A palmada é uma saída para crianças mal comportadas?
“Menino luxento, você não quer nada? Menino luxento, pois tome palmada”. Esses versos faziam parte dos livros didáticos nos anos 1960/1970. E lá estava a palmada, nas primeiras leituras que fazíamos nas escolas primárias, sendo considerada uma resposta adequada a uma criança que não queria comer o que a mãe oferecia.
Os versos ilustram a cultura que recebemos no Brasil, vinda da colonização ibérica, de que só seria possível domar as mentes se domássemos os corpos. O castigo físico tem em sua origem, a ideia de que a única forma de aprender a se comportar, passa pelos maus tratos ao corpo. Ao sentir dor, a criança ativa os mecanismos de contenção, deixando de executar uma ação considerada errada ou inconveniente.
Essa prática que perdurou durante séculos, só passou a ser questionada nos anos 1920, com o desenvolvimento da Pediatria, da Psicologia do Desenvolvimento, da Sociologia e da Antropologia Social. Tais ciências compreendem que regras de bom comportamento e de adequação social são aprendidas à medida que ensinadas pelos adultos, e não por meio de maus tratos físicos. A criança é a expressão dos modelos aos quais está exposta e convivendo.
Estudos comprovam que quem apanha precisa de mais atenção e acolhimento para superar o sofrimento e compreender as regras sociais. A criança sabe que está fazendo algo errado, mas não consegue saber ao certo o que é, porque não lhe foi mostrada a forma correta de agir.
Marilene Proença é psicóloga, membro da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE)