá de verdade".

Após trabalhar com várias profissionais, ela notou que o rendimento caía com o tempo e surgiam atitudes agressivas e desleixadas na relação com suas filhas. Com isso, desde janeiro de 2009, Amanda assumiu sozinha toda a responsabilidade do lar. Apesar das dificuldades para se adaptar à nova rotina, ela não se arrepende. "Nossa intenção agora é encontrar alguém para cuidar delas em momentos específicos, quando tivermos de sair e não pudermos levá-las junto."