Autonomia: você está preparada para ensinar ao seu pequeno?

Ver o seu pequeno crescer, realizar diversas conquistas e decidir seu próprio destino é a ambição de todas as mães e todos os pais. Para que isso aconteça de forma saudável e consciente, os filhos precisam aprender uma competência essencial: a autonomia.

É importante identificar a diferença entre autonomia e independência. Enquanto a primeira se relaciona com a tomada de decisões, a segunda se refere à capacidade de executar atividades sozinho. Ambas são importantes para o seu filho, mas antes que ele possa se alimentar sem ajuda ou fazer a lição de casa sem supervisão, ele precisa querer fazer isso.

Superproteger ou poupar as crianças de situações ou tarefas mais elaboradas pode refletir negativamente no desenvolvimento, com consequências que permanecerão até a idade adulta. Isso não quer dizer que você deve entregar uma faca a um bebê que está começando a ingerir alimentos sólidos, mas sim incentivá-lo quando for o momento certo, de acordo com a sua percepção materna. Com o passar do tempo, as próprias crianças vão começar a se conduzir de acordo com as novas habilidades que desenvolvem e isso quer dizer que os pais precisarão orientá-las e avaliar se é ou não a hora para que isso aconteça.

O QUE DIZEM OS ESTUDOS

A autonomia é objeto de estudo de muitos especialistas no comportamento infantil. Para Paulo Freire, considerado o maior educador do Brasil, ela é o equilíbrio entre a autoridade e a liberdade, construída a partir das experiências pessoais e também do relacionamento com outras pessoas ao longo da vida.

De acordo com um estudo da Universidade de Montreal, no Canadá, a autonomia gera impactos no desenvolvimento cognitivo das crianças. Quando as mães dão autonomia aos filhos, é ativada a função executiva do cérebro, responsável pela memória, raciocínio, capacidade de solução de problemas, planejamento e execução de atividades.

A Universidade College London, na Inglaterra, apontou, em pesquisa, que filhos de pais que são muito controladores se tornam adultos menos felizes e com dificuldade de se relacionar com os demais. Os melhores resultados estavam associados a altos índices de cuidado, mas com baixo controle psicológico na infância, indicando que os pais devem dar apoio, mas não restringir a liberdade e a autonomia das crianças.

Já o Instituto Ayrton Senna descobriu, em seus estudos, que a autonomia é tão relevante para a aprendizagem quanto outras competências que podem ser avaliadas por meio de testes de QI. Além disso, foi revelado que o incentivo dos pais no desenvolvimento de habilidades socioemocionais como a autonomia tem influência positiva na tendência de ser organizado, esforçado e responsável.

COMO INCENTIVAR A AUTONOMIA DO SEU FILHO

Criar crianças autônomas não é tarefa fácil para os pais. Isso requer, antes de tudo, confiança e respeito mútuo, que são formados por uma relação que vai se aprofundando com o passar do tempo. No entanto, desde que ainda usam fraldas, seus filhos podem começar a pensar em suas ações.

É claro que a cada nova decisão tomada com total autonomia o coração dos pais vai apertar um pouco ao sentir que os pequenos estão crescendo, mas é preciso lembrar que um dia seus filhos vão se tornar adultos e que, quanto melhor você prepará-los para essa realidade, mais felizes eles serão.

Saiba como cultivar a autonomia dos seus filhos em diferentes etapas da vida a seguir:

COMEÇANDO A COMER SOZINHO

Quando a criança já se alimenta há algum tempo com comidas sólidas e já começa se interessar pela cor, textura e cheiro dos alimentos oferecidos, é hora das primeiras tentativas para que ela possa se alimentar sem ajuda de um adulto. Tente começar com bolachas e frutas, alimentos que dispensam os talheres. Quando elas já dominarem essa arte, podem ser oferecidos mingau ou macarrão. No início, seu filho provavelmente vai ignorar a existência da colher, mas logo aprenderá a utilizar, enquanto você se prepara para limpar o chão, a mesa e muitas roupinhas!

IDA À ESCOLA

Nas primeiras vezes que o seu filho for à escola, é claro que você irá levá-lo e entregá-lo em segurança até as mãos da professora. No entanto, conforme crescem, as crianças naturalmente vão querendo se desvencilhar dos pais, mas isso pode ser feito por etapas. Ao invés de levar seu pequeno até o lugar na sala de aula, deixe-o na porta. Quando perceber que está tudo bem, você pode se despedir no portão da escolinha. Em algum tempo, você nem precisará mais descer do carro ou levá-lo até o colégio, pois ele poderá fazer tudo sozinho.

ATIVIDADES DE LAZER

Encher o dia das crianças com atividades que muitas vezes não são muito atraentes para eles não é uma boa ideia. Será que eles realmente gostam do inglês, o balé e a natação? E se ao invés do balé, eles quiserem participar de um coral? Talvez seja hora de repensar as atividades e chegar a um acordo com os pequenos, incluindo opções que sejam prazerosas para eles, mas sem deixar de oferecer boas oportunidades para o futuro nem sobrecarregar a agenda dos pequenos.

VIAJAR SEM OS PAIS

Se o seu filho for convidado a fazer uma viagem com a família do amiguinho ou se decidir que quer viajar sozinho com os amigos adolescentes, é preciso considerar uma série de fatores, como a capacidade de realizar tarefas como escovar os dentes e trocar de roupa sozinho, a necessidade de administrar um medicamento especial ou o conhecimento para manter-se longe de drogas e bebidas alcoólicas. Esse é um grande passo para a autonomia do seu filho, mesmo que ele já não seja mais uma criança, e deve ser discutido com muita prudência.

Provavelmente seu pequeno não vai conseguir dominar todas as novas atividades logo de cara, mas as tentativas são parte do processo para estabelecer a autonomia. Como pais, é necessário ensiná-los a lidar com a decepção e continuar incentivando até que sejam capazes de mais uma nova conquista, mas sem executar as ações por eles. Quando se tornarem adultos responsáveis, eles vão te agradecer!