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A super mãe

 

Passei dois anos tentando engravidar. Veio o bebê (meu precioso Fabrício) e, logo após uma intensa depressão pós-parto, pensei: "meu Deus, qual a razão disso? Eu ficava com peso na consciência. Desejei tanto essa criança e agora ela é um entrave na minha vida? Logo descobri que não suportava ficar longe dela, mas também não podia abdicar da minha vida".

"A responsabilidade de dirigir um grupo de empresas não foi o principal motivo que me trouxe de volta a esse gabinete", diz a empresária Élena Bettega Bonóra. Após a incrível experiência de ser mãe, Élena vislumbrou a possibilidade de realizar um antigo sonho, conforme relata nas próximas linhas. "Não queria babás, muito menos a ajuda dos outros. Queria aprender a cuidar do meu rebento sozinha. Trocar suas fraldas, descobrir por que ele estava chorando, alimentá-lo da melhor forma, entender suas ações e reações. Deveríamos nos tornar irremediavelmente íntimos. Um o complemento do outro”.

Encontrei o caminho da forma mais inusitada possível. A depressão pós-parto me fazia chorar o tempo todo e por qualquer motivo. Aterrada, senti aquela criança como um motivo de irritação em minha vida, que ironia!

O bebê dormia mal e eu o colocava para mamar à revelia. Quando ele emitia o mais insignificante sinal ou som, já entrava em pânico. Ficava à mercê daquele pequeno ser... Percebi que ia precisar de ajuda. Estava fragmentada. Sentia uma falta visceral do trabalho, no qual havia mergulhado de cabeça, desde os 15 anos de idade. Meu pai cobrava meu regresso, e eu respondia que só se meu filho fosse junto. Ele aceitou a proposta.

A Júlia apareceu na minha vida justamente nesse momento. Suas ideias, no início, me pareciam por demais mirabolantes. Ela falou em montar uma sala especialmente equipada na empresa, com uma babá para supervisionar três crianças: “eu treinei a babá para estimulá-las", disse. Providenciei tudo sob sua orientação, mas na hora H não consegui entendimento com os pais dos outros dois bebês!

Fiquei com a sala, meu filho e a babá treinada. No início, estava preocupada com o fato dele crescer num ambiente totalmente alheio ao seu pequeno mundo. Mas eu precisava trabalhar e ser mãe ao mesmo tempo! Não podia simplesmente colocá-lo em um desses chiqueirinhos e deixá-lo ali, horas a fio, sem estímulo algum.

A história de Élena Bettega Bonóra teve um "final feliz", segundo ela mesmo declara: “agradeço a Deus todos os dias pela possibilidade de oferecer isso aos meus filhos". Em um momento crucial de sua vida, essa mamãe de primeira viagem resolveu seguir os conselhos da especialista em pedagogia Júlia Martinez Manglano, que aplica aqui no Brasil um método de estimulação do aprendizado em crianças de até três anos. "Foi a solução perfeita para manter meu filho próximo a mim de forma produtiva, natural e espontânea, ou seja, educando-o desde o berço", completa Élena.

O método de educação especial para pais e bebês, criado há onze anos pelo professor espanhol Juan Valls Juliá, foi trazido para o país pelo Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento, o A&D, em São Paulo, e ganhou o sugestivo nome de Projeto Superbebê. A metodologia tem o objetivo de "alavancar" o desenvolvimento de todas as potencialidades das crianças na sua fase de maior crescimento cerebral (de 0 a 3 anos). Ela une pesquisas científicas, desenvolvidas nos EUA e Europa, em parceria com a NyA, uma conceituada empresa de investigação pedagógica espanhola que revolucionou a educação pré-escolar (vide "Aprendizagens Tempranos"), aos valores afetivos (autoestima, amor incondicional, força de vontade) da criança.

"Nessa fase, o cérebro humano tem um crescimento de 60%, onde é definida a sua capacidade de raciocínio. Se a criança for estimulada nesse período, é como se laceássemos sua capacidade mental", fala Élena. A empresária diz que tudo na sala criada para o Fabrício, agora de Jean Luca, seu segundo filho, tem uma função específica. "Existe uma rampa para ele descer cerca de 3 vezes ao dia, mas a atividade não é forçada, só é realizada enquanto ele se sente feliz, à vontade. O Jean Luca brinca, rola, escala a rampinha e gosta muito. A gente apenas o induz sutilmente.", diz.

Segundo Élena, não existem regras, tudo é muito natural. Um rolo de espuma revestido com um tecido de cor viva, compõe o cenário: "aqui ele desliza a barriguinha, apoia-se para alcançar outros objetos, e fica muito divertido. Vendo isso, comecei a brincar muito com eles nos momentos vagos. Rolávamos, nos jogando um por cima do outro e, ás vezes, em casa, ficávamos muito isolados. Esse processo mudou nossas relações de mãe e filho para o resto da vida. Hoje meus filhos possuem uma sintonia fina comigo, mas ao mesmo tempo são bastante independentes, não sei explicar como!"

Outra etapa que faz parte do método são os bits (tabelas com letras, sinais e números): você coloca a criança no chão e vai falando, por exemplo, banana, mostra a palavra, passando os quadros. Dessa forma ela cria uma identidade visual e sonora. "Isso aumenta a concentração da criança", informa Élena, observando ainda que, no início, recebeu muitas críticas por causa da questão do "estimular": "eu condenaria o método se fosse pura e simplesmente um adestramento, mas, pelo contrário, tudo é muito natural, na verdade, é como se você trocasse os brinquedos. Iria eu condenar todos os brinquedos pedagógicos, aqueles que podem trazer algum benefício, alguma evolução para a criança?"

Segundo o que T. Berry Brazelton, um dos mais respeitados pediatras da atualidade e diretor de pesquisas do Childrens Hospital de Boston, nos EUA, diz em seu livro "Momentos Decisivos do Desenvolvimento Infantil" (editora Martins Fontes), os pais não devem alfabetizar a criança "a menos que isso seja uma exigência dela". "O momento de aprender não é tão importante quanto o desejo de aprender, que parte da própria criança" complementa Brazelton.

A questão é de certa forma polêmica, já que o método do Superbebê não contempla a alfabetização pura e simples, mas processos de estímulos que visam desenvolver a capacidade de raciocínio da criança durante sua infância. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a alfabetização antes dos 7 anos de idade é tecnicamente possível, mas não necessariamente desejável. Ainda de acordo com a OMS, exigências intelectuais precoces podem ocasionar problemas de aprendizagem futuros.

Outro ponto interessante é o fato de os filhos de Élena terem se desenvolvido em um ambiente adulto. "Eles conseguiram conquistar todos aqui no trabalho e, agora, quando já podem ficar algum tempo em casa, o pessoal sente a falta deles!", diz Élena, completando: "às vezes fico com medo do que as pessoas possam ensinar a eles, mas escolhi a dedo todos os que estão aqui. São todos de confiança, além de serem meus amigos".

Para ela, a presença da babá, altamente especializada e apta a lidar com as mais diversas situações, a tranquiliza: "A maior parte da educação vem do exemplo dos pais. A base é o lar. Se o mesmo for sadio, cheio de felicidade e paz, mesmo com interferência do ambiente externo, a criança terá uma boa formação. Além do mais, chegará a hora em que meu filho terá que agir, pensar e caminhar por si só. Eles apenas começaram mais cedo".

De acordo com a empresária, o programa contemplava a presença de três crianças: "O fato de meus filhos ficarem sozinhos fazia com que, em alguns momentos, olhassem os outros bebês como se fossem extraterrestres. Pudera, estavam acostumados com tanta gente grande!"

Mas Élena reconhece que chega a hora em que os pequeninos pedem mais espaço: "Num dado momento percebi que deveria deixar o Fabrício em casa, com outras crianças. Hoje, estou começando a tirar o Jean Luca aos poucos do escritório. Vou morrer de saudades dele, mas tenho que administrar isso! Chega uma hora em que, definitivamente, a mãe deixa o filho em casa e sai para trabalhar."